Textos


O Populismo

R. Santana

 

     No dia 21 de novembro de 2022, eu recebi um presente (livro) do professor, escritor, advogado e empresário da comunicação, o Dr. Vercil Rodrigues, com o título: “José de Almeida Alcântara, O populismo em Itabuna”, autografado pelo autor: “Ao prof. Rilvan Santana com votos de paz e... do autor”, ele não poderia me dar um presente maior, sou um leitor contumaz, nada me realiza que a leitura de um bom livro, a priori, pelo autor e protagonista da história que iria ler um bom livro. Fiz quase no mesmo dia, a leitura.

     Esse livro, pela honestidade intelectual, pela metodologia, pela pesquisa profunda, ele irá subsidiar às próximas gerações de estudantes e pesquisadores da história de Itabuna, ao lado de José Dantas de Andrade, “Dantinhas”, Adelindo Kfoury, Helena Mendes, Oscar Ribeiro Gonçalves, Carlos Pereira Filho, Helena Borborema e Adriana Dantas.

     O livro de Vercil Rodrigues é mais atual e se propõe ao estudo específico do populismo em Itabuna. Não obstante, ele ter usado Getúlio Vargas, João Goulart, Ademar de Barros, Jânio Quadros, Juscelino Kubitschek, Fidel Castro, Gandhi, Abdel Nasser, para explicar a teoria do populismo no Brasil, na América do Sul e no mundo. Pois, o populismo não é um fenômeno local, de um país, mas global, em todo mundo florescem de quando em quando, líderes populistas.

     As circunstâncias fazem o homem, Alcântara foi produto das circunstâncias. Primeiro, a natureza foi inclemente na enchente de 1947 e o distrito de Itapé ficou com a população ribeirinha sem eira nem beira, Alcântara, coletor do estado da Bahia, usou sem autorização administrativa do governo, os recursos públicos para socorrer com alimentos e cobertores e remédios aos flagelados das enchentes. Segundo, demonstrou, também, solidariedade, determinação e empatia nas comunidades da Mangabinha, Ferradas, Burundanga, centro da cidade de Itabuna e alhures em circunstâncias iguais de enchentes.

     Alcântara não foi um demagogo, mas um carismático populista, ele atendia ao apelo do povo em detrimento dos interesses egoístas da elite. O problema de Alcântara, é que sua administração não planejava, ele atendia aos interesses imediatos dos seus eleitores. A abertura da Avenida Cinquentenário foi um exemplo, indenizou todos os imóveis, Perinto Luis Ribeiro foi um entrave do começo ao fim, Alcântara atendendo ao clamor popular e a data de 50 anos de Itabuna, ele autorizou que os tratores jogassem ao chão o último imóvel que faltava, mesmo não respondendo à agressividade física e primitiva de Perinto.

     O destino colocou o jovem engenheiro civil Félix Mendonça na vida de Alcântara. Nomeado “Secretário de Obras Públicas de Itabuna”, no ano de 1961, ele deu novo impulso à administração de Alcântara. Engenheiro civil de quatro costados, carismático, trabalhador, determinado, ele fez da “Secretaria de Obras Públicas de Itabuna”, lugar de decisões para desenvolver e urbanizar a cidade. Félix Mendonça aprendeu logo as práticas populistas do chefe, em 1963 se elegeu prefeito da cidade itabunense e ao longo dos anos foi deputado federal em várias legislaturas: - a criatura tornou-se maior do que o criador.

     Alcântara não deve ser lembrado só pelo seu populismo, foi no seu tempo, um bom administrador, além da Cinquentenário, projeto que se arrastava fazia anos, ele teve a coragem de desafiar os poderosos da época, ele fez calçamento em várias ruas da cidade e luz elétrica para Mutuns e Bairro São Caetano, naquele tempo, uma empreitada quase impossível pelos parcos recursos do município.

     Ele não foi um produto de marketing (não havia este conceito), mas o ídolo de um povo abandonado pelas políticas públicas daquela época. Alcântara atendia, dentro do possível, às reivindicações dos ribeirinhos, dos descamisados, do povo pobre, além de carinhoso com os necessitados. Ele não só tirava os seus sapatos e doava ao noivo aflito para casar e não tinha sapatos como se fazia presente na cerimônia de casamento dos noivos. Seu carisma incomodava às elites, “de colher”, ele derrotou José Soares Pinheiro (representante dos empresários e da sociedade rica), elegeu Mário César Anunciação, Félix Mendonça e numa transferência recorde de votos, elegeu Antônio Carlos Magalhães para deputado federal com 10.000 votos de Itabuna.

     Não é demais dizer que o livro “José de Almeida Alcântara, O populismo em Itabuna” será o divisor entre o antigo e o moderno, não que as pesquisas dos historiadores antigos não fossem relevantes, porém, o autor Vercil Rodrigues teve o privilégio de usar novas tecnologias gráficas e novos métodos de pesquisa, portanto, seu livro subsidiará a pesquisa e a leitura das gerações atuais e futuras.

     Lisonjeou-me ter contribuído nessa pesquisa, sou citado como referência nas páginas 76 e 206 dessa pesquisa, a crônica “Alcântara”, 29.11.2017 e a crônica “Causos Políticos” 21.02.2013, no site “Recanto das Letras”. Essas referências atestam a honestidade intelectual e sinceridade do autor do livro: “José de Almeida Alcântara, O populismo em Itabuna”.

     Enfim, permita-me o autor, fechar esta crônica com o pensamento de Monteiro Lobato: “O livro é uma mercadoria como outra qualquer; não há diferença entre o livro e um artigo de alimentação. Se o livro não vende é porque ele não presta”. Meu feeling de leitor diz que é um bom livro.

 

Autoria: Rilvan Batista de Santana

Licença: Creative Commons

 

Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 27/11/2022
Alterado em 29/11/2022


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr