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A face obscura do homem - O mistério (Capítulo 22)

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O mistério

Foi um vexame a morte por envenenamento de Rita Ladaró, mulher do coronel Honório Ladaró, em circunstância esquisita e suspeita. O coronel se encontrava na fazenda quando aconteceu o sinistro: - ela foi encontrada morta na cama e sobre a cômoda uma garrafa de vinho francês “Château Hant Brion” e dois cálices sujos de vinho. Soube-se depois que o vinho continha forte dosagem de arsênico. Filhos, parentes, serviçais e vizinhos não souberam ou não quiseram informar à polícia nada além do dia a dia da casa e que não foi diferente, também, naquele dia 7 de setembro do ano de 1957.
O coronel foi trazido às pressas da fazenda pelos amigos. Aturdido, ele não entendia como uma pessoa religiosa, que parecia de bem com a vida, tomaria uma atitude drástica daquela. Morrer não é uma dúvida, é uma certeza da vida, porém, naquela idade, na flor da mocidade, não era justo aquele fim.
Na saída para o sepultamento, a população de Itabuna lotou a Praça da Cadeia, defronte, o bangalô do coronel. Algumas pessoas, movidas pela curiosidade, outras, irmãs de fé e outras pessoas, empregados e ex-empregados de Ladaró.
O padre Apolinário Gaiardoni estava inspirado: exaltou as virtudes de mãe, de esposa, de amiga e de religiosa de Rita Ladaró. Disse que não estava ali pra julgar o ato tresloucado da irmã de igreja, Jesus Cristo a perdoasse assim como perdoou Maria Madalena, e, finalizou exaltando as qualidades de esposo e pai de família do coronel Honório Badaró, que Deus lhe desse a resignação e o alívio na dor da perda, que dali em diante, ele lembrasse não dos momentos ruins, mas dos momentos bons que viveu com a esposa, que tomasse como divisa de vida, o adágio oriental que diz: “um dia feliz na vida de um homem vale por um ano”, portanto, Rita teria lhe proporcionado dezenas de anos felizes.
Embora D. Clô fosse inimiga não confessa de Rita Ladaró, lhe prestou as últimas homenagens como se nada tivesse ocorrido entre ambas, chorou pesarosa o tempo todo, foi prestimosa com Honório, não menos obsequioso foi Dr. José Maria com o coronel Ladaró, pois além de amigos de noitada do “Sport Bar”, eram vizinhos de fazenda.
Enquanto a gente de Mimia da funerária preparava o esquife e trasladava para o carro fúnebre, D. Clô surpreendia o padre Apolinário Gaiardoni com o cochicho:
- Padre, “Château Hant Brion” não é o seu vinho preferido?...
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 24/09/2012


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr