Ladrão genial - R. Santana
Ladrão genial
R. Santana
Assalto a banco, saidinha de banco, sequestro e latrocínio eram coisas inimagináveis nos meados do Século XX, aliás, ladrão só de galinha e alguns golpistas salafrários que usavam a boa fé dos incautos para lhes roubar. Os judeus e os agiotas eram confundidos e mal vistos pela sociedade, pois eles emprestavam dinheiro a juros escorchantes às pessoas necessitadas de recursos financeiros e quando inadimplentes, eles perdiam seus bens na justiça, afora esses escroques, a população vivia livre, leve e sossegada.
Nas noites de verão itabunense, aqui, no Bairro São Caetano, as pessoas dormiam de janelas abertas e sem grades, então, os vizinhos se juntavam nas calçadas, as mulheres jogavam conversa fora, os homens jogavam dama ou dominó e, a criançada brincava de pega-pega, sem preocupação de malfazejo.
Nesse céu azul de brigadeiro vivíamos todos tranquilos e quando havia algo que destoava dessa tranquilidade era um deus nos acuda, um auê, por isto, nunca me esqueci daqueles tempos idos de um roubo suis generis, praticado por um sujeito de prenome Altino ao bodegueiro Antônio Fonseca. Altino não era um ladrão de carreira, era um trabalhador rural, furtava alguma coisa quando a fome lhe batia à porta. Antônio Fonseca era um bodegueiro forte, sua bodega era uma armazém que vendia do carrinho de linha ao fardo de charque. Sovina histórico, gostava de trabalhar sozinho, por isto, de quando em vez, devido sua idade avançada, ele era ludibriado.
Altino impedido de adentrar dentro do balcão porque poderia ser flagrado e preso, usou um vara de pescar com a ponta untada de visgo de jaca que cobria a distância entre o balcão e a gaveta. Quando o velho Antônio Fonseca virava as costas para pegar um produto, Altino “pescava” o dinheiro da gaveta que, grosso modo, ficava entreaberta.
A sabedoria popular diz que, “quem gosta volta”, Altino gostou do dinheiro fácil e voltou outros dias e um desses dias, ele foi flagrado com a mão na botija, melhor, com a vara de visgo na gaveta de dinheiro. Altino passou cinco dias no xilindró, recebeu um corretivo, devolveu o dinheiro ao idoso comerciante e desapareceu cheio de vergonha do São Caetano.
Foi bem feito... cara pálida!
Autoria: Rilvan Batista de Santana
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