R. Santana
Embasado nessas observações empíricas e nas diatribes aos princípios deterministas e do livre arbítrio (determinantes do comportamento humano), é que sugiro aos meus leitores, o “princípio da possibilidade”, decerto, este princípio responderá às mais inexplicáveis questões sócioambientais, a reconceituação do bem e do mal, a sorte e o azar, exorciza o destino predestinado e diminui a força do livre arbítrio e foi sistematizado em possibilidades:
a) Necessárias;
b) Contingenciais;
c) Reais.
Entendo que a “possibilidade necessária” é a que se impõe por si, não deixa de ser, verdade absoluta. Deus é uma possibilidade essencial, existe por si, mesmo que alguém o negue, o reconhece como ideia lógica que subsiste por si. A “possibilidade necessária” está na categoria kantiana dos “conceitos puros e fundamentais à unidade dos juízos”.
A “possibilidade contingencial” é de natureza absurda, contingente, que fere as leis da razão e do bom-senso cartesiano - não confundir este princípio com a filosofia existencialista de Kierkegaard, Camus, que questionam os conflitos existenciais do homem com Deus, a morte, enfim, com sua essência. A “possibilidade contingencial” responde às coisas mais imediatas, aos fatos do dia a dia, de natureza improvável, não transcendental, não filosófica, não lógica, não determinista, mas de possibilidades existentes e reais. É uma temeridade leitor, citar exemplos aleatórios, porém, em nome do entendimento, eis aí três exemplos que desafiam à razão:
- Alguém diz que nunca morrerá de acidente de avião porque jamais o usará como meio de transporte, porém, um dia lhe cai o avião sobre sua casa e o mata.
- Alguém que não sabe nadar diz que nunca morrerá afogado porque jamais entrará num barco, numa canoa, num navio ou tomará banho em lagoa, rio ou mar, mas a natureza revoltada despeja chuvas torrenciais e afogam-no e submerge sua casa em tempo recorde... –
- Alguém de natureza cordata, eticamente correto, caseiro, do trabalho pra casa, da casa para o trabalho, que não é de briga, família, um dia é vítima fatal de uma bala perdida de um confronto de bandidos ou um confronto de polícia e bandido.
As pessoas comuns atribuirão a esses fatos inexplicáveis ao destino, à predestinação, os mais místicos, às explicações espirituais, todavia, tudo não passa do “mundo das possibilidades”, mesmo remotíssimas, do meio que estamos inseridos, nós somos as nossas circunstâncias...
A “possibilidade real” é quando as condições são reais, as possibilidades sócioambientais confluem para um determinado fim, elas dependem, somente, da vontade, do livre arbítrio do indivíduo, da sua escolha a priori, do seu foco. O filho de um pesquisador, de um cientista, por exemplo, pode ser influenciado pelo meio familiar e seguir o pai profissionalmente, todavia, ele poderá seguir uma profissão não correlata, de acordo às suas convicções de foro íntimo.
O provérbio popular que “não existe sorte nem azar, tudo depende do modo de agir”, é um aforismo reducionista do princípio do livre arbítrio, como se tudo fosse produto da vontade, do que “eu posso”, “eu quero”, que em condições reais, é provável, mas, longe de explicar aquilo que pode ou não pode acontecer, a exemplo das “possibilidades contingenciais”.
Espero que esse princípio teórico das “possibilidades”, responda aos questionamentos do homem, que ele não atribua ao destino ou à categoria de fenômenos providenciais o que ocorre independente de sua vontade, mas ao “mundo das possibilidades” que todos nós estamos inseridos.
Autoria: Rilvan Batista de Santana
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Membro da Academia de Letras de Itabuna - ALITA
Texto do meu Livro: “O homem nasce pra ser feliz?”
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