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                                                            Medo da morte - R. Santana

          Alguém disse que coragem é saber administrar o medo, mas todos têm medo, é uma verdade que ninguém pode negar, os corajosos sabem administrá-lo e os impulsivos morrem de medo. Não me envergonho dizer que tenho medo da morte, é um medo inato que toma forma e feição à medida que se aproxima o ocaso da vida, pois de acordo a sabedoria popular: “Quem moço não morre, velho não escapa”, e, sinto que já estou na fila da eternidade, não sei em que posição, se no fim da fila, no meio, ou, entre os primeiros.
          O fanfarrão ufana-se que não tem medo de morrer, sim de ficar penando em cima de uma cama, mas afora o corajoso suicida, todo doente procura o médico e mesmo sofrendo em cima da cama não quer morrer, exemplo mais emblemático, ultimamente, foi do presidente da Venezuela, que no estertor da morte, em cima da cama de hospital, gritou para os médicos: “Não me deixem morrer!...”
          Se alguém lhe pede pra definir a morte, não é difícil defini-la: é a cessação da vida, é a falência da matéria orgânica e o retorno à matéria inorgânica, o mergulho eterno do vivente no desconhecido... Os poetas e ficcionistas definem a morte como uma mulher soturna, cadavérica, lúgubre, funesta, que se esconde atrás de um manto preto empunhando uma foice e interrompe a vida na hora “H” e dia “D”.
          Feliz daquele que se apoia na fé e a morte é uma passagem de um lugar pra outro porque a morte deixa de ser assustadora e passa ser uma necessidade para continuação da vida. Deus foi justo quando fez a morte verdade absoluta, todos sabem (pobre, rico, feio, bonito, religioso, deísta, panteísta, agnóstico, ateu, sábio, ignorante) que a morte é certa, que essa energia vital chegará ao fim, mais cedo ou mais tarde, não existe escapatória, até os animais irracionais pressentem a morte e têm medo de morrer e prevalece o instinto de sobrevivência. Porém, Deus poderia permitir vida longa aos bons porque o prêmio da vida eterna é uma incógnita para pecadores e santos.
          Se a morte não fosse o destino para maus e bons, o homem mau seria pior e o homem bom, menos bom, porque ao contrário de Rousseau, o homem é mau por natureza e a sociedade o deixa bom, o homem é o lobo do homem como disse Thomas Hobbes. O homem é o único animal que tem consciência do bem e do mal e por causa de instrumentos de educação, de fé, de prevenção, de repressão e de punição, ou seja, os “freios” sociais, ele não faz da maldade norma de vida.
          A ciência jamais vencerá a morte, mesmo que o homem consiga clonar outros seres daqui algum tempo, o princípio vital sempre estará sujeito às leis intrínsecas da matéria e a vida se esvaziará mais cedo ou mais tarde, além disto, por mais evolução científica do homem, os meios naturais de fecundação e reprodução de outros seres semelhantes serão os mais seguros.
          Para o cristão, Jesus Cristo venceu a morte com a ressurreição, o apóstolo Paulo fala dela como o último inimigo: “Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte” (I Coríntios 15:26), adiante, Paulo zomba da morte: “Onde está morte, a tua vitória?” (I Coríntios 15:55). Ainda de acordo o cristão, Jesus Cristo foi enviado para redimir o pecado do homem desde Adão e lhe conceder a vida eterna. O homem morre porque nasce no pecado e tem uma vida de pecado, lá em Romanos (6: 23) diz: “o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor”.
          O espiritismo, com milhões de seguidores, é mais quixotesco em relação à morte do que as religiões cristãs e não cristãs: a morte é uma passagem... O homem morre e reencarna várias vezes até atingir a perfeição espiritual, quase idêntico ao processo seletivo que o agrônomo faz na agricultura para conseguir uma boa semente e uma plantação produtiva e resistente aos fungos.
          O papa do espiritismo no Brasil, o saudoso Chico Xavier, recentemente eleito de maneira injusta: “O maior brasileiro de todos os tempos”, desbancando Juscelino Kubitschek, Getúlio Vargas, Santos Dumont e outros expoentes da nossa História, por um programa televisivo, psicografou o livro de André Luiz, o mais lido: “Nosso Lar”, que narra o dia a dia no além-mundo, que se não for considerado romance, como fundamentação de doutrina religiosa, espírita, é hilariante, é morrer de rir!...
          Outro dos seus livros, “Vozes do além”, que impressiona de início, mas que lido sem paixão, sem fanatismo, os fenômenos ali descritos de manifestações do além-mundo, são fenômenos que a Parapsicologia explica, são fenômenos mentais e não fenômenos além-túmulo.
          Portanto, a morte é brutal, sinistra, terrível, ilógica, não obstante qualquer sentimento de fé, ela despedaça esperanças e vidas, qualquer eufemismo para justificar sua brutalidade, é racionalismo e conversa pra boi dormir, é tampar o Sol com a peneira.

Autor: Rilvan Batista de Santana
Itabuna, 09.04.2013.
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 10/04/2013
Alterado em 06/01/2023


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr