Textos


Verbo volant, scripta manent

R. Santana


     Quando adolescente, os meus colegas de escola, colocaram-me o apelido carinhoso de “homem do livro”, não que fosse um aluno brilhante, orador ímpar, mas é que tinha a mania de leitor contumaz. Eu não gostava de estudar, gostava de ler literatura, os livros didáticos são sistematizados, cheios de regras e termos técnicos e desenxabidos. Raro o estudante que lê livro de Química, Física, Biologia e Matemática com gosto, voluntariamente, da primeira à última página, salvo, os vocacionados nessas disciplinas. Eu não tinha desenvoltura na oratória, saía-me razoável na escrita...
     Hoje, lamento a falta de leitura e escrita dos jovens da Internet. Eles valorizam mais a imagem do que a leitura e a escrita. Com a chegada recente do WhatsApp, programa de comunicação completo: escrita, áudio, vídeo, imagem e relações sociais, certamente, o WhatsApp revolucionou a comunicação moderna. Ninguém mais envia uma carta, uma mensagem ou um documento pelos Correios ou por e-mail, eles utilizam seus celulares com esse aplicativo.
     Porém, essas utilidades num só aplicativo, contribuíram para que os jovens se afastassem dos livros, da leitura de textos mais extensos, inclusive, da linguagem oral, as mensagens escritas e orais são econômicas, ninguém quer ouvir um áudio que ultrapasse 2 minutos ou um texto mais de 3 linhas.
     Os insensíveis dizem que saudosismo é coisa de velho. O progresso caminha na linha do tempo, não há retrocesso, o tempo é irreversível, caminha para frente, porém, olhar para trás conforta a alma e prepara o sujeito para o que vem depois. Quem não lembra o prazer de receber uma carta da amada ou de um parente distante? A emoção e o romantismo eram indescritíveis, diferente da frieza do e-mail e do zap. Naquela época, as cartas eram duradouras, algumas romperam épocas, a exemplo das Cartas de Michelangelo, Kafka e Rainer Maria Rilke.
     Por falta de conhecimento, muitos estudantes entram semianalfabetos nas universidades e saem bestializados. Esses estudantes e profissionais liberais depois, sobrevivem no mercado com ajuda dos programas informatizados de cada profissão. Programa pra médico, engenheiro, advogado, psicólogo, etc. O engenheiro, a exemplo, o programa informatizado apresenta a casa pronta, sala, os quartos, os banheiros, o telhado e os móveis em cada compartimento.
     Antigamente, as pessoas diziam que o “Aurélio” era o “pai dos burros”, atualmente, é o Google. Claro que o Google é uma biblioteca eletrônica sem igual, é um grande instrumento de pesquisa. Não existe um instrumento físico com tantas informações. As bibliotecas convencionais possuem milhares de volumes em seus acervos, mas essa biblioteca eletrônica é inigualável e conteúdo atualizado diuturnamente.
     Porém, essa fonte eletrônica de pesquisa e aprendizagem é usada de forma an passant e superficial pelos estudantes. O estudante tem usado o Google para retirar cópia do conteúdo, não para aprendizagem. Depois, ele apresenta o trabalho de pesquisa ao professor como resultado de sua reflexão e criatividade. Este procedimento é usado por estudantes de todos os níveis de escolaridade. O Google não deve ser usado como única fonte de pesquisa pela superficialidade de seu conteúdo, principalmente, nos trabalhos de conclusão de curso - TCC.
     Ler e estudar têm mais ou menos o mesmo significado: “assimilar o conhecimento”, porém, são diferentes na prática: a simples leitura, necessariamente, se apreende, se aprende; enquanto estudar, necessariamente, se apossa do conhecimento. A simples leitura não cria compromisso, diferente do estudo que é sujeito de aprendizagem e conhecimento. Estudar através da web, também, é contraproducente e incômodo, ninguém vai estudar aqui, ali e acolá, com o computador a tiracolo, mesmo que seja, um Smartphone.
     Saber é poder. Quem possui conhecimento, informação, domina e não é dominado. Contudo, o conhecimento é para ser compartilhado, quem o detém e não o compartilha, não valoriza sua dimensão benéfica. Se o médico alemão Robert Koch não tivesse compartilhado com o mundo daquela época, a descoberta do “bacilo da tuberculose”, não teria salvo milhões de indivíduos ao longo de décadas.
     Enfim, o provérbio “verbo volant, scripta manent”, a palavra voa e a escrita permanece, significa que o livro é o principal repositório do conhecimento e, da escrita. Não é demais produzir livros, o livro deixa o homem de alma leve e o ajuda pensar.



Autor: Rilvan Batista de Santana
Licença: Creative Commons

Membro da Academia de Letras de Itabuna - ALITA

Imagem: Google

 

Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 28/04/2021
Alterado em 30/09/2024


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr