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São Caetano - Itabuna / O fundador - R. Santana

 

     A História da Humanidade é feita de vencedores, vencidos e anônimos. Os vencedores são os líderes que surgem no curso da história, são eles os responsáveis pelo progresso material, desenvolvimento tecnológico e científico, normalidade jurídica e suporte militar de segurança de cada povo. Os vencidos são aqueles que suas ideias não foram recebidas nem aceitas pela sociedade. Os anônimos são os verdadeiros responsáveis pelas ações práticas, sem os trabalhadores braçais, sem os trabalhadores artesanais, sem os intelectuais, sem os cientistas, sem os técnicos, sem as ações militares, sem as ações eclesiásticas e sem as ações culturais (todos anônimos), as sociedades e os estados não seriam formados.
     Pedro Batista de Santana, hoje, com 93 anos de vida, é um desses vencedores. Saiu de Lagarto (SE), muito jovem, imberbe, fez uma breve estada em Maria Jape, distrito de Ilhéus, após, fixou-se em Itabuna num lugar com a alcunha de “Fuminho”, depois São Caetano, há 73 anos. O “Fuminho” era um aglomerado de 14 casebres espalhados, no início do lugar, o que havia de mais importante era uma estrada de chão de 19 km de distância de Itabuna a Macuco, hoje, Buerarema, onde os caminhões escoavam a produção do cacau e levavam os produtos de subsistência para população da cidade vizinha.
     O “Fuminho” era uma grande fazenda de roças de cacau, roças de mandioca, bananeiras, jaqueiras, canaviais, frutas em abundância, muita mata e uma fauna maravilhosa e muitas nascentes e ribeirões. Sua gente era de trabalhadores rurais, pequenos posseiros, grileiros, pescadores, caçadores, oleiros, carpinteiros, marceneiros, lavadeiras, parteiras, benzedeiras, pedreiros, açougueiros e jagunços que serviam aos coronéis do cacau.
     Faz-se necessário dizer que foi a população da cidade daqueles tempos que deu o nome de “Fuminho” ao lugar, hoje, bairro São Caetano, porque 2 ladrões chinfrins, roubaram umas bolas de fumo na cidade e foram presos logo depois com o atravessador, o bodegueiro Permínio, que tinha uma bodega no início do lugar. Naquela época, não havia Direitos Humanos nem humanos direitos, advogado era luxo, coisa de gente rica, os pobres diabos devem ter levado uma boa surra de cipó-de-boi ou foram corrigidos com palmatória de jacarandá e soltos. Os habitantes da cidade, pejorativamente, começaram a chamar o lugar do outro lado do Rio Cachoeira de “Fuminho” e “Fuminho” ficou por muito tempo até os habitantes do lugar substituir por São Caetano, bairro São Caetano de Itabuna.
     A fazenda que deu origem ao bairro São Caetano, supostamente, pertencia ao agricultor José Batista Caetano. Digo supostamente, porque a área foi reivindicada pelos herdeiros do coronel Tertuliano Guedes de Pinho, depois de sua morte, num litígio com os herdeiros de José Batista Caetano que durou mais de 20 anos em todas as instâncias estaduais e federais e culminou com a vitória de Dr. Durval Guedes de Pinho, filho do coronel do cacau, Tertuliano Guedes de Pinho.
     O bairro não herdou o nome de “Caetano” de José Batista “Caetano”, mas da proliferação duma planta trepadeira chamada de São Caetano, que produz o fruto melão-de-São Caetano. Em cada palmo de chão do lugar se achava a planta São Caetano. O povo em sua sabedoria, ao longo do tempo, batizou o lugar de São Caetano e São Caetano ficou até os dias atuais, em 1963, o vereador Antônio Calazans tentou mudar, mas o sentimento bairrista do povo foi maior, ele foi derrotado.
