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A face obscura do homem - Jesus veio para perdoar (Capítulo 9)

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Jesus veio para perdoar

Um ano depois que Lia instalada no seu “bangalô”, agora, com a barriguinha na boca, mais um filho ou filha do advogado José Maria, a caminho, ela começou se soltar mais socialmente, porque além da gravidez, os pais e os irmãos lhe deram mais segurança emocional e passou acompanhar sua mãe à Igreja Católica aos domingos e feriados. No início, elas não chamaram a atenção da assembleia nem do pároco, mas à medida que o tempo passava, o pessoal que zela pela vida alheia acendeu a chama da curiosidade e não demorou que todos ficassem sabendo que eram a amante e a “sogra” do criminalista e fazendeiro José Maria.
Lia no início não percebeu os olhares enviesados e os cochichos insistentes, mas à medida que o tempo ia passando, esses gestos e atitudes indiscretas começaram lhe incomodar, porém, deu tempo ao tempo até o dia que ela foi convidada pelo pároco através do seu sacristão:
- Filha, onde mora?
- Padre, eu moro na Avenida Garcia?
- A senhora é casada?
- Não, sou amancebada...
- Pode me dizer o nome do seu amásio? – perguntou por perguntar, ele já sabia.
- Não!
- É que as famílias...
- Não me aceitam, não é!?
- Silêncio.
- E o senhor me aceita?
- A maioria decide...
- Não me incomoda esses hipócritas, quero saber do senhor!?
- A igreja é da comunidade itabunense...
- Eu moro aqui!
- Eu sei, porém, não se é feliz com a infelicidade do outro!...
- Eu posso saber quem é o “outro”?
- Chamei a senhora para comunicar que a nossa paróquia não lhe quer como membro e não desejo prolongar a discussão. Tá?...
- Como o senhor disse, a igreja é da comunidade, portanto, eu sou da comunidade e não cometi nenhuma heresia para deixá-la de freqüentar! – o padre perdeu a paciência:
- A senhora é insolente!!!
- Não, não sou... O senhor é que não segue os ensinamentos de Jesus Cristo que trouxe o perdão para todos os pecadores: “Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela”, portanto, Jesus veio para perdoar! - O padre descontrolou-se:
- A senhora é mesmo insolente, quer me ensinar os Evangelhos? Saia, saia da minha sacristia, a comunidade tem razão!!!
- A comunidade ou dona Clô!? – o padre não lhe deu resposta, deu uma rabanada...
O advogado soube no mesmo dia a desfeita que sua amada sofreu pelo sacerdote. Decerto, sua esposa estava por detrás de toda essa maldade em conluio com o pároco. Não sabia explicar o motivo da aversão que sentia pelo religioso, às vezes, sua presença lhe causava asco, o fato é que doutor José Maria não gostava dele, pior, tinha que representar uma amizade que não sentia por Apolinário Gaiardoni para não contrariar sua mulher e alguém lhe atribuísse ciúme.
Teve inveja de Henrique VIII que para solucionar um problema de casamento, rompeu com a Igreja Católica e fundou a Igreja da Inglaterra. Se possuísse esse poder, anularia seu casamento com Clô, confiscaria os bens da igreja em Itabuna, desterraria Gaiardoni para os quintos do inferno e faria de Lia uma bispa. Mas, não tinha esse poder nem era desalmado como o rei inglês.
Conhecia a carolice de dona Clô, sua beatice, seu apego pelas coisas da igreja, senão, estaria pensando em infidelidade conjugal, pecha que rejeitava com firmeza quando esses pensamentos lhes vinham à mente. Todavia, havia diminuído a intimidade entre marido e mulher desde que o padre chegou à cidade do cacau, sexo, agora, era obrigação. Se no fosse o amor que sentia por Talita, Samuel e Júnior, seus filhos e amigos, já teria deixado de vez o lar.
Sempre havia mijado fora do caco - eu não sou tuberculoso para comer no mesmo prato, argumentava -, mas sempre preservou a família. Pirocar fora era um costume, mais do que costume, uma tradição antiga, lei de macho, quem não pirocasse na rua, não teria o respeito dos seus amigos e não amigos, não era homem, mas um frouxo.
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 23/09/2012


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr