Textos


O Álbum

R. Santana

 

Encontrei Tanaguchi na Praça Olinto Leone, como de costume. Não me aproximei do velho amigo, quis lhe poupar do meu mau humor, naquele dia queria ficar comigo mesmo, mas o velho ateu tem olhos de lince e me buscou no outro lado do jardim no momento que eu estava embevecido com a perícia de 3 saguis que desciam e subiam nas enormes árvores, quando pegavam alguns alimentos no chão, deixado pelos amantes desses macaquitos. Não demorou, Tanaguchi atravessou os canteiros de flores e veio até mim:

- Meu caro Narvil, que prazer!

- O prazer é recíproco meu velho guru! Posso saber o que lhe trouxe aqui tão cedo?                                      

- Meu caro, é um mal da idade, os velhos dormem cedo e acordam antes do Sol nascer, aliás, às 5: 30 h do dia, nenhuma ave encontra-se mais no ninho. Lembro-me do dito do meu eterno pai quando me acordava ainda menino: “Deus ajuda quem cedo madruga”, portanto, acordar cedo para mim não é sacrifício, é costume (olhou de esguelha para minha sacola), é livro?

- Não, é um álbum de família!

- Você vai ver fotos nessa hora!?

- Rever o passado alimenta o tempo presente. Todos têm saudade do passado por melhor que seja o presente, quantas vezes ouvimos: “éramos felizes e não sabíamos”, o passado nos traz lembranças que jamais se apagarão do subconsciente, quando necessário, o consciente puxa-as lá de dentro, mesmo que vivamos mil anos!

- Depois... eu que sou o guru!?

- Todos têm lampejos de sabedoria quando se fala com o coração. O tempo lhe deu conhecimento e sabedoria mais do que a mim... Privilégio ter lhe conhecido, de lá pra cá, eu aprendi refletir sobre a vida e a arte de viver. Se não tem o que fazer e quer me agradar, sente-se neste banco e seja espectador e bom ouvinte, pois, eu irei desembrulhar o meu passado e daqueles que me foram e ainda são caros, neste álbum – Tanaguchi obedeceu.

 

 Foto 1                                                                                                                                                                                                                      
Esta foto, encardida pelo tempo, é de minha mãe. Mulher sofredora. Ela foi mãe quando deveria estar brincando de boneca. Teve seu primeiro filho aos 14 anos de vida. Não foi feliz em seus relacionamentos conjugais: teve que sustentar e educar, praticamente sozinha, seus sete filhos.

Esta foto, caro Tanaguchi, tirada duma máquina fotográfica Kodak, ainda reflete quanto ela era bem-apessoada mesmo o filme em preto e branco. Hoje, os filmes “Color Plus” registrariam com definição uma mulher: cútis branca, altura mediana, olhos verdes, cabelos castanhos corridos, boa compleição e traços harmônicos do rosto. Era uma mulher em seu tempo bonita, mas de sorriso triste.

Porém, meu amigo Tanaguchi, o mais admirável era sua força interior, adolescente, deixou seu primogênito com seus pais e o segundo filho, deixou com sua irmã mais velha, casada e sem filho. Assim que adquiriu maioridade, tomou empréstimo com parentes e amigos e comprou uma barraca de confecções na feira-livre de sua cidade, tornou-se feirante e morreu feirante.

A feira-livre deu-lhe condições de trabalho e dignidade de vida. Não morreu rica, mas, deixou para filhos e netos, exemplo de honestidade, perseverança e superação. A vida não lhe foi fácil desde o início, porém, ela não baixou a guarda, lutou até o último suspiro, venceu na vida e quedou-se na morte.

Se fosse autorizado, eu colocaria uma lápide em seu jazigo com o epitáfio:

“Aqui, repousa “L”, uma guerreira que enfrentou às diversidades da vida com determinação e coragem. Jamais deu trégua aos seus inimigos gratuitos. Ela não usou espadas ou pistolas, mas com força interior e fé em Deus, removeu todos os obstáculos existenciais e fincou os pés no bem e não suspendeu as hostilidades ao mal. Seu exemplo de vida nunca será esquecido pelos filhos, netos e amigos.”

Foto 2

Estimado filho de japoneses, sabe o que significa “malhada”? Sim? Bem... não é o significado do Aurélio, caro guru, é o significado regional lá do interior do Sergipe! Conhece-o? Não? Explicarei: lá no interior sergipano, malhada é um sítio (média de 2 hectares), onde a pessoa planta fumo, laranja, maracujá, etc. Todo agricultor possui uma malhada, que serve, inclusive, de moradia.

Na malhada, além da residência, tem um armazém que guarda o fumo enrolado num sarilho, depois que se extrai o mel de fumo. O armazém de fumo fica distante porque o cheiro de alcatrão é enorme e penetra com força nas narinas.

Esta foto, Tanaguchi, era o sítio do meu avô, o fotógrafo captou, somente, a sede, parte da cerca viva de macambira e a copa de algumas árvores. Todavia, estimado guru, no verso, o álbum tem mais 2 fotos, uma foto, é da lateral da casa-sede com 3 janelas em cada lateral, a outra foto, é um panorama da roça de fumo, em que todas as plantas estão perfiladas em covas lineares.

Tempo bom, Tanaguchi, nós trepávamos nos galhos das jaqueiras, das mangueiras, dos cajueiros e nos empanturrávamos de manga, de jaca e caju, sentados em algum canto do tronco das árvores. Com os laranjais eram diferentes, pois têm espinhos enormes, usa-se, geralmente, o podão para colheita das laranjas. Lembro-me duma prima que trazia uma porcelana de uns 2 litros, umas colheres, espremia as laranjas, diluía um pouco de farinha, acrescentava um pouco de açúcar e era um ponche gostoso nunca visto, um manjar dos deuses...

 

Foto 3


Às 8 horas, daquele dia, Tanaguchi apressou-se sair com o pretexto de ir ao médico marcar uma consulta. Como tinha certa intimidade com o velho guru, apelei para antiga amizade e fi-lo ficar:

- Meu amigo Tanaguchi, deixe de pretexto, você não tem nenhuma consulta médica para marcar... Onde está nossa amizade que não pode sacrificar um pouco seu tempo para me ouvir? - Tanaguchi ponderou:

- Meu amigo, eu não lhe minto, eu vim marcar uma consulta médica, todavia, não é sangria desatada, posso deixar para depois e ouvir seu passado com parcimônia e atenção se lhe deixo a contento com suas fotos! – Agradeci-lhe e continuei:

Esta foto foi dos anos 80, colorida e bem definida. Nela, estão todos os meus irmãos e “L” a chefe do clã, do seu lado direito estão os filhos e do seu lado esquerdo as filhas.

Nesse ano das fotos, todos os seus filhos já são adultos. O filho mais velho morava no Rio de Janeiro e tinha 2 filhos, ou seja, os primeiros netos de “L”. Suas filhas ainda solteiras, elas viviam às suas expensas. Os homens cada um vivia por si.

Esta foto é de mau agouro, amigo Tanaguchi, depois desta foto, nunca mais nos reunimos, cada um foi pra seu canto. “L” e seu filho mais velho morreram alguns anos depois.

Abre Parêntesis: “Tanaguchi, meu neto que arrumou e colou essas fotos, por isto, não se escandalize com a ordem do tempo” Fecha Parêntesis.

 

Foto 4


Prezado guru, esta é a foto da minha escola primária, misto de escola e residência. Nela funcionava uma sala enorme que cabia muitos alunos. As carteiras escolares eram conjugadas, sentavam-se 2 alunos cada. A casa não tinha jeito de escola, na frente 2 janelas e 1 porta padrão, depois da “sala-escola”, quartos, cozinha, banheiro-sanitário. Era proibido aos alunos atravessarem a porta da residência.


Não havia playground infantil nem quadra recreativa. O terreiro era forrado de grama natural e algumas plantas primitivas. Porém, nada impedia que no recreio brincássemos de pega-pega, de bola, de corda, etc. A escola era cercada de mato (capoeira) e pequenos arbustos. A professora proibia que adentrássemos no matagal.

Embora a parte física da escola não chamasse a atenção de algum viandante que por ali passasse, a pedagogia e a aprendizagem eram famosas. Os pais do lugar não abriam mão, desde o inicio do ano letivo, a escola começava cheia e terminava cheia, salvo alguma exceção, o aluno a deixava, mas a vaga era logo preenchida.

A professora Nair Assis era vocacionada ao magistério. Ela ensinava da 1ª. série à 5ª. série, depois do último curso, fazíamos “admissão” ao ginásio. Nessa escola, o aluno saía preparado em Português, Ciências, Matemática, Geografia, História e Caligrafia. Os sábados eram reservados à sabatina de Tabuada.

D. Nair tinha uma fixação por atividades para casa, em particular, “as cópias” e a Caligrafia. Na classe, os ditados de palavra. As palavras erradas eram reescritas 10 ou 20 vezes cada. Isto nos proporcionou menos erros ortográficos e vocabulário razoável.

D. Nair foi marcante em nossa pré-adolescência. Hoje, vários profissionais de nomeada, são remanescentes da Escola Sagrado Coração de Jesus.

Em outro texto (conto) que produzi, em que a protagonista é Dona Nancy, eu defini bem D. Nair, travestido naquele personagem Nancy: "Dona Nancy, uma descendente de negro que rejeitava essa condição com o alisamento cuidadoso do cabelo ou o uso de uma peruca de cabelo liso e a escolha de um sarará pra marido. Os filhos, dois puxaram ao pai na cor e os outros dois à mãe. Usando o eufemismo tradicional, dir-se-ia que Nancy era uma negra de alma branca. Corpulenta e atarracada, ensinava e dirigia a Escola Sagrada Família tão bem que os moradores mais afortunados do Banco Raso e adjacências disputavam vagas para seus filhos. Não conhecia Paulo Freire nem Anísio Teixeira, nem Lauro de Oliveira nem Piaget, nem Vygotsky, nem Wallon, enfim, nenhum revolucionário da didática e da educação, porém, o seu feijão - com - arroz era dado com dedicação e competência, ou melhor, seriedade e cobrança que a molecada saía direto para o ginásio passando pelas terríveis provas seletivas de admissão com louvor. Conhecia bem o português, a geografia, a história, a ciência e aritmética".

Ah, meu amigo Tanaguchi, saudade, saudade eterna daquele tempo... tempo lúdico e de inocência, tempo... tempo de descobertas, tempo... tempo de paz... tempo... tempo de felicidade que não volta mais... tempo de amor!

 

Foto 5

                                            
Esta foto Tanaguchi, foi tirada com muito orgulho, naquela época não havia informática, falava-se “an passant” em robôs americanos. Não havia computador, com programas Office de Word, de Excel, etc. O garoto rapaz ou moça que tivesse o diploma de datilografia estava preparado para o mercado de trabalho, inclusive, bancário do Banco do Brasil, naquele tempo bancário era o emprego mais desejado.

Não foi fácil obter o diploma de datilógrafo, o professor Leopoldo nos ensinava a partir das teclas (a,s,d,f e g /ç,l,k,j e h), depois, as teclas acima e abaixo da máquina, inclusive, as teclas de acentuação gráfica, quando tudo ia a contento, ele colocava uma placa que não conseguíamos enxergar as teclas, teríamos que escrever pela memória das digitais e a posição das mãos.

Tanaguchi, você analisou os detalhes da foto? Não? Pois, além do “chapéu” tradicional, na “gravata” branca em forma de losango, há o desenho bem definido duma máquina de datilografia e no papel do diploma não era diferente, essa máquina simbolizava a formação profissional do indivíduo.

Meu amigo, naquele tempo, o datilógrafo era o chique no último, muito mais do que, hoje, ser apto em computação.

 

Foto 6


- kkkk...

- Foi o quê?

- Diploma de ginásio é de rir!... – Tanaguchi entendeu o motivo da risada, o deboche do fato, por isto, continuei a descrição e o significado de minhas fotos porque Tanaguchi dava sinais de desânimo e precisava concluir a catarse da minha alma.

Tanaguchi, a sociedade anda de ré, alguns valores do passado são banalizados. Hoje, não se louva mais o conhecimento, mas as mensagens das Redes Sociais. Não sou saudosista, porém, é impossível não me lembrar da escola do passado, consequentemente, da aprendizagem daquele tempo.

O diploma de ginásio fazia jus, quando se concluía o ginásio, o sujeito estava qualificado para exercer as atividades do dia a dia. As empresas privadas e as públicas exigiam em seus concursos não mais do que o curso de ginásio para atividades básicas. O estudante fechava aquele ciclo versado em Gramática, História, Ciências, Matemática, Geografia, etc. A interpretação de texto e a leitura eram obrigatórias em todos os cursos. As atividades transversais de Tabuada e Caligrafia eram exigidas desde tenra idade.

Na minha vida acadêmica, eu fiz muitos cursos, inclusive cursos superiores, o embasamento daquele curso de ginásio, foi condição “sine qua non”, necessária para minha formação profissional de educador.

 

Foto 7

Esta foto e mais 2 outras, em dias e locais diferentes, registram, meu caro Tanaguchi, o meu primeiro namoro. Aqui, eu seguro o guidão da bicicleta com a mão direita enquanto puxo Vilma pra meu corpo com a mão esquerda. Nós éramos quase da mesma altura, ela um pouco mais baixa, eu, loiro de olhos esverdeados, ela, morena de olhos pretos, tínhamos os corpos franzinos. Eu tinha 17 anos de idade, ela, 15 anos de vida. A paixão e o amor pareciam nos unir para sempre, contudo, o destino foi outro.

Na segunda foto, nós estamos deitados numa grama trocando carícias, ela mais linda que Afrodite, a deusa grega do amor e da beleza. As nossas carícias eram inocentes e não passavam de alisar os cabelos um do outro e alguns beijinhos comportados. Ela invejava os meus olhos verdes e, eu lhe invejava seus cabelos mais pretos que as asas da graúna.
Lembro-me que o fotógrafo se preocupava em captar mais a beleza do lugar que os nossos idílios ternos e delicados. O lugar era lindo, pequenos arbustos, muito verde e flores de toda espécie, campo de amor e prazer. Porém, por mais que se esforçasse o fotógrafo, caro Tanaguchi, a foto em preto e branco esconde a beleza do lugar.

Na terceira foto, estamos com as mãos em oração, um defronte do outro, trocando juras de amor. É uma foto linda de 2 jovens apaixonados: um jura para o outro que nem a morte lhes separará porque serão unidos pela eternidade do amor e a proteção de Jesus Cristo.
Ledo engano, caro guru, por mais que afirmemos o livre arbítrio, as coisas estão, a priori, escritas no livro da vida. Os nossos destinos levaram-nos para mundos diferentes. Hoje, não sei onde está a Vilma que tanto a desejei e amei, será que em Marte, Vênus, Mercúrio, no distante Plutão? Ou, ela se transformou em alguma estrela iluminando a noite. Não sei!...

 

Foto 8
Tanaguchi, 5 fotos do meu casamento: a primeira foto, eu e a noiva estamos ajoelhados em frente ao padre Magno Mattos, sob as bênçãos do Espírito Santo. Na segunda foto, padrinhos e madrinhas do nosso matrimônio religioso. Na terceira foto, troca de alianças. Na quarta foto, beijo que sela o nosso matrimônio. Na quinta foto, parentes do noivo e da noiva e outros convidados. Além de outros convidados, registramos, também, Abmael Cabral de Santana, Pedro Pereira dos Santos, Agostinha Fonseca de Santana e Zenaide Magalhães.


Padre Magno (Ritual Final)


Troca de Alianças


Tanaguchi, eu tinha, nessa época, 32 anos de idade, no auge da força física e da vontade de viver. Ela tinha 24 anos de vida e esbanjava saúde. Conheci Vanda Maria, na escola que trabalhava, ela foi minha aluna, acho que não foi amor, mas um desafio, pois, desde o início o nosso relacionamento foi conturbado. Ela tinha saído de um casamento desastroso, eu, de um noivado sem amor, que resistia, mais, pelo compromisso moral assumido com a noiva e os pais da noiva.



Padrinhos do noivo e da noiva

Eu e Vanda Maria casamos na “Congregação dos Padres Missionários de Jesus”, uma igreja brasileira que não estava sob autoridade papal, essa igreja era mais democrática: casava os descasados de outras igrejas e divorciados do casamento civil. Não havia segurança jurídica, apenas, satisfação à sociedade.


O beijo que sela o matrimônio












Parentes e convidados

Hoje, não me posso queixar de casamento que é uma união voluntária entre 2 pessoas com o objetivo precípuo de formar uma família. Todavia, o casamento não é um mar de rosas, não é um contrato de união estável, é uma união difícil de 2 pessoas distintas de sangue e temperamento, costumes e hábitos diferentes, defeitos e qualidades e, que os cônjuges sobreviverão se souberem cultivar ao longo do tempo, renúncia, cumplicidade, solidariedade, compreensão, amizade e amor.

- Tanaguchi, eu estou chegando ao fim, por isto, peço-lhe que não se apresse, tenha paciência, faltam, apenas, 5 fotos que irei resumir os fatos para não lhe deixar ansioso, porém, interromperei a narrativa quando eu perceber no velho amigo, sinais de estresse ou desânimo.

- Fique à vontade Narvil, estou gostando de conhecer sua história de vida. Por mais que lhe conheça, alguns fatos estão distantes e os desconhecia, são momentos indescritíveis. Desejo que tenhamos outra oportunidade, também, passar a limpo o meu álbum.

- Obrigado!...

 

Foto 9


Os meus filhos têm uma enorme quantidade de fotos, prezado Tanaguchi, porém, esta é a mais significativa. Todos os meus três filhos estão aqui, com idade, naquela época, de 10, 11 e 15 anos de vida. Esta foto marcou a despedida da filha mais velha com os irmãos, um ano depois, ela morreu no Hospital das Clínicas de São Paulo. Aos 15 de idade Ana Paula teve leucemia e morreu aos 16 anos de idade, ano de 1993.



Paulo Roberto, Ana Paula,Vanda Maria e Anne Glace.

Hoje, Paulo Roberto tem 37 anos de vida e Anne Glace tem 38 anos de idade. Cada um cuida de si. Cada um tem sua família. Eles não dependem mais de mim, salvo, em alguma orientação profissional e de família.

A morte de um filho representa uma inversão na ordem natural da vida. Sepultar um filho é uma violência emocional, mexe com todos os sentimentos, é uma coisa inominável, vil e abjeto, uma coisa ilógica que não existe explicação racional. Sepultar um filho é uma dor tão profunda que só o tempo pode suavizar, mas sua memória não terá fim.



Ana Paula (1 ano)

Alguns anos depois, escrevi-lhe uma para explicar o inexplicável, um eufemismo intelectual, ficcional, assim, compreender sua perda num texto intitulado: “Carta para Paula”, num dos trechos, lamento Deus ter virado as costas para este mundo de males e sofrimento: “O quê fazer, Paulinha? Tu foste para eternidade e nos deixou, aqui, neste mundo de prazeres efêmeros, de lágrimas, de doenças, sofrimento e desespero intermináveis. Às vezes, Paulinha, eu penso que Deus virou as costas para este mundo de promiscuidade, corrupção, perversão, egoísmo, maldade, ganância, injustiça e desamor, assim se explica, as desventuras do homem bom, do homem justo e os infortúnios das crianças inocentes.”

Enfim, as lágrimas continuam rolando meu caro guru, por isso, lhe disse no início o significado dessa foto no alto da página do álbum e não preferi narrar às outras fotos dos meus filhos.

Foto 10




João Victor (I)

Prezado Tanaguchi, há um provérbio popular que "Deus tira os dentes e arreganha a goela", alguns anos depois que Paula foi pra o lado de lá, veio ao mundo o meu neto João Victor. Hoje, o pirralho está com 8 anos de idade, mas parece que tem mais, puxou ao pai que é alto e corpanzil considerável. Quando ele tirou esta foto, estava com 6 anos de vida.



João Victor (II)

Ficamos com João Victor até os 5 anos de idade, grandinho, minha filha o levou para Salvador. Foi uma separação sofrida, eu e avó sentimos muita falta dele, perto das férias, ele nos telefona: "vovô, vovó, estar perto!", e volta pra sua cidade natal. Seus pais dizem que ele fica tão ansioso que quase não dorme na noite anterior ao embarque.

Na época, descabelamos-nos com sua ida, mas mãe é mãe, vô é vô, o nosso príncipe foi morar na cidade soteropolitana, ficamos com a alma e a casa vazias. Mas, não perdemos de todo seu amor, ele fica contando os dias das férias escolares.

Olhe esta foto Tanaguchi, ele não parece um príncipe? Não me diga "não", vou achar que é inveja e a inveja corrói o espírito. Veja-o: branco, alto, cabelo preto e bom, semblante suave, contudo, o que me impressiona nesse pirralho é seu bom caráter, a amizade e, agora, seu amor pelos estudos e pelo esporte, em particular, o futebol. Ele será um Neymar...

Os avós amam seus netos mais que seus filhos, eu amo meu neto como nunca amei meus filhos, morrerei feliz se a felicidade lhe perseguir sempre.

Fundação da ALITA
19.04.2011

 

Foto 11


Esta foto, amigo Tanaguchi, traz mais lembranças ruins que boas. Não pensei que no meio intelectual se cultivasse tanto, o egoísmo, os superegos, menos humildade e mais presunção, mais saber e menos sabedoria, mais soberba que generosidade.

No ano de 2011, fui chamado pelo juiz Marcos Bandeira para lhe ajudar, junto com outros intelectuais, a fundação da Academia de Letras de Itabuna – ALITA. Senti-me honrado, não é pra qualquer um essa honraria, é o reconhecimento público de uma entidade sobre seus feitos intelectuais e literários.

Enquanto Marcos Bandeira foi o presidente da Academia de Letras de Itabuna - ALITA, homem justo, democrático e intelectual de nomeada, a academia teve seu ápice, depois que Bandeira deixou a presidência da entidade, tomaram conta a eminência parda, o arbítrio, a manipulação e a subserviência.

Abaixo, Tanaguchi, eu transcrevi um texto de minha autoria que registro quase em verso minha satisfação pela fundação da entidade.

Esta foto, Tanaguchi, estão todos os membros fundadores, se você olhar direitinho, eu sou o mais baixo e fiquei no lugar mais alto, dei uma de Zaqueu para ficar na mesma altura dos meus pares.

Peço-lhe que leia a contento o texto abaixo, produzido em 19 de abril em 2011:


"ALITA foi parida, veio à luz, numa das salas da FICC, às 9h, no dia 19 do mês de abril do ano cristão de 2011, e acalentada nos braços dos preclaros Cyro de Mattos, Dinalva Melo, Ruy Póvoas, Antônio Laranjeira Barbosa, Marcos Bandeira e outras mulheres e homens de expressão literária da terra do cacau. Este “escrevinhador”, o segundo filho de dona Leonor, também estava lá; não com a mesma competência obstétrica dos demais confrades, mas com o mesmo desejo de vê-la nascer com saúde para que daqui a alguns anos, perambule e troque ideias com suas irmãs gêmeas neste país de Drummond, Cora Coralina, Aluísio de Azevedo, Adonias Filho, Amado Jorge (perdoe me o trocadilho), João Ubaldo Ribeiro, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Guimarães Rosa, o mulato Lima Barreto, dentre outros, e o nosso mais louvado escritor, jornalista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, poeta e crítico literário, o mulato, Joaquim Maria Machado de Assis de registro de nascimento e “Machado de Assis” para o povão."


                                                 

                                        Mérito Educacional FTC


 

Foto 12



Título de "Cidadão Itabunense"
Câmara de Vereadores de Itabuna


Enfim, meu caro Tanaguchi, antes que o tédio e o cansaço lhe tomem o corpo, nesta página do álbum, colei várias fotos. São fotos de 2 homenagens que recebi, agora, no ano de 2019, precisamente, no dia 25 de julho e dia 16 de outubro.

No dia 25 de julho na AABB, recebi o título de Cidadão Itabunense pela Câmara de Vereadores de Itabuna, indicação de vereador Edmilson Cabral de Santana, o Júnior do Trator. Esse título, meu amigo, não lhe minto, sempre o persegui, pois, sou mais baiano que sergipano.

Fui trazido por minha tia Judite pra Itabuna, em tenra idade. Aqui, fui criança, pré-adolescente, adolescente, adulto, hoje, sou idoso, portanto, nada mais justo que o reconhecimento de minha dedicação nesta comunidade. Aqui, eu estudei, me formei, fui professor por 34 anos nos cursos fundamentais e médios, nada mais justo do que o título de cidadão Itabunense.

No dia 16 de outubro do ano de 2019, eu fui agraciado com o título: Mérito Educacional FTC, concedido pela Faculdade de Tecnologia e Ciências – FTC, em reconhecimento aos relevantes serviços prestados à Educação Grapiúna. – Obrigado, meu velho guru Tanaguchi.






Autoria: Rilvan Batista de Santana
Licença: Creative Commons
Itabuna, 11 de dezembro de 2019.
P. S.: Por dificuldade técnica, não foi possível divulgar todas as fotos, recorremos ao Google algumas imagens para ilustar a história.

 


 

 

Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 14/12/2019
Alterado em 22/07/2023


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr