João Victor e o mundo encantado R. Santana
João Victor e o mundo encantado
R. Santana
Eu estive 15 dias no mês de maio com João Victor em Salvador. O pituquinha me surpreende cada dia que passa. Agora, com 2 anos e 8 meses de idade, ele fala as coisas explicadas, não fala mais “nhan”, “papá”, “mamã”, “vô” e “vavá”, mas “não”, “papai”, “mamãe”, “vovô” e “vovó”. Ainda não deixou de usar fraldas, não chegou ainda o seu tempo, mas um dia ele se libertará desse incômodo vestuário de fazer xixi e coco.
Hoje, meu pituquinha está mais sabido, assim que acorda, toma banho, bebe o seu “gagau” , vai para o playground do edifício brincar de velotrol ou de moto movida à bateria elétrica, senão, aperta o play do seu DVD e vai ouvir e ver patati patatá, galinha pintadinha, borboletinha, dona aranha, ou, o sapo não lava o pé, quando enjoa, ele pede-me, aliás, ordena que eu ligue o notebook:
- Vovô, Lepo Lepo!.. – aí ele dança igual às meninas de Psirico, se eu não reconhecesse que sou vovô babão, diria que dança melhor do que as meninas de Márcio Victor.
Porém, o xodó de João Victor, atualmente, são as histórias do mundo encantado, principalmente, as fábulas infantis adaptadas pelos Irmãos Grimm, dentre elas, “Chapeuzinho Vermelho”, não a história de “Chapeuzinho Vermelho” contada pelos bardos na Idade Média, sem autoria definida, onde o lobo mau comia todo mundo, mas a história atual preocupada com os animais em que o lobo mau é poupado pelo caçador, inclusive, ele dá-lhe remédio para curar sua dor de barriga causada pelo bolo que “Chapeuzinho Vermelha” levava na cesta para vovozinha.
Li, sem exagero de contador de histórias, o livro infantil de ”Chapeuzinho Vermelho” dezenas de vezes, quando menos esperava, meu pituquinha, ordenava: “leia mais, vovô!”, eu começava: “Em um vilarejo perto da floresta morava uma menina com sua mãe, seu nome era Chapeuzinho Vermelho”, recomeçava na outra página: “Certo dia sua mãe falou, Chapeuzinho vai levar esta cesta de bolo e este remédio, sua vovozinha está doente e fraca, mas cuidado, não fale com estranhos.”
A história continua, “Chapeuzinho Vermelho” vai serelepe pela floresta, de repente, encontra o lobo que lhe pergunta aonde ia, ela o despista e vai colher flores, então, o lobo mau corre à casa da vovó, tenta lhe agarrar, a vovozinha foge e se esconde no guarda-roupa, enquanto isso, o lobo mau se empanturra com o bolo da vovozinha e tem uma tremenda dor de barriga. “Chapeuzinho vermelho” pede socorro ao caçador que ao invés de socorrer-lhe, socorre primeiro o lobo que está com forte dor de barriga, o lobo fica curado e devolvido para floresta, enfim, todos ficaram salvos e felizes.
Se a leitura ocorre no início da noite, quando as pálpebras de João Victor teimam não fechar, eu imploro ao deus Morfeu para que ele permaneça mais algum tempo acordado, então, provoco-o com versos populares que a minha querida tia Celsa gosta de declamar:
- Vitinho, fale rápido e ganhe um pirulito!!! – aí ele desperta.
- Falar, vovô!?
- Sim, preste atenção! – a custo, ele fica todo ouvido:
- Quem a paca cara compra, paca cara pagará! – Vitinho tenta:
- Que cara... cara...paca...paga... – compreende o seu erro e cai na gargalhada...
- Ah ah ah ah ah... – Vitinho fica contagiado com minha risada e quer repetir, mas lhe jogo outro verso:
- Uma velha atrás da moita, estirou uma perna e encolheu a outra. Uma velha atrás da moita, estirou uma perna e encolheu a outra. Uma velha atrás da moita, estirou uma perna e encolheu a outra... – repeti várias vezes para que pituquinha entendesse, mas não gostou:
- Vozinho, é feio, a outra... – entendi:
- Quem a paca cara compra, paca cara pagará. Quem a paca cara compra, paca cara pagará. Quem a paca cara compra, paca cara pagará... – João Vitor tenta:
- Paca cara... cara pagará...paca... paca... – Vitinho se atrapalha mais uma vez como era esperado... Ele olhou para mim, eu olhei pra ele e caímos na risada:
- Vovô maluco, vovô maluco, vovô maluco... – fugiu para cama e alguns minutos depois, estava nos braços de Morfeu de sono solto.
Certamente, a felicidade não está nas grandes realizações humanas, mas nos gestos e inocência dos pequeninos.
Autor: Rilvan Batista de Santana
Licença: Creative Commons
Itabuna, 27 de maio de 2014.