Foi um experiência rápida, “um fogo de monturo” , “uma nuvem passageira”, que tive na política itabunense no biênio: 1971/72.
Gostava de política, mas jamais pensei que um dia fosse ter um cargo eletivo. Fui empurrado pelas circunstâncias e pelo destino, sem querer, querendo e, naquele ano cheguei à Câmara de Vereadores, como prêmio, a primeira secretaria, ou seja, fui votado pelo povo e pelos meus pares.
Não seria candidato se o saudoso Eduardo Fonseca tivesse encaminhado os seus documentos à Justiça Eleitoral.no prazo fixado. Fonsequinha (como todos chamavam-no), não era muito afeito aos trâmites burocráticos, por impedimento legal, não encontrando ninguém de sua confiança, indicou-me ao MDB, para substituí-lo.
Estimulado por tio Pedro e amigos, aceitei representar o meu bairro no legislativo municipal, certo de que não me elegeria, face o bairro já não tivesse o radialista e vereador Pedro José Lemos, embora morasse noutro bairro, tinha o São Caetano como o seu principal reduto eleitoral, pois o bairro sediava a Rádio Clube de Itabuna, onde ele trabalhava.
Pedro Lemos mantinha um programa sertanejo de estrondosa audiência. Além de músicas, dedicatórias, ele fazia alguns avisos de utilidade pública, promovia campanhas beneficentes para ajudar A ou B com interesse político.
A minha campanha eleitoreira foi lançada na rua. Com parcos ou nenhum recurso, o meu nome foi passado pelos amigos de boca em boca, pelos poucos minutos que me foram concedidos pelo MDB na imprensa falada e a divulgação da minha imagem na imprensa escrita. Não havia televisão. Quem dispunha de dinheiro enchia a cidade de outdoor ou abria grandes letreiros nos muros da cidade e completava o seu marketing com cartazes e “santinhos” gráficos.
Ocorreu um fato providencial: Pedro Lemos leu uma carta anônima, discriminando-me e ofendendo-me, no seu programa de rádio. Foi providencial, além de ter me dado o direito de resposta por recurso legal, o povo revoltou-se com o acinte, com as calúnias, com a falta de ética do principal concorrente e adotou a minha defesa e a minha candidatura.
Não pense caro leitor que derrotei Pedro Lemos, apenas, tirei-lhe alguns votos dos muitos votos que teve na eleição. Ele reelegeu-se. Eu venci, não de colher, de barbada, a concorrência era desleal, além de Pedro Lemos, a Justiça Eleitoral deu registro, naquela época, a mais de 200 candidatos para 11 ou 12 cadeiras legislativas.
Venci com a ajuda de Fonsequinha, tio Pedro, a família, os amigos e o povo. Derrotei o poder econômico e a elite, mas não me reelegi. Embora tivesse tido uma boa atuação como representante do povo, elaborando projetos, leis municipais, denunciando falcatruas e não me deixando corromper, não tive dinheiro para subornar votos e consciências.
A barriga do povo pobre é a sua consciência e o seu ideal é suprir sua necessidade.
Autoria: Rilvan Batista de Santana
Livro: Lágrimas Rolando – Capítulo XI (Recanto das Letras)