Carta para Eugênio - R. Santana
Caro Eugênio:
Há nos manuais dos escritores (não é o meu caso, sou um escrevinhador e não um escritor), uma restrição ao uso do gerúndio à toa e o excesso de gerúndio é classificado de gerundismo. Veja o que diz o site Wikipédia: “Gerundismo é uma locução verbal que consiste no uso sistemático de verbos no gerúndio, cujo emprego é relativamente recente no português, particularmente o brasileiro. A concordância da construção com a sintaxe do português não é ponto pacífico, sendo, por vezes, considerada um vício de linguagem”.
Eu sou criterioso com a língua, todavia, mais importante que corrigir gramática num texto de ficção, é a mensagem subjacente e se o texto é uma boa história e criativo. O artista da palavra não está preocupado com filigranas gramaticais, pois se assim fosse, não teríamos um Lima Barreto e um Guimarães Rosa. Este escreveu grandes obras que muitas palavras foram inventadas e, o primeiro deu trabalho enorme aos redatores em corrigi-lo.
Há dois tipos de linguagem: a linguagem convencional e a linguagem coloquial, além da linguagem de terceiros, que não é do autor, e, é colocada entre aspas e não há cobrança se é certa ou errada.
Hoje, eu tenho 300 títulos (contos, crônicas, cartas, etc.) no site de nível nacional RECANTO DAS LETRAS, além de 5 romances, inclusive, 13 livros no site Domínio Público – MEC. Acho que estes sites priorizam a gramática, mas acima de tudo a CRIATIVIDADE
Uma catadora de lixo, no Rio de Janeiro, de nome Carolina Maria de Jesus, escreveu: “Quarto de Despejo”. Será que ela era eximia no idioma? Claro que não, mas sua história foi best-seller por muito tempo em todo país.
Se você lê no Google os comentários que algumas pessoas fizeram nessa história: “A noiva que saiu do túmulo”, para mim foram estimuladores e valeu a pena lhe solicitar e demais amigos, o roteiro de ruas e avenidas de Salvador para que eu pudesse construir esse conto.
Fico grato com suas observações, porém, ficou triste por não ter atingido (olhe o gerúndio aí!), seu interesse pela interpretação do texto, da história, ou seja, se a história foi boa ou ruim. Cordialmente, Rilvan. Itabuna, 25.09.2017
Post Scriptum:
Eu irei publicar este texto no “Saber-Literário”, para que muitas pessoas não usem o gerúndio aleatoriamente, sem falsa modéstia, irá servir de lição para muitos leitores.
O idioma é falado 90% na linguagem coloquial e 10% na linguagem clássica. Não faz muito tempo, meus tímpanos quase estouram quando um "intelectual" insistiu em falar "estadia" no lugar de "estada". O primeiro termo, é o prazo de carga e descarga que o navio tem para ficar em um porto; o segundo termo, é o ato de estar em algum lugar. Porém, seus interlocutores entenderam que sua estada em algum lugar foi por tempo “xis”.
Às vezes, as convenções servem para atrapalhar a criatividade. Quantas pessoas criativas se perdem por causa de nosso complicado português? Quantos potenciais escritores e poetas têm medo de colocar no papel suas ideias? Enésimos! Por isto, a criatividade deveria se sobrepor ao convencional.