Líder e chefe - R. Santana
Existe um dito popular “manda quem pode e obedece quem tem juízo”, é uma verdade insofismável, quase um axioma, uma máxima que se aplica aqui, ali e alhures, ou seja, universal, condição necessária para o desenvolvimento do mundo e fundamental nas relações humanas do dia a dia. Se todo mundo fizesse o que lhe desse na telha, não haveria ordem, nem organização, nem progresso, mas estado de anarquia generalizado e permanente.
Porém, existe uma diferença fundamental nos agentes executores dessa relação de mando e obediência: chefe é diferente do líder. O chefe é egocêntrico, insensível, desagregador, não titubeia usar recursos escusos se sua condição funcional for ameaçada. O líder é sensível, solidário, corajoso, agregador, possui iniciativa própria, não obstante ser regido, também, por leis e normas.
A autoridade do chefe é embasada em leis, normas, regras, nomeações, indicações etc., etc. O chefe, geralmente, é um sujeito bitolado, pusilânime, não tem desenvoltura, ele é apegado às normas e às leis escritas e encarna confortável o espírito militar, já foi muito útil para empresas privadas e órgãos públicos noutras ocasiões, hoje, no mundo moderno, democrático e transparente, é um sujeito dispensável, de somenos importância na cadeia produtiva e no desenvolvimento da humanidade.
O chefe é “ditador”, tem o perfil de juiz que não sai da toga ou o perfil de professor do tempo do milho e da palmatória. Chefe é chefe, ele manda e o outro obedece se não o obedece, o subordinado assume as consequências. Para o chefe não existe meio termo, “oito ou oitenta”, dura lex sed lex, a lei é dura, mas é lei, tem que ser cumprida, o chefe não tem compromisso com a indisciplina e a negligência.
Por outro lado, o líder não é um anarquista, tanto quanto o chefe, é um sujeito disciplinado e legalista, porém, tem carisma, é mais compreensivo com o seu preposto, ele não se impõe pela autoridade, mas pelas atitudes e exemplo. O líder é pragmático, flexível, “tem jogo de cintura”, e dotado de iniciativa. Hoje, as empresas, as organizações públicas e privadas, suas áreas produtivas e seus organogramas são subdivididos em setores e unidades, em pequenos grupos, e confiadas aos líderes.
A História da Humanidade está cheia de líderes, líderes militares e líderes civis, não cabe aqui uma relação histórica de líderes, mas faz-se necessário citar, para ilustrar o nosso pensamento, dois líderes políticos mundiais recentes: Gorbachev e Deng Xiaoping. Gorbachev desmantelou a antiga e inexecutável União Soviética (URSS) não pelas armas, mas pela força das ideias democráticas e econômicas; Deng Xiaoping, em 14 anos, transformou a China numa potência mundial com suas políticas socialistas de mercado.
Alguém já disse que “a palavra voa, a escrita fica e o exemplo permanece”, é um pensamento insofismável, se a palavra não for registrada se perde no tempo, mas se as ideias não forem justificadas pelo exemplo, não persistirão. Jesus Cristo, não obstante sua natureza divina é o modelo maior de liderança religiosa. Não escreveu uma linha, mas suas palavras ficaram registradas pelos evangelistas e seguidores e Ele permanece vivo pelos seus feitos depois de 20 séculos.
Não se molda um líder como se molda o barro pra fazer um vaso ou outro utensílio. O líder tem qualidades inatas não encontradas em homens comuns. O líder tem ideias próprias, enxerga longe, mesmo que se subsidie de algo que já existe, ele lhe dá outra roupagem e enfoque diferente.
Não se forma líder nas escolas, apenas, pode-se burilar as manifestações pessoais. Não é condição sine qua non o líder ser intelectual, pois se a escola produzisse líderes através da instrução e educação, potencialmente, todo sujeito culto, egresso de bancos escolares, seria um líder, a prática diz o contrário. Não faz muito tempo, dois líderes de origem operária e sindical, Lech Walesa e Luiz Inácio Lula da Silva, Polônia e Brasil, respectivamente, assumiram a presidência dos seus países sem estofos intelectuais.
Em princípio, todo aquele que chefia é líder. Liderar e chefiar têm o mesmo significado, porém, o líder se diferencia pela aceitação espontânea dos seus pares, existe certo vínculo afetivo, certa cumplicidade de ideias entre o líder e os seus liderados, enquanto o chefe é imposto pelas circunstâncias, por obrigação, isto é, não existe vínculo afetivo, sim, profissional.
Enfim, as empresas e os órgãos públicos, às vezes, passam por essa experiência, seus chefes são figuras hierárquicas, não existe cumplicidade entre chefes e subordinados, as relações são permeadas por direitos e deveres, meta e produtividade, todavia, se o preposto além de chefe é um líder, as metas e as produtividades deixam de ser um fim, mas meios prazerosos para se alcançar um fim.
Autor: Rilvan Batista de Santana
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Membro da Academia de Letras de Itabuna - ALITA
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