Factoide R. Santana
Factoide
R. Santana
De acordo o pai dos “burros”, o dicionário Aurélio, factoide é um “Fato, verdadeiro ou não, divulgado com sensacionalismo, no propósito deliberado de gerar impacto diante da opinião pública e influenciá-la”. O factoide não é uma hipótese, é um fato “plantado”, é um fato que se caracteriza em chamar a atenção da opinião pública, não obstante se o caso é verdadeiro ou falso, mas ele existe, ele é real, não importa a circunstância.
O factoide pode ser produzido por alguém para chamar a atenção de si mesmo, ou, produzido para influenciar o pensamento de um povo. O factoide também é um dos recursos usados por poderes políticos discricionários da direita ou da esquerda. Quem não se lembra do atentado do Riocentro? O factoide tinha por objetivo provocar um atentado com bomba na festa do trabalhador, em 30 de Janeiro de 1981, no Riocentro, depois atribuir o sinistro à esquerda, aos comunistas, e, por fim à abertura política desejada pelo presidente Ernesto Geisel e seu sucessor João Figueiredo.
Porém, o tiro saiu pela culatra: as bombas que ceifariam centenas de vidas, no Centro de Convenções do Riocentro, explodiram no colo do sargento do exército, Guilherme Pereira do Rosário, que o deixou mortalmente ferido e do capitão Wilson Dias Machado. Se esse factoide tivesse dado certo, colocaria em risco a segurança nacional e o regime militar recrudesceria ainda mais, não haveria a desejada abertura política pelo povo, enfim, adeus democracia, adeus “Diretas Já”, adeus governo civil!...
A direita reacionária usou muito esse estratagema, mas os comunistas não deixaram por menos, os exemplos históricos se sucedem.
Um factoide que ficou na história da Alemanha e apressou a ascensão de Hitler ao poder no cargo de chanceler, nomeado pelo marechal Hindenburg, foi um incêndio provocado que ocorreu nos corredores Reichstag, parlamento alemão, perpetrado pelas tropas de choque AS de Ernest Röhm ou pelas unidades de proteção SS de Himmler, não se sabe ao certo. O atentado, naquela época, foi atribuído aos comunistas e aos judeus, atribuídos culpados pela derrota da Alemanha na Guerra de 1914/1918, pelo desemprego e pelos problemas econômicos e sociais.
Mestres na criação de pequenos factoides foram os políticos Jânio Quadros e César Maia, ambos, não ofereceram nenhum perigo ao país e ao Rio de Janeiro, suas condutas, seus factoides eram mais marketings políticos, para chamar a atenção da opinião pública. Jânio Quadros chegou renunciar à Presidência de República, depois, apenas, 7 meses de governo, movido pelo factoide de “forças estranhas”, todavia, sua estratégia seria criar um clima de ingovernabilidade no país e retornar nos braços do povo como salvador da pátria.
Hoje, as coisas são mais transparentes, os serviços de espionagens, contraespionagens e a mídia falada e escrita são eficientes, os fatos são registrados em qualquer parte do mundo, imagem e voz, em tempo real. O factoide político não mais corre solto, se alguém “planta” um fato e o atribui a A ou a B, dentro de pouco tempo, ele é desmascarado e linchado pela opinião pública, ninguém mais se faz de vítima à toa e fica impune.
Os artistas, às vezes, criam factoides de somenos importância, principalmente, quando estão de ladeira abaixo profissionalmente, aí, plantam na mídia, casos de separação, traição, contratos milionários, discussão de plágio, direitos autorais surrupiados, filhos bastardos, coisas pessoais duvidosas que não têm nenhum significado pra maioria da população, mas notícias que deixam seus seguidores em polvorosa.
O médico é outro profissional que forja factoide para se desestressar, espalha notícias de congressos, seminários, cursos, aqui, ali e alhures, através da mídia, principalmente, colunas sociais, às vezes, o evento ocorre, ele se inscreve e participa o suficiente para adquirir o certificado, depois se esconde numa bela praia de sol, com mulher, suor, e cerveja.
Os factoides literários ocorrem por conta do “merchandising”. Os escritores reeditam seus títulos várias vezes como se eles fossem a primeira vez com pompa e lugar de destaque. Vende-se livro não mais pela qualidade da obra, mas pelo marketing e factoides plantados na imprensa. Quantas vezes somos atraídos para lançamentos de livros com coquiteis e autógrafos personalizados? E, quando se abre a primeira página para leitura da tão festejada obra, melhor seria se lá não fossemos.
Alguns escritores ostentam suas obras traduzidas na Alemanha, na Itália, na França, em Portugal, na Espanha, referências da cultura do mundo, e, quando o curioso lá se vai, o estrangeiro nunca ouviu falar nem da obra nem do escritor. Além de um factoide falso, deveria ser considerado crime de falsidade ideológica, porque esse escritor vai se locupletar de alguma forma da ingenuidade dos incautos.
É lamentável essa propaganda enganosa, a obra literária se firma pela criatividade, conteúdo, estilo e redação, ledo engano do escritor pensar que vai enganar as pessoas o tempo todo, ele que a si se engana, pois no dizer de Abrão Lincoln: "...alguém pode enganar poucos por muito tempo, muitos por pouco tempo, mas não todos por todo o tempo.”
Autor: Rilvan Batista de Santana
Itabuna, 31. 07.2013