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Mãe é um ser social - R. Santana

 

No último dia das mães, quando a família comemorava a efeméride, eu refletia com os meus botões: "Quão o comércio explora os incautos, as pessoas de boa fé e os filhos de coração afetivo?" Todo dia é dia das mães, a boa conduta do filho deve ser o ano inteiro. Mãe é o único amor verdadeiro, ela é capaz de sacrificar sua vida pela do filho. Drummond foi feliz quando escreveu: “Por que Deus permite que as mães vão-se embora? / Fosse eu Rei do Mundo / baixava uma lei / Mãe não morre nunca / Mãe, na sua graça, é eternidade”. Portanto, a mãe deve ser celebrada o ano inteiro, não, um dia no ano.

Porém, mãe é um ser social. O amor da mãe pelo filho ou o amor do filho pela mãe não tem causa genética, mas ambiental e social. Alguém poderá falar mal de mim, que estou amalucado, que estou dizendo asneiras, mas, os fatos cotidianos não me contradizem: pegue um recém-nascido de uma família e o coloque noutra família com as formas e as características físicas semelhantes, ele irá crescer, além da aparência, com a carga afetiva, a conduta e o caráter da família que o recebeu.

O amor do filho adotivo pelos pais é semelhante ao amor do filho biológico, às vezes, a carga afetiva e o cuidado são maiores. Não é exceção o filho adotivo socorrer o pai ou à mãe na velhice mais que o filho biológico. Claro que não são amores diferentes, são amores iguais do filho adotivo e o filho da mesma carne, apenas, fundamenta-se que pai e mãe são aqueles que criam.

Não sei se existe uma pesquisa do comportamento da mãe adotiva e da mãe biológica, a priori, conclui-se que não existe diferença. O amor da mãe pelo filho não gerado é igual ao filho concebido. E, se a mãe nunca teve filho biológico, ela será capaz de colocar o seu pescoço no patíbulo para salvar o pescoço do seu filho adotivo. Também, o amor pelos pais que não tiveram filhos biológicos pelo filho adotado, não morre jamais.

Os exemplos se multiplicam de filhos não concebidos que são mais afetivos e responsáveis que os filhos biológicos. Também, as mães adotivas cuidam com o mesmo zelo os filhos ilegítimos tanto quanto os filhos legítimos em alguma doença ou algum sinistro físico ou material.

O sentimento que une o filho à mãe e vice-versa é construído ao longo do tempo, por isto, é que os teóricos do comportamento humano afirmam que mãe é um ser social e o vínculo afetivo é perene, O instinto maternal se manifesta tanto em relação ao filho biológico quanto ao filho adotivo.

Se um casal alemão, por exemplo, adota um recém-nascido de qualquer parte do mundo, certamente, depois de crescido, essa criança irá crescer com carga afetiva, conduta e caráter da família que o adotou, além da aculturação alemã. Se um dia, ele descobrir que não é filho biológico, talvez, por curiosidade, ele queira conhecer a família biológica, não por necessidade afetiva ou material, mas, para conhecer sua origem de sangue.

O filho bastardo não é diferente do filho de pai e mãe, pouco e pouco, ele absorve os costumes da nova família, dos meios-irmãos, da madrasta ou do padrasto. O vínculo familiar se completa dentro de pouco tempo. Com o tempo a empatia entre os irmãos se completa: mexeu com o bastardo, mexeu com todos...

Usa-se o eufemismo “filho do coração” para suavizar uma relação que a sociedade é subjacente preconceituosa Algumas pessoas acham que o filho que não é biológico não possui a mesma afinidade e prerrogativa. Porém, se for feito um estudo cuidadoso, o processo de conceber um filho é igual ao de ter um filho não gerado: o desejo de tê-lo é movido pelo amor.

Não se pode negar o instinto maternal, ele é congênito até nos animais irracionais, todavia, o vínculo afetivo é construído no dia a dia, nas dificuldades, nas angústias, no sofrimento, nas experiências positivas e negativas. Segundo John Locke, o bebê quando nasce sua mente é “tabula rasa”, como uma folha de papel em branco, a vida se incube de gravar no indivíduo: as experiências, o desejo, o entendimento, a inteligência e a personalidade, estas características formam o sujeito social.

Enfim, a mulher nasce com a função de reproduzir, de ter filho e filha, de aguçado instinto maternal, ela é capaz de sacrificar sua vida pelo filho, porém, o conceito amplo que a sociedade lhe dá, não é inato, ou seja, não existe diferença de mãe adotiva e mãe biológica, a carga afetiva é a mesma, os filhos quaisquer que sejam, amam as duas mães igualmente.

 

Autoria: Rilvan Batista de Santana

Licença: Creative Commons

 

Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 21/05/2022


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr