Nunca esqueci da frase filosófica do professor Lourival Ferreira: “Quem eu sou, de onde vim, pra onde eu vou”. Naquela época, eu estudava a 4ª. (hoje, nona série) série de ginásio no “Colégio Firmino Alves”. Ele gostava de repetir esta frase, quando em quando, ele nos cobrava uma reflexão escrita, cada aluno colocava no papel sua experiência do dia a dia, porém, o professor Lourival Ferreira exigia muito mais, exigia aquilo que não tínhamos pra dar por causa da idade e conhecimento, adolescentes, nós tínhamos experiências materiais e não metafísicas do estudo do “ser”, era um terreno inóspito.
Para os existencialistas a essência precede a existência, isto é, antes da vida o ser existe. Mas, o conceito de vida vai além de princípios filosóficos, a união do corpo com a alma, o tempo que compreende o nascimento à morte, a existência. Este texto se propõe a afirmar que vida é o somatório de condutas psicológicas e experiências do dia a dia. Não existe vida sem emoções, de coragem, de medo, de frustrações, de animosidade nem vida sem sentimentos de solidariedade, amizade, empatia, generosidade e sentimento de fé. O homem moderno busca o conhecimento, a fé, o prazer e, o sucesso material, as riquezas.
Viver é sacrifício, é desesperança, o homem batalha do nascimento à morte sem certeza de vida espiritual, de vida eterna, por isto, muitos perdem a vontade de viver e põe fim á vida. O trabalho, o esporte, a arte, o sexo, a religião, a família e a atividade intelectual dão sentido à vida, sublimam, quando o homem se distancia desses elementos, ele perde a vontade de viver, às vezes, sua fraqueza mental o leva ao suicídio.
Ninguém é Robinson Crusoé, ou seja, ninguém vive sozinho por muito tempo numa ilha, é necessária a interação, a troca de experiências de vida e sentimentos. Se o homem não se interralaciona, vive isolado, começa desenvolver doenças mentais, além da natureza humana, ele precisa de “natureza” social, sua natureza social lhe deixa em pé, física e psicologicamente, porque ele tem consciência instintiva da morte (Thanatos) ao contrário do instinto da vida (Eros), conceitos freudianos.
Viver é sofrimento, morrer é libertação. Muitos não têm consciência que aqui é uma passagem íngreme. Conta-se que um americano viajou para um país do Oriente, lá foi visitar um velho sábio. Quando chegou à casa daquele homem de sapiência e fama em sua terra, estranhou a casa simples e sem mobília, então, cheio de mesuras, lhe perguntou pelos móveis, respondeu-lhe que, ele não tinha móveis, ao mesmo tempo, perguntou: “ ... e os seus móveis?”, ele respondeu: “...estou aqui de passagem”, o sábio: “...eu também”. O homem reluta aceitar que somos apenas inquilinos do planeta Terra, aqui de passagem e passagem curta, que são 70 anos de vida, 100 anos de vida se o tempo é eterno.
A vida é desafio. O homem desafia os problemas da vida diuturnamente, ninguém é feliz todo tempo, mas algum tempo, não existe felicidade plena, sim, momentos felizes. Conheci uma longeva pedagoga que em suas palestras, ela dizia que não enxergava “pessoa”, enxergava cada “pessoa” um problema. Desafiava: “... quem nesta assembléia, não tem problema, fique de pé!”, todos ficaram sentados.
Desde o início do mundo, o homem luta pela sua sobrevivência e de sua prole, resistir à fome é não morrer em estado de inanição. No início da humanidade o homem praticava a caça e a pesca pra sobreviver, depois, as pequenas lavouras, hoje, essa relação de consumo é mais sofisticada com mercado de alimentos, feiras-livres, centros de abastecimento e agricultura familiar, no entanto, essa relação de consumo é mais complexa, muito gente não tem acesso aos alimentos por falta de recursos financeiros. Hoje, o homem sacrifica 2/3 de sua vida pra sobreviver.
Todavia, os poetas, os escritores de vocação, os pensadores e os filósofos de formação, os desprovidos de ambição material e os monges são as parcelas da humanidade que viver é mais importante que as coisas do mundo. Para essas pessoas o prazer da vida está acima do que acumular.
A vida é um fardo ou quase um fardo, não uma dádiva, porque o homem não tem certeza se existe vida do outro lado. No “Antigo Testamento”, Deus deixou escrito: “Tu és pó e ao pó retornará!”. Jesus Cristo deixou a promessa da ressurreição e da vida eterna, porém, por mais fé do indivíduo, existe sempre o vazio na alma. No Século XIX Allan Kardec sistematizou os princípios da doutrina espírita, entretanto, foi no Século XX que Óscar González-Quevedo Bruzón, conhecido como Padre Quevedo, ele provou cientificamente que não existe espírito, existe manifestações energéticas de alguns indivíduos.
A ciência, dentro de alguns anos, aumentará a expectativa física de vida do homem. Claro, não resolverá o problema da morte, contudo, o homem irá morrer com o triplo da idade atual com saúde e menos sofrimento. Hoje, é comum vidas longevas, acima de 100 anos de vida, portanto, a ciência excluindo todas as doenças, o homem terá o dobro da longevidade atual.
Embora a vida não seja a chave da felicidade, às vezes, ela é insuportável, mas é um privilégio viver, só temos uma vida, não adianta querermos mudar o mundo, a roda do mundo irá girar da mesma forma. O poeta foi feliz quando escreveu: “... Deixa a vida me levar / Vida leva eu / Sou feliz e agradeço / Por tudo que Deus me deu...”
Autoria: Rilvan Batista de Santana
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