     Pedro chegou aqui nessa época, início de 1948, em que o “Fuminho” era 1 dúzia de casebres miseráveis, sem ruas, mais caminhos e veredas, lugar de fazendas de cacau, terras do sem fim, terras de muitos posseiros e muitos donos, onde os descamisados anônimos começaram a construir suas moradias toscas de adobe e chão batido e casas de taipa. O lugar era habitado por gente boa e simples, porém, homiziava-se, também, pistoleiros e ladrões. Pedro pouco e pouco era a referência comercial (construiu um quiosque, um armazém de tudo um pouco), o líder do lugar.
     José Batista Caetano deixou 2 filhos biológicos e 1 de criação. Com a morte do pai, os filhos Potomiano (Peó) e Zezinho começaram a aforar os terrenos, o “bairro” já ia de vento em popa, o povo já tinha construído seus casebres por conta e risco, sem ajuda ou interferência de ninguém, uma invasão pacífica como se a terra não tivesse dono. No início, houve resistência, ninguém quis pagar o foro aos novos senhorios, mais uma vez, Pedro intercedeu entre as partes, ficou combinado que o foro seria pago a partir daquela data ou no ato da transferência do imóvel e assim foi até a posse de Dr. Durval Guedes de Pinho como novo proprietário beneficiado por um ato jurídico. Dr. Durval para se livrar da lei de “usucapião”, pois a maioria já tinha mais de 10 anos na posse do terreno, passou vende-lo com escritura em cartório e registro.
     Peó e Zezinho eram 2 negros cordatos, incapazes de fazer qualquer mal ao outro, porém, eram indolentes, lânguidos, avesso à atividade produtiva, gostavam de bem-estar, vida tranquila, sem estresse e os aforamentos dos terrenos lhes davam essa condição, pouco esforço laboral. Potomiano Batista Caetano (Peó) instalou e sortiu uma bodega, na entrada do bairro São Caetano, hoje, Avenida princesa Isabel e, José Batista Caetano Filho (Zezinho), vivia do aluguel de suas avenidas e dinheiro a juro. Ele morava num chalé, dentro dum pasto, nas imediações do atual escritório do DNIT - Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - Unidade Itabuna. Mais folgado que Peó, ele vivia bater pernas, aqui, ali e acolá, atrás das prostitutas. Uns parasitas que nunca fizeram nada para o crescimento e o desenvolvimento do bairro.
     Parco, econômico, Pedro Batista de Santana, agora, “seu” Pedro, ainda nos tempos de “Fuminho”, além dum quiosque (armazém de secos e molhados) que construiu na “rua” principal do bairro, deu início à construção de pequenas casas de tijolos, alvenarias, rebocadas com massa de cimento e cobertas de telhas de barro queimado. Ele não construía várias casas de uma vez, pelos seus parcos recursos, vendia uma casa, para construção de outra, porém, deu início à construção de moradias populares, modernas, não casas de adobe e chão batido ou casas de taipa.
     A inteligência social de “seu” Pedro contribuiu para ações de relações públicas, com a divulgação que o bairro era promissor e lugar de bem-estar, ele atraiu moradores mais qualificados profissional e economicamente, a exemplo de gerente de banco, escriturários de empresas comerciais, dentista prático, comerciários, pequenos empresários, além de junto ao poder público, escola primária e tratores para abertura de ruas por engenheiros civis. Na esteira desse progresso, surgiram casas de lazer para os machos, à noite, descarregarem seus estresses, as mais chiques, as casas das caftinas Helvécia e Rosa.
     A prática espiritual é condição sine qua non para que qualquer comunidade sustente sua fé. Naquela época, finais dos anos 50 e início dos anos 60, as crendices populares eram diversas, desde curas de doenças físicas às curas de pessoas obsessivas, histéricas, não obstante o esforço da igreja católica na evangelização racional dos seus fiéis, o sincretismo religioso era mais forte. Por isto, peço licença ao leitor para transcrever parte de um texto, de minha autoria, que foi publicado no site Recanto das Letras e Saber-Literário, com o título: “São Caetano, 24.06.2012, vejamos:
     Porém, em tempos idos, muito antes de Frei Joaquim Cameli desembarcar por estas bandas, muito antes dos padres capuchinhos passarem aqui, na época das missões, a fé dos moradores do São Caetano era confiada a Dona Pedrina, Manuel Canguruçu, Mãe Ester, Caboclo Ló e Maria Sertaneja, os primeiros e principais pais-de-santo, filhos de Iansã, Obá, Ibeji, Oxossi, Ogum, Iemanjá e outros orixás, filhos da umbanda de Angola...
     O seu sincretismo religioso fazia inveja às ideias ecumênicas atuais. Todos, sem traumas, tinham ideias cristãs permeadas de orixás, salvo, os pais-de-santo charlatães, de interesses escusos, manifestavam crença nos exus como meio de solucionar os males físicos e os casos de possessão dos seus clientes. Naquele tempo, todo barracão tinha um espaço reservado aos santos, à queima de velas, às oferendas e um quartinho escuro cheio de mistério, onde segundo a lenda, o babalorixá mantinha o Diabo preso e o soltava em sessões especiais.
     Missa? Missa nos eventos anuais: Sexta-Feira Santa, Natal, Dia de São José e Quarta- feira de Cinzas. Os moradores emperiquitados, roupa domingueira, cabelo brilhantina, desciam a pé, a cavalo ou de carroça para o centro da cidade, no retorno, se despiam daquela parafernália indumentária, arregaçavam a bainha, penduravam os sapatos nas costas e voltavam pegando picula na estrada, às vezes, estrada enlameada.
     Porém, os adultos gostavam mais das festas e danças de candomblé, não movidos pela fé, mas pela superstição e requebro dos quadris das morenas e negras ao som dos tambores, possuídas pelos orixás... O som dos tambores era ouvido ao longe e ao invés do som repicado e monótono dos sinos, era mágico o som dos tambores de D. Pedrina ou de Manoel Canguruçu ou de Maria Sertaneja. As filhas de santo, de corpo escultural, de roupa branca e descalça, todo o corpo se mexendo, principalmente, os quadris e os ombros, movimentos eróticos levavam à loucura os filhos de santo, de vez em quando, uma filha de santo embuchava do pai-de-terreiro ou dos filhos-de-santo, aí, o pobre coitado ficava na casa do sem jeito, o jeito era amancebar-se. O pai-de-terreiro participava da dança de candomblé ou ficava sentado num estrado com postura de bispo, abençoando-os e recebendo louvores.
     Cada pai-de-santo incorporava um orixá (Bará, Ogum, Oiá-Iansã, Exu, Ibeji, Odé, Otim, Oxalé), estes orixás controlam (conforme a crença), as forças da natureza, portanto, existe o orixá de cura, o orixá para expulsar os espíritos maus, orixá pra controlar as paixões, orixá Tinhoso, orixá para benzer as encruzilhadas, orixá da fortuna, enfim, orixá para fazer o bem e orixá para fazer o mal.
     Os candomblés mais arrumados eram o de Dona Pedrina, o de Manoel Canguruçu e o candomblé de Maria Sertaneja. O candomblé de Pedrina era frequentado pela elite e pelos políticos, a elite, interessada em suas lindas filhas de santo e os políticos interessados no aumento do seu cacife eleitoral. O candomblé de Manoel Canguruçu era voltado para cura de pessoas com obsessão de perseguição, vítimas de bruxaria, endemoninhadas, possessas, e, não para o tratamento de neuroses histéricas, depressão, perturbação obsessivo-compulsiva, esquizofrenias e outras psicopatias. O candomblé de Maria Sertaneja cuidava dos despachos, da coisa-feita e das mandingas de encruzilhada.
     Os malucos eram tratados por Manoel Canguruçu por certa “unguentoterapia”, uma substância estranha de rato morto, sapo, urubu, cobra, lagartixa que ele triturava tudo num pilão e deixava de fusão com uma mistura de ervas, após alguns dias, no sol e no sereno, aquilo se tornava uma “pasta putrefata” que era espalhada no corpo do maluco que se não ficasse bom...
     Porém, as mulheres malucas, as moças histéricas, de calundu, as moças mal-amadas, reprimidas pela ignorância dos pais e dos costumes, cheias de faniquitos, eram tratadas por Manoel Canguruçu com água de cheiro e muita mordomia, as más línguas juravam que elas caíam na lábia e na cama do pai-de-terreiro como a “mosca no leite”.
     O fundador de fato do São Caetano, Pedro Batista de Santana, era de natureza ecumênica, manifestava disposição de diálogo com outras pessoas de confissões religiosas diferentes, embora fosse católico de nascimento, todavia, longe de ser beato, ia à igreja, geralmente, em eventos religiosos e alguns sacramentos: batismo, matrimônio e extrema-unção. O importante que o ecumenismo fosse uma prática, não uma teoria doutrinária.
     Pedro nasceu com o estigma de empreendedor, depois que passou anos com venda de alimentos e bebidas, pequeno construtor imobiliário, viajante, fundou uma casa de dança, pejorativamente, um cabaré chamado “brejinhos”, um bate-coxas de final de semana, onde os machos e as mulheres solteiras do bairro se divertiam a gosto. Foi uma breve passagem, a casa ficava num lugar ermo, escanteado do São Caetano. Não foi longe o empreendimento, as arruaças eram frequentes depois das 2 horas do dia seguinte. O negócio demorou só alguns meses.
     No ano de 1958, depois que “seu” Pedro vendeu uma casa-bodega numa das transversais da Rua São José (esquina), hoje, uma academia de musculação, para um cidadão de prenome “Aquino”, ele comprou um terreno do lado contrário da mesma transversal (esquina), frente à Rua princesa Isabel, nº. 1020, aí, encerrou sua carreira de construtor de imóveis e compra e venda de casas, permanece nesse imóvel até hoje aos 93 anos de vida.
     Foi nesse imóvel que ele instalou um bar de sinucas e dominós, durante o governo do general Juracy Magalhães que liberou o jogo de azar. O jogo de baralho foi incorporado à jogatina do estabelecimento que se popularizou com o nome fantasia de “Bar de Pedro”.
     O “Bar de Pedro” não ostentava placa ou letreiro em sua fachada, o nome surgiu boca-a-boca, como principal ponto de referência do São Caetano: “... eu lhe encontro no Bar de Pedro”, “no Bar de Pedro o pessoal lhe mostra onde moro”, “...aonde vou? Vou ao Bar de Pedro!”, “... deixe a encomenda no Bar de Pedro!” etc., etc.
No meado dos anos 70, as sinucas, os dominós e o jogo de azar foram substituídos pela primeira sorveteria do bairro. O “Bar de Pedro” não era mais o mesmo no modo de ver do povo, frequência e lucro.
     Esse bar foi por muitos anos o principal “point” do São Caetano. Seu salão serviu até para festas carnavalescas, naquela época não havia clube, os moradores (mais ou menos 1000), ou brincavam nos blocos de rua ou no salão do “Bar de Pedro”. Algum tempo depois, os moradores se associaram e fundaram o “Clube do São Caetano” (Pedro foi um dos diretores), sob à presidência de “Milton Candomblezeiro”, Milton do DNER, porém, não funcionou por muito tempo, em parte, pela falta de apoio da comunidade.
     No início dos anos 60, “seu” Pedro tornou-se político. No seu bar passaram alguns políticos de expressão nacional, a exemplo do deputado federal Ney Ferreira, os prefeitos Alcântara, Félix Mendonça, Fernando Cordier, Dr. Simão Fiterman, José Oduque e o deputado estadual Daniel Gomes e Fernando Gomes.
     Com essas amizades políticas, ele conseguiu trazer energia elétrica e água encanada para o São Caetano, no governo de Alcântara. Com Simão Fiterman e José Oduque, à abertura de novas ruas e a pavimentação de outras. Além do cargo de subdelegado por algum tempo. Na administração de José Oduque e Fernando Gomes, ele foi nomeado: “Chefe da Patrulha Mecânica Municipal”.
