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A vida não é uma missão R. Santana


A vida não é uma missão
R. Santana

 
A crônica “A missão de cada um de nós” do Juiz de Direito e titular da Vara da Infância e da Juventude de Itabuna e acadêmico da ALITA Marcos Bandeira, é um texto impecável, sentimental, poético, pois narra a história de Rodrigo, um garoto de 8 anos que foi adotado por uma família de Curitiba, depois de algum tempo internado na instituição SOS Canto da Criança em Itabuna, além dele acreditar que cada indivíduo tem sua missão no mundo. O destino do homem é recorrente: “O homem traz uma missão ao nascer, um destino?” Ele responde com a música “Além do Espelho” de João Nogueira: “A vida é uma missão, a morte é uma ilusão, só sabe quem viveu, pois quando o espelho é bom, ninguém jamais morreu”, e, pondera quando se refere ao garoto Rodrigo: “... Ele me passou a mensagem deixando à mostra minha missão terrena...”
Certamente, a vida é um mistério sem fim, o homem sempre questionou inútil: sua origem, quem é, para onde vai, e, perde-se em ilações e discussões estéreis. Porém, uma coisa é certa: a vida não é uma missão! O homem não nasce bom ou mau, mas com as potencialidades do bem e do mal e ele desenvolve o bem ou o mal de acordo as circunstâncias de vida. Quem acredita que a vida é uma missão, acredita na fatalidade, não no livre arbítrio deixado por Deus desde Adão e Eva.
No ano 2010, publiquei nos principais sites do país, inclusive, “Domínio Público – MEC”, um ensaio religioso e filosófico “O homem nasce para ser feliz?”, cujo objetivo é ajudar desconstruir o estigma do determinismo, da fatalidade, da coisa programada, da felicidade permanente etc., ali, sugiro ao leitor que reflita sobre o mundo de possibilidades necessárias, contingenciais e reais.
O homem é suas circunstâncias: ele é influenciado pelo meio ambiente, mas não é determinado pelo meio ambiente, possui livre arbítrio e vontade, ou seja, ele é capaz de transformar o meio ambiente onde nasceu e viveu e definir seu próprio destino de acordo suas aptidões. Se a lógica fosse outra, todo filho de médico, por exemplo, seria médico e não policial, engenheiro, professor... Se o homem nascesse já com alguma incumbência, o livre arbítrio seria uma falácia, o homem não seria o protagonista do seu destino, Deus não seria Deus de justiça porque permitiria que uns nascessem bons e outros maus, uns nascessem com a missão de praticar o bem e outros com a missão de praticar o mal. Mas, o homem vem ao mundo como uma “tabula rasa”, pouco e pouco, constrói sua história.
Se o homem não traz uma missão ao nascer, qual é a explicação para genialidade, generosidade, sacrifício, desprendimento e solidariedade? Através das aptidões diferenciadas e determinação. Certa feita, alguém perguntou ao genial Thomas Edison, se os seus inventos eram inspirados e obteve a resposta que eram transpirados, resultados de noites mal dormidas no laboratório perseguindo uma ideia. Se Charles Darwin não tivesse passado quase cincos anos no “Beagle”, explorando terras e mares, estudando vegetais e animais, não teria escrito sua obra prima sobre evolução: “A Origem das Espécies”.
O homem não é um robô, não é um autômato, não vem ao mundo programado para desempenhar este ou aquele papel, mas ele nasce com inteligência, vontade, aptidões físicas e mentais, é necessário, apenas, que ele descubra sua habilidade natural e persiga o seu ideal. Se o indivíduo tem um ouvido musical e não desenvolve com determinação essa aptidão, o seu talento musical jamais será virtuoso e reconhecido.
Enfim, Deus deu vida ao homem, dotou-lhe de razão e vontade e deu-lhe livre arbítrio para escolher entre o bem e o mal. O homem constrói sua história influenciando e sendo influenciado pelo meio ambiente. A lei do retorno é universal: quem planta abrolhos não colhe rosas. O bem sempre vence o mal e o mal por si, se destrói. O segredo do sucesso é não perder a circunstância favorável da vida. O mal não é castigo divino, mas uma possibilidade.


Autor: Rilvan Batista de Santana
Licença: Creative Commons
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 06/11/2014


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr