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A face obscura do homem - Sport Bar (Capítulo 3)

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Sport Bar


O Sport Bar, misto de cabaré e cassino, era o “Bataclã” de Itabuna. Dr. José Maria fez dele a extensão do seu escritório, onde descarregava suas tensões do dia a dia com as mulheres de “vida fácil” ou papear com os coronéis do cacau. Não jogava, não gostava de jogo, gostava mesmo era de boa bebida ou boa comida. Entre sorte no jogo e azar no amor, preferia não jogar para ter sorte no amor. Teve vários casos extras conjugais sem criar limo, somente Maria José, morena cor de jambo, lhe tinha mexido o coração...
Maria José acabara de completar 21 anos de idade quando chegou de Maruim para casa de Helvécia, uma caftina de escol meretrícia, amiga dos coronéis do cacau e amiga de unha e carne do criminalista José Maria - que lhe socorria na polícia e na justiça em decorrência dos fuzuês de sua casa -, assim que a moça desembarcou do pau-de-arara e foi acomodada, Helvécia foi avisar ao advogado com escritório na J.J. Seabra:
- Doutor, chegou uma “carne fresca”, do jeitinho que o senhor gosta!...
- Helvécia, minha flor de laranjeira, é igual à Zarolha!? – e deu uma sonora gargalhada de desdém.
-Não acredita doutor? Então, dê um pulinho lá em casa e verá!...
Helvécia não mentiu. Maria José não tinha nenhuma experiência mundana, saiu de casa por ignorância dos seus pais e dos costumes de sua época. Prometida ao primo em casamento desde adolescente, que além de não honrar a promessa de matrimônio, ele fugiu depois de lhe roubar a inocência e o cabaço, deixando a pobre moça na casa do sem jeito para casar, então, ela não teve outra saída, senão, deixar seu pedaço de chão e vir para o Sul da Bahia atraída pela riqueza do cacau.
Nos primeiro dias na casa de prostituição, Maria José sentiu-se “um peixe fora d’ água”, tudo era estranho, não aceitava deitar com homem sem namoro, sem amor, não tinha jeito... Quando o seu “agenciador” lhe levou para Helvécia, o fez com promessa de trabalho doméstico, cuidar da limpeza e cozinhar, por isto, rejeitou todos os pretendentes que a caftina lhe ofereceu, foi necessário paciência e tempo para convencê-la conversar com Dr. José Maria:
- Minha filha, depois de Oscar Marinho, ele é o homem mais rico da cidade, além de ser um brilhante advogado!
- Dona Helvécia, ele é casado, tem três filhos...
- Minha filha, a maioria tem mulher, elas contribuem para chamego fora de casa por questão religiosa, é o caso de Dr. José Maria, depois do filho mais novo, ela fechou-lhe as pernas e o coração! – justificou a dona do prostíbulo. E, Acrescentou:
- Minha filha, se o doutor gostar de você e montar casa, acabou tempo ruim!
- Eu sei...
Pouco e pouco Maria José foi se envolvendo com o criminalista. Não houve pressa, o advogado deu tempo ao tempo, compreendia a dificuldade afetiva da jovem, não havia muito tempo, ela deixara a família, a vida de roça, o desengano de um casamento, e, aventurara-se num pau-de-arara em busca de trabalho, usada por pessoas de má fé, é colocada numa casa de prostituição, ambiente de luxo, mas de promiscuidade e vender o corpo seria o seu meio de vida.
- O senhor não desiste, né!?
- A vida me ensinou que nada é fácil, só não quero ser inconveniente, se não deseja conversar?...
- Não, não, o senhor é a única pessoa que frequenta esta casa de bons modos...
- Não pensei, pensei que não quisesse falar comigo!
- É que... é que... não estou acostumada...
- Entendo.
- O senhor não entende, quem entende são as minhas amigas que pra dormir e comer, elas são obrigadas levar pra cama sujeitos fedorentos e bêbados!... – acrescentou:
- Faz um mês que cheguei. Arrumo e faço a comida da casa, mas não sei quanto tempo isso vai durar, dona Helvécia quer que eu trabalhe com homem!
- E, por que não trabalha?... – provocou.
- O senhor conhece a razão.
- Helvécia já está impaciente!...
- Não nasci pra ser puta! – acrescentou:
- Um rapaz me convidou pra roça...
-Por que não foi?
- Ele parece gente boa, mas...
- Mas... mas... o quê?
- Não conheço o moço. Morar numa roça, só quando se gosta e confia!
- O tempo traz estabilidade e bem-querer...
- Desculpe-me doutor, estou aqui por ter amado e confiado num cafajeste!
- Agora, eu que lhe peço desculpa!...
Doutor José Maria conhecia sua história tão bem quanto Helvécia – ele combinara com a caftina, em segredo, pagar a diária da moça -, que a acolheu, porém, queria ter certeza dos sentimentos verdadeiros de sua protegida. Ele não esperava que a moça corresse para os seus braços, porém, aguardava com paciência que ela baixasse a guarda e quando ela decidisse ir pra cama, se não fosse por amor, fosse por bem-querer, sem pressão, movida por afeto e admiração.
Doutor José Maria, agora, tinha um pé em Helvécia e outro no “Sport Bar” do seu amigo Juca. A dança lhe atraía - Fred Astaire tupiniquim - e ajudou-lhe conquistar o coração da irresistível sergipana. Quando saía do escritório, finais de semana, dirigindo seu “Aero Willys” modelo americano, deslumbrado que nem jovem, ia buscar Maria José para mais uma noitada dançante e só deixavam o cabaré, quando um ou outro não se aguentava mais de tanto rodopiar no salão.
Eles eram felizes...
Naquela manhã, no escritório, doutor José Maria é tomado de surpresa com a presença de Juca. Embora Juca lhe recorresse de vez em quando para solucionar problemas de ciúme e bebedeiras dos seus clientes – alguns coronéis se agrediam, causando danos materiais e físicos -, em geral, para pagamento de prejuízo, naquele dia, ele chegou nervoso e cedo ao escritório
- Já soube!?
- O quê?
- O crime!
- Não soube de nenhum crime!
-Ontem, à noite, no “Sport Bar”... – o advogado perde a paciência
- Homem de Deus, desembuche!
- Assassinaram Vavá Leal! – e completou:
- Tão me acusando!...
- Você prestou um serviço à sociedade. Parabéns!
- Mas, eu não matei!!!
 
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 15/09/2012


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr