Lamentos da velhice
Lamentos da velhice
R. Santana
Tu és dádiva divina? Não! Mas o regalo do isolamento
O desprazer dos parentes, a negação do amor e da vida,
Tu vives ansiosa e a falta de afeto é a tribulação maior,
Não vives mais o futuro, mas esperas o Anjo da Morte.
Ó Geras, ó deusa filha do tempo de dor e sofrimento,
Melhor seria se tu tivesses morrido jovem, mas feliz,
Hebe é filha de deuses jovens da mitologia Zeus e Hera
Tu és o crepúsculo, o ocaso, a decadência, a corrupção...
Ó deusa malquista, rabugenta, enrugada e asquerosa,
O cutelo que Deus usa pra punir o homem bom e mau
Tu és a limitação do homem, reflexo de sua pequenez,
Certo quem moço não morre, velho não escapa, é lei.
Tu geras desconforto estético, aversão e repulsa social
Tu geras dor, dor aqui, dor acolá e infinita dor na alma,
Tu és a ruína, a decrepitude do ser, o crepúsculo, o medo
Ó Geras, não geras mais outro ser, tu não és mais fértil.
Ó Geras, deusa da velhice, fostes louca desafiar o tempo?
O tempo é o senhor da razão, jamais dê tempo ao tempo!
O homem idoso, ó Geras, melhor seria não ter nascido...
A velhice é a voz da experiência e o suplício do homem.
Não adianta o epíteto que lhe dê: “melhor idade“, hábil,
Tu és a “pior idade”, idade da demência, parvoíce, lesa,
Jovem é ser maior de que “n” anos de tua experiência,
Ó Geras, bom seria se tu fosses sempre jovem e bonita.
Autor: Rilvan Batista de Santana
Licença: Creative Commons
Membro da Academia de Letras de Itabuna
Itabuna, 08 de agosto de 2013