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Filosofia - R. Santana

Filosofia

R. Santana

 

     Sempre encontro o meu amigo Tanaguchi na Praça Olinto Leone, eu não tenho intimidade suficiente para procurá-lo em sua casa. Eu sei que gosta dessa praça, principalmente, nos fins de semana, aposentado, não tem outro lazer, senão, jogar conversa fora num lugar público e aprazível. Acho que Tanaguchi gosta de preservar sua privacidade, por isto, prefere prosear nos bancos de jardim: - Sócrates itabunense.

     Quando chego à praça, não espero que me procure, eu o procuro para absorver sua sabedoria e conhecimento:

     - Bom dia, mestre Tanaguchi!

     - Quanto tempo Narvil?

     - Faz algum tempo que não tenho saído de casa!

     - Posso saber o motivo?

     - Cada dia, eu decepciono-me com o outro. Hoje, as pessoas só pensam em si, em se locupletar, seus interesses inconfessáveis atropelam os princípios morais mais simples, então, quem fica em seu canto, chora os seus prantos.

     - Meu caro Narvil, nós aprendamos com os defeitos do outro. A melhor resposta para essas más condutas, é o silêncio, alguém já disse que o tempo é o senhor da razão. Hoje, quando alguém me prejudica, material, moral ou intelectualmente, deixo que o tempo resolva, às vezes, a solução tarda, mas chega – acrescentou:

     - Narvil, Deus fez os homens semelhantes, não iguais, já pensou se todo mundo fosse igual? Temos que aceitar as diferenças e aproveitar o melhor de cada um, se pensar assim, você encontrará a paz.

     - Eu sei Tanaguchi, porém, o mundo está cheio de gente soberba e orgulhosa. Nós não somos iguais, porém, somos semelhantes, existe em nosso ser uma centelha divina como a generosidade, a solidariedade, a empatia, a compaixão, o amor, também, a honestidade, a coragem e a verdade, todos estes atributos estão desaparecendo, dando lugar à maldade, à vaidade, ao egoísmo e à violência. Deus foi eterno em sua sabedoria, deu o dom da vida, também, a morte. Já pensou Tanaguchi, se o homem não morresse?

     - Sim, meu caro Narvil: o mundo já teria sido destruído várias vezes pela ação bélica do homem. Sabe quantas ogivas e mísseis balísticos as potências mundiais têm em seus arsenais? Milhares! O mundo está governado por malucos, egoístas e vaidosos que se possuíssem o remédio da vida eterna, a humanidade estaria reduzidíssima.

     - Permita-me discordar de você em relação à morte. Acredito em Jesus Cristo, Ele venceu a morte: ”Disse-lhe Jesus: "Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente. Você crê nisso?"(João 11:25-26). Os escolhidos não morrerão!...

     - Não sou ateu nem agnóstico. Creio num Criador, a natureza é perfeita, decerto, existe uma “Inteligência Universal” que criou todas as galáxias que existem, porém, para mim, morreu acabou. Somos matéria e a matéria voltará para seu estado natural. A alma, o espírito, a ressurreição e a reencarnação não passam de sublimação que o homem racionalizou para diminuir seu sofrimento, suas agruras e sua tediosa existência.

     - Homem de pouca fé, Deus não nos fez à Sua Imagem, à toa, pra nada? O homem não nasceu só pra ser pó, mas faz parte dum grande projeto da criação do Universo. Qual a palavra (Bíblia) que tem mais de 2000 anos e permanece atual? Tudo se acaba, o tempo destrói tudo, porém, a palavra de Jesus Cristo permanece viva, Ele redimiu o pecado, venceu o Diabo e prometeu a ressurreição e a vida eterna para quem Nele crê!

     - Tanaguchi, eu não possuo sua fé, sua religiosidade, sua cultura, dói-me o sofrimento do mundo, dói-me ver os maus mais contemplados com as benesses do mundo do que os bons, o mal persegue os puros de coração, não os filhos da maldade.

     - Narvil, nós não conhecemos os desígnios de Deus, “Ele escreve certo com linhas tortas”, aquilo que pensamos que é sofrimento de alguém, é a purificação de sua alma. O quê fez um recém-nascido para nascer no sofrimento? Nada! Porém, Deus reservou para cada ser um destino que lhe é revelado no fim da vida. Contudo, é necessário exercitar o poder da fé, o homem de fé está mais próximo de Deus.

     - Meu amigo, não sou ateu, nem agnóstico, nem deísta, eu sou um humilde racionalista. Não tenho o poder da fé, a minha fé não se baseia em milagre, mas, na razão, admiro o poder da fé, admiro todos os religiosos de alma pura, porém, especulo à verdade, não condutas beatas de paixões cegas.

     - Estimado Narvil, nunca é demais invocarmos o pensamento do filósofo francês Voltaire, que é o direito de liberdade, cada indivíduo tem que ter seu pensamento livre, não nascemos pra censura, todavia, a sociedade “freia” as condutas extravagantes, o nosso direito termina quando começa o direito do outro: “Discordo do que você diz, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-lo”. Você é um homem bom, logo, encontrará o caminho da fé.

     - Obrigado meu estimado Tanaguchi. Irei refletir suas palavras doravante, quem sabe se meu coração não se abrirá para as coisas desconhecidas do outro lado da vida.

     - Até logo Narvil, deixemos essa discussão pra depois.

     - Ok!

 

 

Autor: Rilvan Batista de Santana

Licença: Creative Commons

Membro da Academia de Letras de Itabuna

Imagem: Google

 

Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 06/05/2024
Alterado em 10/05/2024


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr