O Guriatã e o Pintassilgo - R. Santana
Não faz muito tempo, mas um tiquinho de tempo, que o Guriatã arvorou-se, estufou o peito de vaidade – eu sou o maior intérprete da natureza, portanto, não é justo ficar de fora da Confraria dos Músicos da Floresta (CMF) -, e, espalhou pra quem quisesse ouvir-lhe que seria candidato à confraria assim que um dos seus membros morresse. Tudo ia muito bem se o Pintassilgo não lhe fizesse oposição: “... Gaturamo não é Curió!”, não estava sozinho, a maioria dos pássaros lhe fazia coro.
Porém, o Guriatã tinha seus seguidores: um artista que versava em mais de 50 cantos, não era justo ficar de fora da “Confraria dos Músicos da Floresta – CMF”. Dentre seus seguidores, a Calopsita e o Corvo eram as mais fiéis: a primeira por interesses iguais e a segunda por puxa-saquismo, por isto, os conflitos eram constantes e trocavam farpas:
- Eu o acompanharei ao próximo congresso da CMF... – a Calopsita a interrompe:
- Não! Quem lhe autorizou, parente de Anum?
- A minha amizade!
- Ah ah ah...
- Ridícula!!!
- Eu!?
- Existe outra serelepe aqui?
- Não, encarnação do mal!
- Vem, branquela xexelenta!
- E você? Com esse grasnir de “gato engasgado”, cavernoso, grasnido de alma de padre... Negra como agente funerário!
- Eu tenho orgulho da minha raça, amarela enxofrada! Tu não passas de periquito que não deu certo, canto de corneta Uirapuru!...
O Guriatã continuou arrostar cantos e mais cantos, mais amigo dos pássaros que sabiam cantar e indiferente com aqueles que não cantavam.
A reunião foi marcada para escolha do novo membro da Confraria dos Músicos da Floresta - CMF. Naquele dia, os 13 músicos e cantantes mais importantes da floresta estavam lá: o Uirapuru, o Rouxinol, o Curió, o Sabiá, o Pássaro Preto, o Bicudo, Trinca de ferro ou “João velho”, o Azulão, o Bigodinho Mineiro, o Canário Belga, o Pintassilgo, o Cardeal e o Coleirinha.
O Sabiá, o canto mais melodioso da floresta presidia os trabalhos, assessorado pelo Curió e secretariados pelo Pássaro Preto.
João Velho apresentou o Guriatã aos confrades, ressaltou suas qualidades de intérprete mais dotado da natureza. O Pintassilgo acusou o Guriatã de cantante medíocre, um imitador comum, plagiador, que não produzia canto próprio, diferente do Curió que imitava, mas produzia suas melodias, enfim, o Guriatã não passava de um embusteiro.
Os trabalhos ocorreram como de praxe. A eleição, avaliada pelos expertos, o Guriatã venceria se somente se o Pássaro Preto não gritasse:
- Cantantes, cantantes, a urna de votos foi inutilizada, ela está cheia de cocô!!!
Todos olharam pra cima e o Beija-flor, a única ave que sobrevoa e pára no meio do nada...
Moral da História: Não se deve subestimar o outro. Deve-se respeitar os diferentes, pois Deus premiou todos os seres com aptidões e talentos. Nenhum ser Lhe é insignificante!...
(*) Fábula
Autor: Rilvan Batista de Santana
Licença: Creative Commons
Membro da Academias de Letras de Itabuna -ALITA
Imagem: Google