     Um fato que ocorreu no início dos anos 60, demonstrou o amor e o compromisso comunitário de Pedro do Bar pelo bairro São Caetano e permita-me o leitor, novamente, usar parte de um texto antigo (02.02.2011), de minha autoria:
     Com o assassinato do presidente dos E U A, John F. Kennedy, em 22 de novembro de 1963, os bajuladores dos ianques espalhados em todo mundo, deram o seu nome, in memoriam, aos bairros, ruas, praças, jardins etc. Nós, de terras tupiniquins, das terras do sem fim, não fugimos à regra. O vereador Antônio Calazans, velha raposa política, quis pegar o bonde da História e elaborou um anteprojeto de lei que mudava o nome de São Caetano para bairro presidente John Kennedy. A reação dos líderes comunitários Pedro Batista de Santana (Pedro do Bar), Eduardo Fonseca e o povo, foi enfurecida, irrefreável, movimentos de protestos pipocaram nos quatro cantos do bairro.
     Os reclames do povo e dos líderes comunitários chegaram ao prefeito, o Sr. José de Almeida Alcântara (apelidado carinhosamente pela meninada de “Arranca”, derivativo deformado de Alcântara), mestre da demagogia e da encenação. Ele foi sensível e oportunista aos protestos e reclames da comunidade caetanense, prometeu aos líderes e à comunidade, negociar com os vereadores, vetar o projeto, tirou proveito político o quanto pode...
     Os vereadores Calazans e Antônio Côrtes (relator da matéria), insistiam em submeter o projeto à assembleia para votação final, estavam irredutíveis, queriam a qualquer custo americanizar o bairro, trocando “São Caetano” por “John Kennedy”, a data da votação foi definida, parecia que os caetanenses estavam na casa do sem jeito, num beco sem saída, teriam mesmo que embolar a língua e pronunciar: - John Kennedy!...
     O dia D chegou. Os vereadores estavam convencidos da aprovação fácil do seu projeto, pouco se lixando para população, quando o prédio da Câmara de Vereadores (atual prédio da 27ª. Zona Eleitoral), a Praça Olinto Leone e as ruas circunvizinhas, foram tomadas de assalto por milhares de populares, moradores do bairro São Caetano e doutros bairros, gritando palavras de ordem, discursos, carro-de-som, faixas, cartazes, apitos, numa demonstração de cidadania e civismo nunca visto.
     Calazans acuado, sem respaldo popular, sem apoio político das autoridades da cidade (exceto seus pares), numa saída de mestre, esvaziou o plenário da Câmara, suspendeu o projeto por falta de quorum, articulou com os líderes do bairro uma nova proposta: não mudar o nome do bairro, mas manter a homenagem ao presidente americano, dando-lhe o seu nome à principal avenida, por muito tempo, o São Caetano teve sua “Avenida Kennedy”, mas graça ao sentimento patriótico das novas gerações, a posteriori, foi batizada com o nome de gente nossa: - Avenida Manoel Chaves!...
     Voltando no tempo, anos 70, Pedro do Bar usou o seu patrimônio político para eleger a vereador do município de Itabuna, pelo PMDB, o seu sobrinho, Rilvan Batista de Santana, naquela época, estudante universitário. A importância dessa eleição, foi um tento histórico, o seu sobrinho foi o primeiro legislador, genuinamente, são-caetanense.
     Nas eleições subsequentes, 1974/1977 e 1978/1981, com seu apoio, foi eleito e reeleito Eduardo Fonseca, misto de amigo e cunhado de Pedro do Bar. Faz-se justiça dizer que Eduardo Fonseca foi um importante protagonista na História do São Caetano, todavia, sua atividade principal era de caminhoneiro, morava no centro da cidade, Rua Almirante Tamandaré, meado dos anos 50, escoou muito cacau de Macuco – Itabuna – Ilhéus. No meado dos anos 60, fixou-se definitivamente no São Caetano e ajudou “seu” Pedro na reivindicação de algumas iniciativas públicas, foi um dos líderes no movimento que impediu mudar o nome de São Caetano para John Kennedy.
     Porém, o interesse maior de “Fonsequinha” era alavancar seu loteamento, num terreno de 10 hectares, vizinho do São Caetano, e, conseguiu, hoje, bairro Fonseca. A dobradinha política Pedro-Fonsequinha, permitiu que muitas obras públicas fossem desenvolvidas e implantadas no São Caetano e bairro Fonseca, principalmente, nos governos de Alcântara, Dr. Simão Fiterman e José Oduque Teixeira e Fernando Gomes nos seus primeiros mandatos.
     O objetivo deste texto é reconhecer Pedro do Bar como o principal protagonista na História do São Caetano, resguardando às devidas proporções, comparo o trabalho de Pedro Batista ao fundador da cidade, Firmino Alves, este foi mais longe, solicitou do governador José Marcelino a separação de Tabocas de Ilhéus e, consequentemente, o fundador de Itabuna. Pedro Batista de Santana foi um empreendedor mais modesto, mas, empenhou-se tão quão Firmino Alves, no desenvolvimento e no reconhecimento do São Caetano como lugar bom para morar e trabalhar.
     Como pesquisador histórico autodidata, depois duma revisão (análise de fatos históricos e informações orais), não poderia dar esse crédito, esse título de fundador do bairro São Caetano, ao agricultor José Batista Caetano, ele não deixou nenhum legado que o justificasse. As terras que, supostamente, eram suas, elas pertenciam de fato e direito ao coronel Tertuliano Guedes de Pinho. E, a topografia e a situação estratégica contribuíram para que o povo mansamente ocupasse essas terras. Ademais, seus herdeiros usufruíram do foro indevidamente, não tinham a legitimidade de proprietários da terra pelo entendimento de vários tribunais do país.
     O São Caetano, hoje, é uma cidade do outro lado da cidade, com mais de 50.000 habitantes, feira-livre, comércio pujante, mercados, farmácias, oficinas, agência da Caixa Econômica Federal, Santander, Banco do Brasil, sede da prefeitura da cidade, etc. É o centro financeiro e comercial de bairros circunvizinhos (Sarinha, Novo São Caetano, Pedro Jerônimo, etc.), o São Caetano tem mais importância logística, econômica e financeira que muitas cidades brasileiras.
     Alguém poderá perguntar qual foi a fonte de referência que usou o cronista para construção deste texto? Responderia que não existe nenhuma fonte de referência oficial, documental, até onde se sabe, nenhum historiador registrou esses fatos e os tornou público, tudo se baseia na tradição oral e em nossa vivência. A minha credibilidade é que fui testemunha da maioria desses acontecimentos e prestei um trabalho em educação por mais de 30 anos, que me credenciou receber do poder legislativo municipal, o título de “Cidadão Itabunense”.
     Fonsequinha, os herdeiros de José Batista Caetano e os herdeiros diretos do coronel Tertuliano Gudes de Pinho não estão mais entre os vivos, portanto, temos que nos valer dos arquivos vivos que foram testemunhas desses fatos desde a formação do bairro São Caetano.
     Hoje, “seu” Pedro, Pedro Batista de Santana com 93 anos de idade não é mais o mesmo empreendedor de antes e o São Caetano tem vida própria, é um organismo vivo, os milhares de seus habitantes e os poderes públicos cuidam do seu destino, não é mais necessário um líder para tomar decisões pessoais. As ações públicas, são ações de governo não de indivíduos.
     Por outro lado, as autoridades municipais de todos os tempos ainda não reconheceram os méritos desse pioneiro, desse homem que fundou esse bairro e deu-lhe identidade e vida. “Seu” Pedro ainda não foi reconhecido nem com título de “Cidadão Itabunense”. Ele é merecedor de reconhecimento, de busto na praça e nome de rua, agora, não homenagem depois de morto. No recôndito de sua alma simples, ele deve pensar em suas palavras, as palavras de Rui Barbosa: “A justiça atrasada não é justiça; senão injustiça qualificada e manifesta”.


Autoria: Rilvan Batista de Santana

Membro efetivo da Academia de Letras de Itabuna - ALITA

Licença: Creative Commons

Foto: Pedro Batista de Santana

Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 20/09/2020
Alterado em 27/06/2023


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr