Eu fico aqui no meu canto refletindo sobre fatos que marcam o dia a dia da vida contemporânea. Não gosto de saudosismo: “Ah, no meu tempo...”, sou cônscio que a sociedade evolui junto com os costumes, as condutas e a ciência humana e natural. Porém, na minha infância, adolescência e juventude, não havia a sociedade do ódio. Ninguém sabia o que era racismo ou étnico-racial, crime de racismo, injúria racial, assédio sexual, importunação sexual, estupro e homofobia (os homossexuais de todos os gêneros se comportavam discretamente), às vezes, alguém indiscreto dizia: “...fulano é efeminado”, porém, o comentário parava por aí, não se tecia mais comentário ou juízo moral.
Na infância no São Caetano (ainda moro), naquela época, as matas, as capoeiras e os cacaueiros engoliam o bairro que se iniciava com duas ou três ruas, a população era muito pobre, os negros eram as maiorias, mas, ninguém falava em preconceito, injúria racial ou outra conduta desairosa, todos viviam como irmãos. Lembro-me que entrávamos nos cacauais com gaiolas, alçapões ou bodoques pra caçar ou pegar guriatã, curió, pássaro preto, canário, etc.
È sabido que a sociedade tem uma dívida histórica com a raça negra, foram 03 séculos de tráfico e escravidão dos negros, em nosso país, depois de várias leis para diminuir a escravidão, somente, em 13 de maio de 1888, a princesa Izabel, primogênita de Dom Pedro II, acabou em definitivo com a escravidão no Brasil com a Lei Áurea. Há um resquício de pessoas de má formação moral que alimentam um preconceito atávico. Faz-se necessário dizer que alguns negros se prevalecem da Lei e usam-na com ardis e extorsões e locupletam-se de dinheiro por indenização moral e incriminam algumas pessoas sem necessidade factível.
Hoje, o negro tem igualdade de oportunidade em todas as atividades humanas, a educação é democrática para brancos e negros. Existe negro juiz, negro promotor, negro médico, negro ministro do STF, etc. Ninguém é mais escravo, sua liberdade foi conquistada com suor, sangue e sofrimento.
Por outro lado, é um fato a ascensão social da mulher através da escolaridade e do trabalho. Porém, não obstante a mulher ser capaz de desempenhar a mesma função do homem, seu trabalho é menos valorizado. O feminicídio é outro fator de preocupação social, dia a dia, aumentam as estatísticas de mulheres que morrem pela covardia e brutalidade do homem.
A mulher, também, é vítima de importunação sexual, assédio e estupro. A importunação sexual é uma ofensa moral grave, enquanto, o assédio sexual ocorre no trabalho, o chefe hierárquico usa de sua posição funcional na empresa ou entidade pública para obter favores sexuais de sua funcionária e o estupro é quando existe o coito, a relação sexual forçada. Porém, a autoridade policial tem que usar de perspicácia para não ser enganado, algumas mulheres malandras usam desses artifícios para extorquir financeiramente ou incriminar o suposto abusador com objetivos espúrios.
Foi-se o tempo em que os vizinhos colocavam as cadeiras no passeio para prosear, no tempo em que, a molecada brincava no terreiro de cantiga de roda ou de picula. Não havia maldade, ladrão só de galinha. Hoje, as pessoas de bem ficam em casas gradeadas e os bandidos ficam soltos, matando, roubando, seqüestrando e violentando os lares. Todavia, não existe segurança nem dentro de casa nem fora de casa, todos os cidadãos estão sujeitos ao ódio do malfazejo, ou, ao despreparo dos agentes do estado de uma bala perdida.
A violência não tem limite, não se mata mais por autodefesa, mas se mata pelo prazer de matar. Fala-se em mais de 53 organizações criminosas no país, afora as milícias, os grupos de extermínio e os esquadrões da morte. O sistema prisional se multiplica, mas insuficiente para demanda. Essas organizações criminosas, a exemplo do PCC, além de matar seus desafetos, lavam dinheiro em empreendimentos de fachada legal, corrompem agentes do estado e financiam políticos.
As drogas e o tráfico de armas contribuem de maneira decisiva para violência. A polícia captura armas e drogas, mas, é como “enxugar gelo”, os crimes continuam sob os mais complexos disfarces. Apreende-se aqui, os bandidos se dão bem acolá e a roleta do crime não para.
Portanto, vivemos numa sociedade do ódio, “homo homini lupus est “de Thomas Hobbes, ou seja, “o homem é o lobo do homem”. O inimigo do homem não é um animal irracional, selvagem, troglodita, mas o próprio homem que alimenta a maldade, cada vez mais, distante da religião e distante de Deus.
Autoria: Rilvan Batista de Santana
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Membro da Academia de Letras de Itabuna - ALITA