R. Santana
Quando eu tinha 55 anos de idade, surgiram os meus primeiros cabelos brancos ainda escondidos. No primeiro momento foi um choque, percebi que o tempo primeiro dava passagem para o tempo segundo. Não é fácil para o novo perceber que o velho avança. Claro, nem sempre o cabelo branco é sinônimo de velhice, muitos jovens têm os cabelos brancos, aliás, nascem com cabelos loiros claros, com o tempo ficam brancos.
No início, eu resisti aos cabelos brancos, pensei pintá-los, mas um indiscreto amigo – os cabelos pintados não escondem a idade – fez me ver à inutilidade do eufemismo, nunca os pintei, segui seu conselho, não adianta pintá-los se o resto do corpo denuncia a idade.
Outro fator que não me estimulou não pintar o cabelo foi a dependência, o indivíduo que pinta o cabelo o faz pelo menos de quinzena se não o fizer o cabelo branco sai despontando sem licença por baixo do cabelo pintado e nas pontas. A dependência angustia, se o indivíduo por qualquer motivo não pinta o cabelo no tempo certo compromete a estética facial, visto que, o cabelo é que deixa a pessoa atraente, sem o cabelo bonito, a beleza do rosto é comprometida.
Antigamente, os produtos de beleza eram artesanais, pessoas idosas ficavam ridículas: o cabelo preto mais escuro que as asas da graúna destoavam da cor da pele ao invés da beleza, a feiúra. Hoje, os produtos cosméticos e a pintura, além do cabelo, eles limpam, amaciam e hidratam a pele, inclusive, diminuem os sulcos e as rugas da velhice.
Diz o adágio popular: “Se conselho fosse bom não se dava vendia”, por isto, eu não aconselho ninguém, pois entendo que cada cabeça é um mundo, porém, deixar o cabelo branco crescer é a convicção que cada um toma de sua história. Cada fio de cabelo branco representa anos de experiência. O cabelo branco representa vida, salvo os distúrbios precoces da melanina, o cabelo branco é um processo de anos vencidos.
O cabelo branco dá status, pressupõe-se que todo sujeito maduro já fez sua independência financeira, intelectual e moral em anos passados. A canção de Tierry “Cabeça Branca” é a realidade dessa fase da vida: “O dono da lancha é o cabeça branca / A champanhe que banca é o cabeça branca / Por que novinha na hora da selfie / Junto com as amigas o coroa nunca aparece”... Porém, o dono da lancha não importa gastar com a novinha se o prazer é maior. O saudoso “Rei da Soja”, Olacyr de Moraes, questionado por um jornalista se as novinhas da noite gostavam dele, respondeu: “Meu amigo, eu gosto muito de camarão. Vou a um restaurante e peço um prato desta iguaria. Eu não pergunto se o camarão gosta de mim... Eu simplesmente como!”, quando ele deu essa resposta ao jornalista abelhudo, o empresário tinha quase 80 anos.
O cabelo branco não representa honestidade, bom caráter, idoneidade moral, porque no dizer de Rui Barbosa: “Não se deixem enganar pelos cabelos brancos, pois os canalhas também envelhecem”. Ou seja, não se deve confiar pelo fato do sujeito ter a cabeça branca, a velhice chega para todo mundo, “quem não morre envelhece”, é a lei da vida.
Não se pode negar que a vida é um dom de Deus, portanto, envelhecer é um privilégio, muitos não tiveram o privilégio da idade encanecida, morreram no nascimento, então, moço. Alguém pode se maldizer de ter nascido, queixar-se do dia a dia, porém, nascer é um milagre e ninguém tem o direito de se maldizer, maldizer-se é negar Deus, é um pecado absoluto que é não reconhecer o Espírito Santo.
Porém, toda regra há exceção, o homem é bom, nem todo homem é canalha, por isto, respeitar os cabelos de uma pessoa é reconhecer sua história, é reconhecer quanto aquele ser representou ou representa na comunidade ou no seu grupo social. Por trás de todo homem existe um passado, portanto, é necessário que o jovem e o adulto respeitem a experiência, o passado e o presente do homem de cabelos brancos, às vezes, curvar-se diante do seu legado.
Eu abri esta crônica considerando a inutilidade de pintar o cabelo branco cujo objetivo é rejuvenescer o sujeito. Hoje, reconsidera-se a necessidade do prazer como estilo de vida humana. A saudosa Dercy Gonçalves, por exemplo, com quase 100 anos de vida, mantinha seus cabelos (peruca nos últimos anos de vida) pintados e maquiagem perfeitas, outro exemplo longevo é do empresário Silvio Santos, não apresenta seu programa de TV sem os cabelos pintados e maquiagem impecáveis. Para os hedonistas, o prazer é o bem supremo.
Leitor amigo, se pintar os cabelos lhe faz bem, é de somenos importância quem pense o contrário, aliás, cada indivíduo exerce seu livre arbítrio e seu modo de vida.
Autoria: Rilvan Batista de Santana
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