Educação e aprendizagem R. Santana
Educação e aprendizagem
R. Santana
Não é fácil falar de educação nos dias atuais, para quem não é um especialista da área, apenas, conhece “an passant” os teóricos tradicionais: Vigotsky, Piaget, Anísio Teixeira, Paulo Freire e os mais em voga no momento: o sociólogo Suíço Phillippe Parrenoud, o abade Júlio Houssay, Içami Tiba e Fernando Hernández - todos têm em comum a preocupação com o sujeito da aprendizagem e os agentes de mudança -, porém, não é tão difícil falar de educação e aprendizagem quando se tem a prática de três décadas de ensino.
É sabido que aprendizagem é, somente, um dos aspectos da educação. Já ouvimos enésimas vezes alguém dizer: “fulano não estudou, mas é uma pessoa educada”, ou, “doutor fulano é um cavalo”... Educar é a formação moral e intelectual do sujeito, pois além do cognitivo, afetivo e motor, é necessário que o sujeito da aprendizagem desenvolva sua consciência moral, política e social, enfim, sua consciência cidadã, porque o homem não é uma máquina de funções mecânicas, repetitivas ou programadas, mas um ser físico-psíquico complexo.
O binômio família-escola não possui mais o papel decisivo de antes na educação e aprendizagem de crianças, adolescentes, jovens adultos, da sociedade contemporânea, pelos mais diversos motivos, dentre tantos, não seria demais citar: presença crescente da mulher-mãe no mercado de trabalho, conflitos familiares e instabilidade do casamento, profissionais do ensino desmotivados e descompromissados, currículos inadequados e políticas educacionais desastrosas.
O episódio comovente que ocorreu em Nova Iorque no ano de 1857 foi decisivo para independência profissional e financeira da mulher, de lá pra cá, a mulher deixou de ser Amélia e definiu pra sempre sua posição no mercado de trabalho e na vida familiar. Não existe mais a marca: “atrás de um grande homem existe uma grande mulher”, hoje, a mulher não fica atrás do homem, mas caminha ao lado do homem, é parceira nas decisões, não dependente, muitas vezes, assume sozinha a casa e os filhos com a separação do cônjuge. Porém, essa ascensão profissional e social da mulher tem tido reflexos negativos na aprendizagem e educação dos filhos, por necessidade profissional e social, ele transfere seus deveres básicos pra escola e babás nem sempre qualificadas.
Conforme Piaget, só se aprende quando o objeto da aprendizagem tem significado para o sujeito, não é correto o professor responsabilizar unicamente o aluno pela não aprendizagem: “o aluno de hoje não quer nada”, quantas vezes já ouvimos isto de professores não vocacionados? Inúmeras vezes. O aprendiz, nos dias atuais, que o conhecimento está ao alcance de todos, jamais irá se interessar por conteúdos inadequados, sem sentido, dados apenas por exigência curricular e cumprimento de carga horária escolar. Os planejamentos anuais de cursos e os planejamentos semanais de aulas são conteúdos repetidos ano após ano, aqui e ali, têm fatos novos, portanto, não surpreende a ninguém que o aluno crie resistência para aprender aquilo que não lhe desperta interesse – a recíproca é verdadeira.
É do conhecimento da sociedade que a política salarial do trabalhador da educação é desastrosa, no entanto, num país em desenvolvimento, que não existe assalariado satisfeito, não procede a péssima qualidade de ensino na escola pública justificada pelo baixo salário do professor e/ou melhores condições de trabalho. Quando alguém se inscreve em um concurso público, a priori, ele conhece o valor do salário, por isto, é cinismo não cumprir sua obrigação profissional por ser mal remunerado, quem gosta do que faz não se limita, somente, fazer bem, mas fazer o melhor.
Não se pode falar em aprendizagem institucional sem análise dos diferentes tipos de avaliação e os critérios de promoção do aluno. Não vai longe o tempo que o aluno da escola pública para ser promovido de uma série pra outra, teria que aprender, no mínimo, 50 % do conteúdo e a escola privada 70 %, todavia, no final do ano letivo, far-se-ia um somatório de todas as notas e prevalecia a média aritmética de 50% para aprovação tanto na escola pública quanto na escola privada.
Hoje, não se avalia o aluno considerando aspectos puramente quantitativos, agora, o sujeito da aprendizagem é avaliado como um todo: avalia-se suas potencialidades cognitivas, psicológicas e aptidões. Atualmente, entende-se que não é de bom alvitre reprovar, já se fala em “aprovação automática”, “aprovação contínua” e “progressão continuada” que são artifícios usados para promoção do aluno mesmo que ele apresente falhas de aprendizagem.
Enfim, não existe uma fórmula mágica para solucionar todos os males da educação de imediato. Acredita-se que no futuro, todos os segmentos sociais terão que se envolver por exigência do mercado de trabalho que cada dia se torna mais sofisticado, afora a necessidade de nosso país não ficar a reboque dos demais em conhecimento e tecnologia.
Autor: Rilvan Batista de Santana
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