R. Santana
Nem sempre quem faz verso é poeta ou quem escreve é escritor. Hoje, com o verso livre, sem sensibilidade, sem rima, sem métrica silábica, qualquer pessoa se predispõe escrever poesia. Nem toda pessoa possui o dom de escrever, principalmente, literatura de ficção. Os que se arriscam, geralmente, são intelectuais frustrados profissionalmente, mas, são estudiosos e amantes das letras que sem nenhum talento literário, sem senso crítico, aventuram-se escrever romance e poesia.
Drummond, Machado de Assis, José de Alencar, Ernest Heminguay, Mário Quintana, Euclides de Cunha, Jorge Amado, Allan Poe, Máximo Gorki, José Saramago, Fernando Pessoa, Shakespeare, Fiódor Dostoiévski, Ariano Susssuna, dentre outros, eles são poetas e escritores reconhecidos e agraciados pela crítica e por sua gente. Nesses poetas e escritores, o leitor encontra a criatividade, a espontaneidade, a sensibilidade, o talento literário e a universalidade.
O livro é um produto de consumo, conforme Monteiro Lobato: “O livro é uma mercadoria como outra qualquer; não há diferença entre o livro e um artigo de alimentação. Se o livro não vende é porque ele não presta”. Não adianta se o poeta ou escritor produziu “n” livros, se não vende, não é reconhecido pela crítica ou por sua gente, o destino dele é o lixo histórico ou o lixo eletrônico atual. Não existe escritor ou poeta sem leitor. O poeta e escritor são reconhecidos pelos leitores, se não existe leitor, não existe poeta ou escritor.
Ultimamente, é comum o escritor “samambaia” que esgotado seu conteúdo, ele “trepa” no escritor e poeta consagrados para tecer comentários, reflexões (às vezes, produzir livros), para chamar a atenção de leitores incautos. Exemplo paralelo, gritante, é o cantor fracassado de música popular que muda para música gospel para manter seu canto e sua fama. O escritor que seus livros não lhe deram “feedback”, produto emperrado, ele irá encontrar respostas em obras literárias que pertencem a outrem.
Uma obra, poética ou prosa, pra ser bem sucedida, terá que ser suis generis, única, criativa e original. Faz algum tempo, adquiri um romance de um escritor da região do cacau. Não diria que a obra é um plágio, Deus livre-me e guarde, porém, desde os primeiros capítulos, lembrava-me, ipsis litteris, de “Tocaia Grande” de Jorge Amado.
Em “Tocaia Grande”, a narrativa é o desmatamento, o caxixe, os coronéis, os jagunços, o plantio do cacau, a invasão de terras, os cabarés, a prostituição e a união sexual de parentes consanguíneos. No romance “Tocaia Grande”, quem não se lembra do sanguinário capitão Natário da Fonseca, a cafetina Jacinta Coroca, o negro Castor Abduim e o comerciante Fadul Abdala? Todos que leram esse romance lembram-se, pois, é uma narrativa que prende o leitor do começo ao fim e retrata o início da terra do cacau.
O conteúdo esgotado é um desastre de venda. O livro “X” que me referi do escritor baiano, não é igual ao livro “Tocaia Grande”, no entanto, ele é parecido. Além do conteúdo esgotado, esse livro é espesso, maçudo e monótono e chato por falta de criatividade, cheguei à leitura final por esforço literário. O livro para ser bom, não tem que ser necessariamente volumoso, quantidade excessiva de páginas, na história da literatura, muito “bestseller” é pequeno, a exemplo de “O Pequeno Príncipe” de Antoine de Saint-Exupéry, “Discurso do Método” de René Descartes e “Memórias Póstumas de Brás Cubas” de Machado de Assis, acrescentaria, também, “Apologia de Sócrates” de Platão.
O objetivo deste texto não é desestimular potenciais escritores e poetas, mas lhes dizer que o “Planeta Letras” é íngrime e difícil de acessá-lo nem todos pretendentes se dão bem, alguns ficam gravitando em sua órbita sem jamais alcançá-lo, muitos egos inflados são desiludidos depois de idade decrépita, por isto, lhes recomendo humildade, autocrítica, originalidade e sempre em busca da perfeição, além da inspiração, a transpiração. No “Planeta Letras” é condição sine qua non, a habilidade, a criatividade e a vocação. Não adianta, sem vocação literária, o erudito e o intelectual insistirem morar no ”Planeta Letras”, pois, nele mora mais as coisas do coração do que da razão.
Também, não existe espaço nesse planeta para os arrogantes, os vaidosos e aqueles que se vangloriam ter chegado ao topo literário e permanecem no sopé da montanha da mediocridade, alimentando-se de um sonho perdido que não mais volta.
Porém, os amantes das letras que podem morar nesse planeta é gente de coração puro, gente generosa, gente que ama o próximo, gente ingênua e humana como Cora Coralina que publicou seu primeiro livro depois de 76 anos de idade e ouvido Carlos Drummond de Andrade seu poeta de cabeceira. Os amantes das letras não fazem versos nem escrevem pensando em obra eterna, sim, pelo prazer de escrever e gosto pela prosa e verso.
Autoria: Rilvan Batista de Santana
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Membro da Academia de Letras de Itabuna
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