“Quem me dá um abraço?...” R. Santana
“Como a gente se engana com as pessoas, ainda bem... que decepção não mata, ensina viver”
Não sei se foi na capital de São Paulo ou alguma cidade do interior desse estado que um morador de rua segurava uma cartolina com a frase: “Quem me dá um abraço?...”, talvez, esse apelo emocional an passant, seja encarado por alguns como fútil, desejo gratuito de aparecer, todavia, não é verdade, a pandemia do coronavírus deixou evidente essa realidade.
O homem é um animal político, um ser social, o homem não nasceu para viver isolado na ilha de Robinson Crusoé. Nessa Covid-19, que a palavra de ordem era: “Fique em casa!”, ou, a recomendação quase obrigatória: “Distanciamento social!”. É sabido que nesse período de pandemia viral, a violência matrimonial exacerbou-se, aumentaram-se os crimes sexuais de feminicídio e a Lei Maria da Penha não conteve toda a maldade machista.
Afora os portadores de algumas doenças mentais e necessidades especiais, que de alguma forma, vivem isolados, diferente de pessoas que, naturalmente, sentem necessidade de interação social, ajuntamento, corpo a corpo, aperto de mão, abraço, beijo, sexo, isto é, as relações afetivas são condições sine qua non para existência humana. As medidas sanitárias de isolamento social e distanciamento social produziram transtornos de ansiedade, depressão, comprometimento cognitivo, perda parcial de memória e suicídio, portanto, doenças tão prejudiciais quanto os danos do coronavírus.
A criança do campo que coloca os pés no chão, banha-se nos ribeirões, alimenta-se de produtos naturais, monta a cavalo, pratica futebol de várzea, toma leite nas mamas da vaca, brinca de pega-pega, brinca de bodoque, gude, cantigas de roda, ela possui mais resistência às doenças infantis e estrutura socioafetiva e física mais que a criança da cidade, isolada em apartamento, sedentária, que se alimenta de produtos industrializados, presa aos games, aos playstation, ao WhatsApp, jogos de aplicativos diversos e esportes de norma e disciplina inflexíveis.
Portanto, não é pieguice, sentimentalismo exagerado, desejo de aparecer desse morador de rua, o isolamento e o distanciamento sociais são antinaturais à natureza humana. O sujeito pode estar num mar de gente, se não houver motivação, interação social e relação afetiva, ele é um solitário cercado de gente por todos os lados. O exemplo desse morador de rua serve para subsidiar o argumento que o homem é mente e corpo qualquer implicação de um ou de outro compromete a existência humana.
Em todas as pandemias, de imediato, os sanitaristas propõem o isolamento social, foi assim com a Gripe Espanhola, a Peste Bubônica e a Lepra, agora, a Covid-19, porém, o amor e a fé têm vencido essas doenças em muitos casos. Na juventude, lembro-me de ter assistido ao filme “Bem-Hur”, Judah Bem-Hur, naquela época, interpretado por Charlton Heston e Messala seu irmão de criação e Dismas irmão de Esther. Afora as brigas políticas, o atentado de Dismas a Pilatos e a disputa das corridas de bigas, chamou-me a atenção a cura de Esther, seguidora de Jesus Cristo, ela e sua mãe são curadas da lepra pelo milagre da fé e o amor de Judah Bem-Hur.
As medidas de lockdown, isolamento e distanciamento socais contribuem, mas não são definitivas para erradicar a pandemia do coronavírus, da covid-19, ou, outras pandemias, enquanto não se resolve antes, os problemas psicológicos do indivíduo, ou seja, cuida-se da cabeça primeiro, depois, do resto do corpo.
A frase que “Ao lado de um grande homem, sempre há uma grande mulher” é significativa e aplica-se para ambos protagonistas, além de simplificar as condutas racionais e afetivas. A família é que dar todas as condições necessárias para o homem alcançar o sucesso pessoal e profissional. Ninguém alcançará o cume duma montanha sem a base, da mesma forma que ninguém fará sucesso pessoal e profissional se por detrás não tiver base familiar sólida.
A autoestima é o combustível da vida. Sem motivação, o objetivo e o apoio do cônjuge, dos filhos, parentes e aderentes, o homem é frágil e inseguro, sem os ingredientes da alma e do coração, o homem tenderá à depressão e ao fracasso.
A aceitação social e a aceitação familiar não podem dar lugar à rejeição. O morador de rua acima não é exceção é regra. Hoje, o mundo tem milhões de pessoas portadoras de carências afetivas crônicas, depressão, transtorno de ansiedade, obesidade, síndrome de Burnout, síndrome do pânico, etc. Com o advento da Internet, dos aplicativos, das redes sociais, dos dispositivos móveis, dos Smartphones, dos PDA, dos Notebooks e dos Netbooks, além da violência, o próximo é cada vez mais, menos próximo.
Autoria: Rilvan Batista de Santana
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