Roubaram a inocência do moleque R. Santana
Qual o cristão que não gosta do Natal? Nenhum. Homem, mulher, menino, menina, todos gostam de festejar o nascimento de Jesus Cristo, sem medo de heresia, todos curtem mais o Natal do que sua Paixão e Ressurreição porque o Natal é o broto da vida enquanto a Paixão é o roxo da vida.
O Natal perdeu a simplicidade doutros tempos, onde a família se reunia em lauto jantar festivo com prelúdios de oração e após a janta iam assistir à Missa do Galo, de lá voltavam para casa felizes, jovens e velhos, namorados de mãos dadas, crianças no colo dos pais e meninos e meninas saracoteando...
Se pra nascer o moleque era trazido pela cegonha, para ter o brinquedo dos sonhos, a molecada implorava que Papai Noel descesse pela chaminé ou adentrasse pela janela de sua casa com o saco superlotado e deixasse o seu brinquedo embaixo da cama ou dentro do sapato ou dentro das meias, desperto o moleque com o canto do galo, o seu brinquedo encontrava. Nenhum pedagogo, nenhum psicólogo, talvez, algum poeta ou algum pintor soubesse colocar no papel ou na tela esse sentimento lúdico e indescritível que era o presente de Papai Noel!...
Com o advento da Internet, da televisão, e, doutros meios de comunicação, o Natal perdeu sua simplicidade e sua tradição diminuiu o ritmo, até o Papai Noel deixou de ser lenda para ser velho barrigudo de barba branca fedorenta e maltratada, travestido a caráter, nas portas das lojas e dos shoppings atraindo os pais e as crianças.
O velhinho rechonchudo inspirado no arcebispo Nicolau Taumaturgo de Mira na Turquia, nascido no Pólo Norte, que usava trenós carregados de brinquedos e arrastados por renas não existe mais na cabeça da molecada. Hoje, ele virou garoto propaganda das grandes empresas em todo mundo, aqui, em nossa terra tupiniquim, os Correios, as prefeituras e alguns empresários filantropos travestidos fazem sua vez, mas sem graça e sem sonhos, mais uma esmola do que brinquedo...
O sonho, a surpresa, a ansiedade de um menino na noite de Natal, o mito e a tradição foram trocados pelo frio glamour dos supermercados, das lojas de brinquedos, pelo selo do INMETRO e pelo comércio clandestino do camelô.
A informação massificada modificou a conduta do pimpolho e roubou-lhe a poesia e a inocência. Atualmente, não são os pais que decidem na alcova, aos cochichos, o sonho de felicidade do seu pequerrucho, mas a televisão que orienta o moleque escolher o seu brinquedo e o Papai Noel é a figura do papel de presente, para maioria dos miseráveis é o consolo do letrista Assis Valente:
“...Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
Bem assim felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel
Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel
Não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
È brinquedo que não tem.”
Mas, para todos moleques do mundo que pensaram ser filhos de Papai Noel, que o brinquedo veio e a “felicidade é brinquedo que não tem”, a saída é gritar:
-Roubaram a minha inocência!!!...
Gênero: Crônica
Autor: Rilvan Batista de Santana
Membro da Academia de Letras de Itabuna - ALITA