Helena Borborema
R. Santana
Não sei se todo escritor tem dificuldade de escolher o título de suas produções literárias, confesso-lhe meu caro leitor, a minha dificuldade é enorme, às vezes, levo dois ou três dias para ter um insight, uma intuição repentina, uma luz... Enquanto não encaixa na minha cabeça um título que faça jus ao texto, eu não desenvolvo o tema, existe quem primeiro escreve o texto, depois, lhe atribui o título. Quando fui escrever este texto, pensei em vários títulos que os descartei à medida que não se encaixavam no meu projeto de prestar um preito, uma homenagem, mesmo tardia, à saudosa escritora e educadora Helena Borborema.
Dentre muitos títulos colocados no papel e riscados algum tempo depois, lembro-me: “A operária de educação”, “Helena Borborema, a pedagoga”, “A obreira da escola”, “A filha do cacau”, “À mestra Helena Borborema, com carinho”, “À mestra com carinho” etc. etc. Não dei o título “À mestra com carinho”, pois entendi que seria uma derivação de “Ao mestre, com carinho”, interpretação de Sidney Poitier do engenheiro e professor improvisado Mark Thackearay, numa escola do bairro inglês de East End, mas me tocou muito, enfim, ficou, somente, Helena Borborema.
Também não me debrucei nos livros “Terras do Sul”, “Retalhos” e “Lafayette de Borborema – Uma vida, um ideal” da escritora Helena Borborema, histórias de sua juventude, histórias de sua cidade, histórias do Sul da Bahia e lembranças do seu pai, o advogado Lafayette de Borborema, tangido de Salvador em 1907 para as terras do cacau, mas moveu-me o desejo de contar a história da Helena Borborema que conheci nos meados dos anos 60 no Colégio Estadual de Itabuna – CEI.
Naquela época, o CEI era o único colégio do estado da Bahia em Itabuna e referência educacional na região do cacau, rivalizando tête-à-tête com as escolas de Ilhéus. As nomenclaturas dos cursos de “1º Grau”, “2º. Grau”, “Fundamental” e “Médio”, eram nomenclaturas representadas por cursos de “Ginásio”, “Científico”, “Magistério” e “Clássico”. O acesso ao CEI ou o Ginásio Divina Providência, escolas de ensino de qualidade, não era para os despreparados, mas exigia conhecimento primário completo e tudo era aferido pelo vestibularzinho de “Admissão ao Ginásio”, repositório de “Gramática”, “História do Brasil”, “Ciências”, “Matemática” e a avaliação minuciosa de uma banca examinadora.
Quando a conheci, fazia o 4º. Ano de Ginásio e estudava à noite num dos pavilhões (Anexo) do CEI. O espaço físico se caracterizava pela modernidade daquele tempo: as paredes de blocos perfurados, de tijolos à vista, sem reboco, que eram uma delícia no verão, mas incômodas no frio do inverno, além de facilitar a entrada de mosquitos, escorpiões e sapos. Porém, eram coisas de somenos importância, a nossa juventude, a busca de conhecimento e o desejo de ascensão social eram decisivos para afastar os empecilhos da natureza.
Helena Borborema fazia-se aceitar sem muito esforço entre os jovens por suas atitudes firmes e justas. Alta, morena clara, cabelos castanhos, compleição robusta, não era feia, mas chamava a atenção mais pela personalidade simpática, marcante, educação refinada, elegância de vestimenta, do que pela beleza física. Professora de Geografia competentíssima, cultura invulgar sem ser esnobe, suas aulas eram concorridas no seu horário pelos alunos fascinados em conhecer o mundo.
Comprometida com o saber, entendia as dificuldades de aprendizagem do aluno pobre, aluno de más condições sociais e culturais, mas ao invés de censurá-lo, reprová-lo, estimulava-o transpor as dificuldades momentâneas do seu meio ambiente e achar um caminho. Sem chamar a atenção, sem alarde, ela espalhava o bem com discrição cristã, muitos estudantes pobres foram amadrinhados por Helena Borborema com fardas, livros e materiais escolares, como não tinha filhos, fazia seus filhos os desafortunados da vida.
Quando Secretária da Educação do prefeito Fernando Cordier, valorizou as condições de trabalho e a remuneração do magistério municipal e incentivou o professor não licenciado fazer o curso de pedagogia para mudança de nível e melhorar sua formação profissional. Celebrou convênios de recursos materiais e financeiros permanentes com a FAFI e a FACEI, únicas faculdades existentes em Itabuna, naquela época, em troca de bolsas de estudo.
Helena Borborema não foi somente uma escritora de causos de sua cidade, histórias de coronéis do cacau, escritora de textos econômicos, de linguagem concisa, escorreita, frases buriladas, estilo simples e claro, mas foi, também, uma educadora comprometida com o saber e a aprendizagem do educando e uma gestora da educação de recursos administrativos raros.
Enfim, Helena Borborema saiu da vida para se imortalizar na história de sua cidade de Itabuna e do Sul da Bahia em 7 de maio de 2008. Ainda hoje, é lembrada pelos seus conterrâneos com eterna saudade.
Autor: Rilvan Batista de Santana
Itabuna, 05 de março de 2013.