Textos


Plínio de Almeida - R. Santana

 

     No início dos anos 70, eu conheci o professor, poeta, escritor, jornalista, desenhista, pintor, orador e tantas outras habilidades e profissões, Plínio de Almeida, egresso desde o ano de 1951, de sua terra natal, Santo Amaro da Purificação, Recôncavo Baiano e se fixou em Itabuna. Aqui, ele ensinou História e Geografia em várias escolas, cronista de rádio, vereador por duas legislaturas e vice-presidente da Câmara Legislativa itabunense.

     Naquela época, havia 2 (dois) partidos políticos, o Movimento Democrático Brasileiro – MDB e a Aliança Renovadora Nacional – ARENA. Plínio de Almeida era filiado ao MDB, acredito pela sua amizade com José Oduque Teixeira, seu candidato a prefeito. Ele foi o vereador mais votado, arrastou mais 2 ou 3 candidatos pelos votos de legenda, Sua popularidade provinha de seu programa: “Nós pensamos assim”, uma crônica curta e deliciosa na voz de Waldenir Andrade, todos os dias às 13:00 h, na Rádio Jornal, seu trabalho no Diário de Itabuna e o exercício de magistério.

     Nesses poucos anos de convivência legislativa que tive com Plínio de Almeida, uma das coisas que me fascinava era sua oratória. Ele era um orador inteligente com vários recursos dialéticos, sua força de argumentação era inteligível, clara para qualquer audiência. Lembro-me de uma visita ao plenário da Câmara de Dom Valfredo Tepe, Plínio de Almeida foi o orador e o saudou puxando desde os pré-socráticos, Sócrates, Platão, Aristóteles até São Tomás de Aquino.

     Quando eu conheci Plínio de Almeida, ele já apresentava as marcas da velhice: cabelos encanecidos, marcas de expressão no rosto, flacidez no pescoço, porém, olhos vivos e voz de moço. Todavia, ele era de uma simplicidade, de uma generosidade, de uma amizade e de uma disponibilidade pra ensinar que se encontram, somente, nas grandes almas.

     Quando aqui, ele chegou em 1951, já tinha sido vereador em Santo Amaro da Purificação, trabalhado na Rádio Nacional, Rádio Tupy, “Diário da Bahia” e “A Tarde” e membro da Academia de Letras de Castro Alves, sócio efetivo do Conselho Nacional de Geografia, no Sul da Bahia foi membro efetivo da Academia de Letras de Ilhéus – ALI.

     Não me lembro se no de 1971 ou 1972, o presidente da Câmara de Vereadores, Rafael Bríglia, designou 4 edis para irem à Vitória da Conquista, sob a coordenação de Plínio de Almeida, para avaliar in loco o recém construído: “Centro Comercial de Vitória da Conquista”. Simão Fiterman, o prefeito daquela época, tinha interesse para que a mesma empresa construísse o “Centro Comercial de Itabuna”.

     O prefeito liberou seu carro oficial (Sedan Preto), para que fossemos conhecer o “Centro Comercial” de lá. Acostumados com o clima quente do Sul da Bahia, quando nós chegamos à Vitória da Conquista, ainda cedo, quase não descíamos do carro, o frio gelava os ossos.

     Porém, o melhor da viagem não foi fechar o contrato com a empresa construtora e construir o “Centro Comercial de Itabuna”, o melhor da viagem foi o riso solto de Plínio de Almeida, suas piadas, seus poemas decorados e seus versos improvisados. Gostava de repetir o poema de Gregório de Matos que alguém o desafiou usar a palavra “pica” sem sentido imoral:

 

               “A Uma Que Lhe Chamou “Pica-flor”

 

               “Se Pica-flor me chamais

               Pica-flor aceito ser mas resta agora saber

               se no nome que me dais

               meteis a flor que guardais

               no passarinho melhor.

               Se me dais este favor

               sendo só de mim o Pica

               e o mais vosso, claro fica

               que fico então Pica-flor.” (Gregório de Matos)

 

     Plínio de Almeida era um gênio da oratória, da palavra, usava-a como lhe aprouvesse, dominava muitos conhecimentos e muitos saberes, contudo não era afetado, homem simples, seu bem maior era fazer amigos, ele os tinha em todos os lugares, desde o centro da cidade à periferia do bairro mais distante. Ninguém o enxergava como um intelectual de escol, mas, como invulgar cronista das 13:00 h, “Nós pensamos assim”, na voz inigualável de Waldenir Andrade.

     Hoje, a Fundação Itabunense de Cidadania e Cultura – FICC lhe fez justiça e o eternizou com sua “Obra Reunida” pela “Livraria Editus” e muitos acadêmicos escolhem-no como seu paraninfo e, escola, rua e biblioteca eternizam seu nome em nossa cidade. 

 

Autoria: Rilvan Batista de Santana

Licença: Creative Commons

Membro efetivo da Academia de Letras de Itabuna - ALITA

 

Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 25/07/2023
Alterado em 30/07/2023


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr