Ler - R. Santana
Com tristeza, eu testemunho que essa geração não gosta de ler. Os estudantes, os profissionais liberais e os técnicos, hoje, limitam-se pautar seus procedimentos de pesquisa e leitura nas bibliotecas eletrônicas específicas, em particular, o Google, que é uma biblioteca eletrônica de conhecimento universal. O livro no dia a dia perdeu seu “status quo” de sonho de consumo dos leitores.
Não faz muito tempo, numa conversa com a mãe de um jovem advogado, em que eu defendia a necessidade de seu filho ler bons livros jurídicos para desempenhar bem seu papel de advogado, ela respondeu-me que livro era coisa do passado, "livro empoeira na estante", no mundo moderno todo saber está depositado em notebook, tablet, Smartphone, que nesses dispositivos, o advogado agenda a pauta, participa de videoconferência, tem modelo de petição, peticiona, existe tese jurídica pronta, fala com os amigos, ele participa de redes sociais e envia textos e imagens pelo WhatsApp, etc., etc.
A leitura é o exercício da mente, a leitura alonga os neurônios, quem gosta de ler, segundo a ciência, não terá mal de Alzheimer e, se a doença se manifestar na velhice, o comprometimento do sistema nervoso tem tratamento, isto é, o indivíduo conviverá com lucidez por mais tempo. Não é demais compartilhar o pensamento do poeta Mário Quintana sobre a leitura: “Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem”, ou seja, não adianta o sujeito bacharelar-se ou licenciar-se num curso A ou B, se ele não lê, não estuda, a leitura estica a compreensão e aprimora o saber.
É sabido que a correria profissional e a luta pela sobrevivência contribuem para o desleixo e a negligência com a leitura, porém, nunca é demais iniciar as novas gerações, filhos e netos, no hábito da leitura sem comprometimento de esportes físicos, artes, games, filmes e TV. A televisão fechada ou aberta tem programas educativos que estimulam a aprendizagem de crianças e adolescentes, todavia, o livro é responsável pela sua educação formal. A leitura e a escrita desenvolvem as faculdades cognitivas e a memória (faculdade de reter ideias, impressões e conhecimentos anteriores) de crianças e adolescentes.
Ariano Suassuna numa de suas famigeradas palestras, disse que alguém lhe censurou a produção de mais um livro, entusiasmado com as teorias de Marshall McLuhan que vislumbrou a internet trinta anos antes de ser inventada, preconizou também, a ruína do livro com a evolução da tecnologia do computador e das telecomunicações. Inteligente e prudente com as novas tecnologias, Suassuna perguntou-lhe onde havia lido Marshall MacLuhan: “Li o livro”. Contrariado, Ariano Suassuna com ímpeto e impaciência, respondeu-lhe: “Rapaz, eu gosto de ler deitado numa rede ou numa cama, como irei embrulhar-me com um computador?” Suassuna, também, não entendia a linguagem escrita, sucinta e não convencional que grassa nas comunicações de e-mails e redes sociais do país. Para o dramaturgo, romancista, ensaísta, poeta e professor, a língua é patrimônio cultura de uma nação e identidade de um povo.
Para Monteiro Lobato, o gênio da literatura infantil: “Quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê”. A leitura é condição “sine qua non” para o homem pensar, quem lê, maior é sua capacidade de discernimento. Mark Twain completa: “O homem que não lê bons livros não tem nenhuma vantagem sobre o homem que não sabe ler”. Quem lê bons livros torna-se mais humano, menos limitado e visão universal. É necessário que se faça da leitura um hábito (Santo Agostinho: “O hábito é uma segunda natureza”), pois, a leitura melhora as funções do cérebro e faz bem à alma.
Por falta de leitura e domínio do idioma, é que engolimos goela abaixo, os “estrangeirismos” que terminam em neologismos incorporados à língua ao longo do tempo. Hoje, está na moda a expressão: “Home Office (trabalho em casa ou, escritório em casa”). Mas, os galicismos e os anglicismos formam um novo idioma em nossa pátria. Temos que ter cuidado na defesa do nosso patrimônio cultural, mesmo que sejamos taxados de intolerantes. A nossa causa é a defesa de nossa identidade nacional, somente nossa língua será capaz de transmitir com rigorosa verdade os nossos valores culturais e a nossa História.
Antes que algum desavisado diga que este texto é uma apologia para reprovar as ferramentas digitais, os dispositivos móveis eletrônicos, os aplicativos de leitura e escrita, os textos e imagens eletrônicas, que somos contra às novas tecnologias, ledo engano desse indivíduo, o objetivo deste texto é estimular a leitura e a escrita em quaisquer que sejam as ferramentas, eletrônicas ou físicas, todavia, os conteúdos de informação e aprendizagem em bibliotecas eletrônicas ou enciclopédias impressas são superficiais, jamais alguém irá ler uma obra literária ou científica de 25 ou 30 volumes ou um livro jurídico de 200 páginas ou mais páginas em ferramentas digitais, elas não oferecem comodidade à comodidade de um livro.
Enfim, “a palavra voa, a escrita fica e o exemplo permanece”, dou-me como exemplo aos pré-adolescentes, adolescentes e adultos (elogiar-se é vitupério), na minha formação intelectual formal, tive muitas lacunas, face às minhas circunstâncias de estudante pobre da época, porém, eu consegui resolver a maioria dessas lacunas intelectuais com a leitura autodidata, de tal maneira que os meus contemporâneos deram-me o apodo carinhoso de: “O homem do livro”, levava o livro a tiracolo, aqui, ali e acolá.
Autor: Rilvan Batista de Santana
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Membro da Academia de Letragemas de Itabuna - ALITA
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