O silêncio - R. Santana
Bronca é arma de trouxa. Tudo que o desafeto quer de alguém é o seu descontrole emocional, isto lhe dará subsídios para novas investidas, novas difamações, novas tergiversações dos fatos, culminando, às vezes, com agressões físicas e/ou morais. Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda de Hitler, sustentava que “uma mentira repetida ganha foro de verdade”, pois desconstruir uma falsidade que o povo tomou como verdade, é humanamente impossível, talvez, o tempo seja o senhor da razão e a verdade prevaleça.
O silêncio incomoda, não é à toa que a presidente Dilma Rousseff disse diante dos últimos movimentos populares antigovernistas: “preferimos o barulho das vozes na democracia ao silêncio oprimido das falas escondidas...”. Aqui, o silêncio incomoda porque deixa os detentores do poder em polvorosa sem saber qual o próximo passo de quem em silêncio está detrás dos acontecimentos. Conhece-se o grito da turba, todavia, desconhece-se a vontade dos que estão em silêncio.
O mau caráter por mais que diga: “olhe minha cara de preocupado...”, “não estou nem aí...”, “estou me lixando...”, intimamente, ele reprime o sentimento de ódio, de raiva, de decepção, de frustração, ante a força do silêncio, porque o substrato de sua maldade é o descontrole emocional do seu desafeto, de seu inimigo, de seu adversário de “pavio curto”, se lhe é negado esse material, ele não terá condições de urdir novas aleivosias, falsas acusações, mentiras e deslealdades.
Sábio é o homem que exercita a arte de ouvir mais do que a arte de falar. A sabedoria popular diz: “Quem fala demais dá bom dia a cavalo”, isto é, quem fala pelos cotovelos não pensa... Poucos na História da Humanidade dominaram tão bem a arte de falar da mesma forma que o romano Cícero e o grego Demóstenes ou dominaram a arte de ouvir como Sócrates e Aristóteles.
O vulgo diz: “Deus deu-nos dois ouvidos e uma boca, se Ele quisesse que falássemos mais e ouvíssemos menos, seria o contrário”. O homem comum tem razão, é que a arte de ouvir é mais difícil do que a arte de falar, saber ouvir mais do que falar, exige paciência, disciplina e sabedoria, quem ouve muito e fala pouco, é justo em seu juízo.
O juiz, agente do poder judiciário, talvez seja o profissional mais treinado para ouvir mais do que falar. Sua função é administrar conflitos e conciliar os interesses das partes em demanda, promover a dignidade humana e a paz social, portanto, ele tem como condição sine qua non, a imparcialidade, ou seja, agir mais e não manifestar sua opinião, salvo, à luz do processo: o silêncio é o seu refúgio.
Dentre os cônjuges, a mulher usa mais a língua e a emoção para resolver seus problemas e não o muque. O homem usa o muque, porém, é mais introspectivo, mais reflexivo, geralmente, o homem se esconde no silêncio para suportar a tagarelice feminina e quando ele usa com competência o silêncio como resposta, sua relação conjugal é mais duradoura e o amor é eterno enquanto dure.
Faz-se necessário dizer que silencio não é, somente, ausência de voz, ausência de ruído, ausência de som, mas várias atitudes sistemáticas. O silencio é um comportamento que se impõe pelo argumento da fala contida. O silêncio também não se caracteriza por atitude isolada, aleatória, não pensada, automatizada, mas por um conjunto de atos refletidos. Se alguém grita a ermo, sem significado, o outro pode tampar os ouvidos, contudo, não lhe dará a resposta do silêncio.
A arte do silêncio, também, pode ser nociva e destruidora. Quantas vidas já foram ceifadas por governos discricionários, justiceiros, bandidos e pessoas más, perpetradas na calada da noite, ao longo da História? Um-sem número de mortes!... Conta-se que Joseph Stálin era um homem taciturno, ouvia mais que falava, notabilizou-se pelo sangue que derramou dos adversários e pela dureza do seu governo na Segunda Guerra Mundial e após na Guerra Fria com os Estados Unidos e os países não alinhados com Moscou.
Todavia, para as dissensões cotidianas, para as futricas de maricas, para as contendas do dia a dia, para as atitudes rasteiras, para as atitudes medíocres, o silêncio é a melhor resposta.
Autor: Rilvan Batista de Santana
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Membro da Academia de Letras de Itabuna - ALITA
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