Textos


FERRADAS: O Berço da Literatura do Sul da Bahia.

R. Santana

 

     Ontem, dia 28 do mês de março do ano em curso, o acadêmico alitano Gustavo Veloso, presenteou-me com a antologia: “A voz dos Acadêmicos II”, organizado por Demóstenes Almeida, publicado pela KELPS, Goiânia ano de 2025. Nessa antologia, Gustavo contribuiu com o poema (A MORAL) e o texto em prosa (FERRRAS: DA LITERATURA À TELA DE CINEMA). Faz-se necessário dizer que Gustavo Veloso é aficionado por Ferradas, seu chão, seu bem-querer e seu amor maior. Sem exagero, sem bairrismo, ele não troca Ferradas por Nova York, Paris ou Dubai, lá, ele formou seu caráter, seu pensamento cognitivo, sua memória afetiva, seu escopo intelectual e encontrou sua bem amada que lhe deu filhos e prazer de viver.

     O poema “A moral” é uma descrença nos valores morais que norteiam a humanidade. Hoje, “a moral é um resto, uma sombra, do que foi”. Conforme Gustavo, o homem usa de princípios morais para alcançar a crença de virtudes religiosas. Porém, é no sistema de poder que a moral se esvaiu, perdida nas mãos sujas do homem. A moral não é um sentimento inato de boa conduta, às vezes, a moral é obtida pela prática normativa de imposição de conduta. E, quando a moral é corrompida na elite de poder, o povo sofre as consequências e não consegue discernir o que é verdadeiro e o que é falso e os bons costumes são relativizados.

     Para Aristóteles de Estagira que sistematizou a ética e consequentemente, a moral, no tratado Ética a Nicômaco, a moral é racional, que a busca da virtude é prudente. Para Aristóteles, a Ética não é uma ciência, mas uma disciplina da filosofia. O indivíduo para viver em sociedade, é condição sine qua non saber o que é errado e o que é certo, sua conduta tem limite escrito pelo homem e a censura internalizada de sua consciência moral.

     Seu texto em prosa: FERRRADAS: DA LITERATURA À TELA DE CINEMA, Gustavo destaca a importância de Ferradas na literatura do Sul da Bahia através das obras “Cacau” e “Terras do Sem Fim”, do seu filho mais reconhecido no Brasil e no mundo o escritor romancista Jorge Amado. Faz-se necessário dizer que Ferradas naquela época, foi polo de desenvolvimento de Ilhéus.

     Jorge Amado narrou com competência o desbravamento das terras do Sul da Bahia e a saga dos desbravadores na derrubada das matas, cabrocar as roças e o plantio dos pés de cacau. Os posseiros foram vítimas dos coronéis, pois quando não eram expulsos de suas terras pelo clavinote, com derramamento de suor e sangue, eles eram expulsos pelos caxixes. Os topógrafos (medir as terras) e os advogados especializados em falcatruas eram os profissionais daqueles tempos mais requisitados.

     Não se pode negar a importância de Jorge Amado na divulgação dessas mazelas na construção da civilização do cacau, mas seu pensamento criativo, Ilhéus é a inspiração maior na construção de seus romances do cacau, foi assim, com “Gabriela, Cravo e Canela” e “São Jorge dos Ilhéus” com seus primeiros coronéis: Horácio da Silveira, Frederico Pinto e Sinhô Badaró.

     Jorge Amado nasceu em Ferradas, em 10 de Agosto de 1912, fazenda Auricídia, naquela época, município da recém emancipada Itabuna. Filho do casal João e Eulália Amado. Jorge Amado estudou viveu em Ilhéus até os 11 anos de idade, depois foi pra Salvador estudar no Colégio Antônio Vieira, onde passou sua adolescência, juventude e vida adulta.

     Não se pode falar da origem de Ferradas se omitirmos a figura providencial do Frei Ludovico, homem de ação, mas preocupado com as injustiças sociais e exploração do homem descamisado, escravo das circunstâncias miseráveis do seu tempo. “O homem é o lobo do homem”,  "homo, homini lupus", a expressão de Thomas Hobbes que significa que o mais forte prejudica e escraviza o mais fraco numa terra de paixões e tragédias humanas.

     Em 1946 a “Atlântida de Cinema” patrocinou o filme “Terra Violenta” com base no romance “Terras do Sem Fim” de Jorge Amado e Ferradas se encaixou como uma luva na mão e foi o cenário do filme. O filme teve a voz de comando de Alinor Azevedo e a direção de Edmond Bernaudy com produção de Luís Severino Ribeiro Júnior e Lírio Panicaly e a trilha sonora foi enriquecida por Lourival Caymi.

     O elenco com atores como Anselmo Duarte, Ruth de Souza, Maria Fernanda e Grande Otelo e alguns ferradenses participaram como coadjuvantes. O “Ponto Elegante”, point de Aristides Sodré, serviu para o lazer de atores e profissionais do cinema. O povo na rua se misturava com as estrelas do elenco.

     Um fato curioso, em que a vida imita a arte, é que um ferradense conhecido, foi vítima de uma emboscada assassina e o cavalo o levou para o set improvisado da produção.

     Infelizmente, o filme “Terra Violenta” foi danificado pela ação do tempo e “morrido”. O professor Guido Araújo tentou restaurá-lo, contudo, por falta de recursos financeiros e tecnologia limitada, não foi possível. Porém, o filme permanece na memória dos ferradenses e transmitido pela tradição oral e Ferradas com o estigma de berço da literatura do Sul da Bahia.

Autoria: Rilvan Batista de Santana

Licença: Creative Commons

Membro efetivo da Academia de Letras de Itabuna - ALITA

Imagem: Google

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 29/03/2025
Alterado em 31/03/2025


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr