A face obscura do homem - O assassinato do padre (Capítulo 13)
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O assassinato do padre
Não se apoquente caro leitor, não faça ilações precipitadas, não foi o padre Apolinário Gaiardoni que foi assassinado, embora num primeiro momento, todos os seus desafetos se alegraram com o crime - alguém espalhou a notícia do seu assassinato na cidade de Itororó -, porém, quem foi assassinado foi o padre Sebastião de Oliveira Alves.
Diziam as más línguas que esse sacerdote não era “flor que se cheire”, que não se apartava de um revólver 38 embaixo da batina. O motivo do crime não foi mulher, mas conflito de terra de família com o fazendeiro Pierre Santos. O padre se arvorou de valente e espalhou que se vingaria de quem matasse o seu pai: “.se matarem meu pai, eu tirarei a batina e vingarei sua morte”. Não teve tempo de se vingar, algum inimigo contratou o pistoleiro Manoel Caboclo que o despachou primeiro.
O leitor apressado poderá perguntar ao autor o que tem alhos com bugalhos? Se não foi Apolinário Gaiardoni assassinado – àquela altura, o principal suspeito do crime de José Maria -, com certa razão, todavia, o registro da morte do padre de Itororó fez-se necessário, oportuno, para explicar o sentimento de ódio que a população itabunense alimentava pelo padre Gaiardoni, mesmo depois de dois anos do seu desaparecimento, as pessoas ainda choravam a morte de José Maria e o desejo de vingá-lo.
É justo dizer, neste capítulo, para desencargo de consciência, que é cedo para imputar-lhe a autoria do crime, embora José Maria fosse muito querido, outros suspeitos foram mencionados no inquérito. A igreja católica afastava qualquer coisa que o incriminasse, por isto, transferiu o sacerdote pra bem longe. Não havia provas materiais da tragédia, apenas, insinuações e boatos de sua relação amorosa com Clô, ou seja, nada de concreto e muito de suspeição, e, acusações sem provas materiais ou circunstanciais não se sustentam num processo...
No entanto, o burburinho de infidelidade de dona Clô e o assassinato do padre Sebastião vieram desmistificar a imagem de santo dos padres, aqui e acolá, eles se envolviam em negócios escusos, compravam fazendas de cacau, tinham filhos, montavam casas para amantes e exercitavam outras profissões, principalmente, na educação. Com a vinda dos capuchinhos para o Sul da Bahia e os exemplos de trabalho, de estoicismo, de probidade, de dedicação ao próximo, de desapego material e de vida santa que eles passavam, logo, a igreja católica retoma sua credibilidade como agente de fé e de evangelização junto aos católicos da região cacaueira.