Textos


               O poeta  - R. Santana


          - Olá Narvil, tudo bem?
          - Tudo bem, Marcos!
          - Eu soube que além de escritor, você é poeta?
          - Eu não sou escritor Marcos, menos ainda poeta!
          - Deixe de modéstia, homem!
        - Não é modéstia, é a realidade, para ser escritor ou poeta tem que ser reconhecido pela crítica especializada e pelo povo!
          - Mas, já li muita coisa de sua autoria!
          - Marcos, eu escrevo algumas bobagens...
          - Narvil, sua prosa é boa e seu verso é livre!
          - Fazer poesia não é fácil... Hoje, virou moda fazer verso, mas não significa ser poeta!
          - Como assim!?
          - A técnica de fazer poesia aprende-se nas escolas, mas ter alma de poeta...
          - Seja mais claro!
          - Vou lhe dar como exemplo, dois gênios da literatura brasileira: Machado de Assis e Castro Alves. Um tem excesso de imaginação criativa, o outro, sobra sensibilidade. Machado de Assis é escritor, Castro Alves, poeta – vejamos Livros e flores de Machado de Assis: “Teus olhos são meus livros. / Que livro há aí melhor, / Em que melhor se leia / A página do amor?” / “Flores me são teus lábios. / Onde há mais bela flor, / Em que melhor se beba / O bálsamo do amor?” - Agora, vejamos o poema O livro e a América de Castro Alves: “Oh! Bendito o que semeia / Livros à mão cheia / E manda o povo pensar! / O livro caindo n´alma / É germe – que faz a palma, / É chuva – que faz o mar!” – e continuou Narvil:
- O objeto temático dos poemas é “livro”. Não obstante o gênio literário de Machado de Assis, seus poemas são versos comuns, sem alma, sem paixão, sem inspiração, salvo apenas, pela erudição do autor, pela grandeza de sua prosa, no entanto, em Castro Alves, O livro e a América, há um apelo épico, uma exortação à cultura e ao saber, o livro é instrumento de mudança, pois ensina o povo pensar! – concluiu Narvil.
          - Hum!
          - O quê!? Alguma dúvida?...
          - Não... Não... Sim... Sim... Sabe Narvil, para mim, Machado de Assis é o maior escritor brasileiro e um dos maiores do mundo, por isto, não penso num Machado de Assis de grandeza menor. Acho que você não foi feliz no exemplo!...
          - Talvez, não me tenha feito entender: Machado, seguramente, é o maior romancista do Brasil e quiçá da língua portuguesa, porém, não tinha alma de poeta, mas de romancista, cronista, articulista, contista, dramaturgo, etc., etc. Quis lhe dizer que uns têm mais sensibilidade do que outros. Euclides da Cunha escreveu a maior epopeia brasileira: “Os Sertões”, todavia, não se pode dizer a mesma coisa de sua poesia. Hoje, temos uma centena de poetas, aqui e no mundo, todavia, nada que se compare a Cecília Meireles, Cora Coralina, Drummond, Fernando Pessoa, T. S. Eliot, Paul Valéry, Ferreira Gullar, dentre outros. Entendeu a diferença entre o escritor e o poeta, Marcos?
          - Entendi. Parece que a diferença está no tamanho da emoção. O poeta é aquele que expressa melhor seu sentimento, não é Narvil?
          - Claro. Por isto, é considerável o estereotipo de comportamento dos poetas, sua conduta é diferente. Quem não conhece as extravagâncias de vida de Noel Rosa, Vinícius de Moraes, Raul Seixas, Castro Alves, Álvares de Azevedo, Edgar Allan Poe, Hemingway e outros que, agora, não me vêm à memória, meu caro Marcos!
                - Obrigado Narvil. Valeu!
          - Quero esclarecer, que não se pode desprezar nenhuma produção da mente humana, independente do grau de sensibilidade do autor, a boa palavra é sempre bem vinda – concluiu Narvil.

 



Autor: Rilvan Batista de Santana
Licença: Creative Commons

Membro da Academia de Letras de Itabuna - ALITA

Imagem: Google

Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 01/10/2014
Alterado em 13/08/2024


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