Desagravo
R. Santana
“O autorrespeito é a raiz da disciplina; a noção de dignidade cresce com a habilidade de dizer não a si mesmo.” (Abraham Lincoln)
No dia 12 de agosto, recebi por e-mail um “Edital de Convocação da ALITA”, assinado pela secretária da entidade, a confreira Lurdes Bertol Rocha, em nome do presidente da entidade, o confrade Wilson Caitano de Jesus Filho. Para mim foi uma surpresa, ainda cheguei manifestar esta surpresa com a digníssima confreira, ela justificou, educadamente, que devido à pandemia, as reuniões da ALITA tinham sido comprometidas. Confessei-lhe minha ignorância informática, que nunca havia participado on-line de nenhuma reunião ou videoconferência, ela instruiu-me como acessar o vídeo e enviou-me o login.
Criei expectativas, prometi deixar de lado todos os ressentimentos e mágoas antigas, a minha filha recomendou-me: “... meu pai vá de espírito desarmado, não desenterre esqueletos...”, ouvi-lhe, mas, a priori, eu já havia internalizado não mexer em nada que comprometesse o meu retorno à entidade literária, fui de coração aberto e alma pura.
Quando acessei o login, esperava algum registro do meu retorno, ledo engano, todos ficaram impassíveis como se a minha presença não tivesse significado, mesmo assim, mantive-me ouvido e boca fechada e solicitei um aparte, fui orientado deixar pra depois da pauta, na fase “o que ocorrer”. Não tive pressa, esperei as discussões findarem e quando a fala me foi concedida, agradeci ao presidente Wilson Caitano e aos demais diretores (tinha consciência que não foi um ato isolado, porém, de toda a diretoria), disse-lhes que estava ali de coração aberto e pedia desculpas por alguns erros do passado, mesmo que atos involuntários.
Porém, ele estava lá, o meu “inimigo”, aquele que não gosta de mim, o acadêmico e escritor Cyro de Mattos, aquele que criou a narrativa que xinguei os membros da academia em sua crônica: ”O terrorista cultural”, aquele que entorpeceu a mente dos seus pares e me condenou não mais frequentar a entidade de letras de Itabuna, que sou uma pessoa de “pavio curto” e perigoso!...
Quando fiz os meus agradecimentos, ele usou da palavra e questionou a confreira Lurdes Bertol, ela lhe respondeu que foi a assembleia que decidiu a minha convocação, a secretária explicou que não havia decidido sozinha, que ficou acordado nessa reunião que fossem convocados os membros que tinham e-mail na entidade. A diretora de comunicação e marketing, Raquel Rocha, compreendeu o meu constrangimento, parabenizou-me pelo meu desprendimento, pela minha humildade, todavia, sugeriu que as minhas desculpas fossem manifestas publicamente.
Não é verdade que denegri meus pares, nem os caluniei, nem os detratei, nem os vilipendiei, nem os difamei, nem os rebaixei moralmente, sempre os tratei com deferência e lhes atribuo os títulos profissionais sempre. Debati ideias, métodos administrativos, organização institucional e controle tendencioso da revista e do site.
Nesta oportunidade, quero conclamar ao espírito cristão e público do escritor Cyro de Mattos, que com humildade e sabedoria incorpore em sua vida a lição de Jesus Cristo: “Mestre, quantas vezes devo perdoar uma pessoa que me ofende: até sete vezes?”. Essa pergunta é feita por Pedro, no evangelho de hoje, de Mateus 18,21-35. Jesus responde a Pedro e a todos nós: “não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete!”.
Além disto, dizer ao confrade Cyro de Mattos que a principal obra do homem, a obra que fica, é o exemplo. Nascemos não para apontar o dedo para o outro, porque quando se aponta o indicador para alguém, o polegar volta para si: “hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão”.
- Confrade Cyro de Mattos, o homem de 83 anos de idade que adquiriu e produziu muito conhecimento, mas que não adquiriu sabedoria e bom senso cartesiano, a vida não lhe vale a pena. Com 83 anos de vida, é tempo de jogar fora todas as tralhas de sua vida, jogar fora todos os seus ressentimentos, ódios acumulados, egoísmos recalcitrantes e perseguições inúteis, é tempo de orar e vigiar para que o encardido não lhe tome e corpo e a alma e não tenha a benção de Deus para uma vida eterna.
O homem generoso, solidário, humilde de coração, que sofre a dor do outro, que pratica a empatia, sua passagem na terra é lembrada sempre, seu retrato na parede honrará todas as gerações, diferente daquele que suas obras são empanadas pelo ressentimento, pela prática do ódio e falta de amor ao próximo.
Eu sei, a priori, que a confreira Raquel Silva Rocha não irá me compreender nem me perdoar, mas o homem sem liberdade e sem dignidade, ele é melhor morrer. As honrarias, os cargo e o poder são efêmeros, porém, a consciência do bem e não do mal, alimenta o coração e a alma. Não vale a pena continuar sob a condição sine quo non da humilhação.
Os finalmentes:
Eu gosto de evocar sempre as palavras do poeta Mario Quintana, quando lhe foi negado, várias vezes, seu acesso à Academia Brasileira de Letras-ABL: “Eles passarão, eu passarinho...” Hoje, é a academia de Fernanda Montenegro e Gilberto Gil... Bairro São Caetano, Itabuna (BA), 19 de agosto de 2022, Rilvan Batista de Santana
Autoria: Rilvan Batista de Santana
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