(*) Os herdeiros políticos – uma nova classe.
R. Santana
Augusto Comte sistematizou os estudos sociológicos, dando origem a uma nova disciplina, a Sociologia. Os filósofos gregos, palidamente, esboçaram-na. Platão e Aristóteles dividiam as classes sociais a grosso modo em: classe política, classe dos cidadãos livres e os escravos. Na Idade Média, as classes sociais eram divididas em: a realeza, o clero, os militares, a burguesia e a plebe. No século XX, com a divisão de dois mundos, capitalista e comunista, as classes sociais passaram a ter nomenclatura mais didática: classe alta, classe média e classe inferior. É comum nos livros de Sociologia, o desenho duma pirâmide em que na base está a classe pobre, no meio da pirâmide a classe média e no topo, a classe rica. Esta foi a divisão padrão das nações capitalistas e democráticas. As nações do bloco comunista que pregavam a igualdade social (teoricamente), só existia o governo representando o estado e os proletários, representando o povo, além duma pesada hierarquia burocrática partidária.
Max Weber definiu a classe social como um conjunto de pessoas com as mesmas condições e igual situação. Há quem diferencie a classe social da estratificação social, esta seria, “a estática da hierarquia” e a primeira, representando “a dinâmica do conflito”.
Deixando de lado os critérios nada científicos dessa divisão de classe social e os conceitos científicos de Comte e Durkheim, diríamos que, hoje, temos, somente, a ”classe política”, a “classe do poder econômico” e a “classe dos eleitores e não-eleitores”. É evidente, que, o leitor desta matéria, não irá considerar essas digressões teóricas e essas ideias estapafúrdias. Estamos apenas, tecendo esses comentários iniciais para levantar o tema central deste texto: os herdeiros da política, uma nova classe que aos poucos, vem ocupando considerável espaço.
Na semana anterior, solicitamos aos leitores da Internet, que é necessário que o nosso voto seja consciente. Hoje, queremos chamar a atenção para o espúrio processo político familiar que vem sendo explorado por alguns políticos de fazer seus parentes mais próximos seus herdeiros políticos. Faz-nos lembrar do período das Capitanias Hereditárias. Os donatários passavam para os filhos e outros descendentes, todas as terras doadas pelo rei D. João III, inclusive, os poderes jurídicos e administrativos que exerciam em nome dele.
É comum, filhos, netos, sobrinhos, primos, esposas, empunharem a bandeira do parente político, principalmente, daqueles que estão no exercício do poder. É claro que como cidadão, qualificado eleitoralmente para o exercício do cargo público que postula, não existe impedimento legal, entretanto, deveria ser proibido, notadamente, para aqueles em que os parentes estão no exercício de um cargo executivo - prefeito, governador ou presidente.
Além da imoralidade, do uso da máquina pública na campanha (não existe legislação que não se dê um jeitinho...), muitos herdeiros políticos são despreparados intelectualmente, alguns tem uma vida pregressa abominável. Outros, nunca prestaram serviço à comunidade e não se identificam com o povo para conhecer os seus anseios. Desejam tão somente, continuar gozando das benesses, da sinecura que o poder lhes dar. Existem candidatos desabridos que usam o nome e o sobrenome da família e se preocupam até em sair bem na foto com o seu protetor...
No nosso estado e em particular, em nossa região, se proliferam esses exemplos. Pessoas por pura presunção se lançam candidatos e o mais lamentável, são eleitos pela ignorância política de alguns e a necessidade da maioria. Mesmo com os limites da legislação política, o tráfico de influência, os favores públicos, as promessas de emprego e o uso da máquina pública são fartamente distribuídos e manipulados.
Não se pode também, tomar o nosso artigo como regra geral, verdade última, há pessoas com vocação e competência políticas, independentemente, do seu vínculo ascendente. É preciso, portanto, que saibamos distinguir as verdadeiras vocações e competências, daqueles que só querem se locupletar do dinheiro público e das falcatruas articuladas em gabinetes.
Há um dito popular que “se conselho fosse bom não se dava, vendia”, pode ser um daqueles adágios que se usa em muitas situações, mas sabido é aquele que aprende com experiência do outro. Por isto, é necessário que repitamos e saibamos dar o devido valor ao voto. Esses caras-de-pau só deixarão de subestimar a inteligência dos eleitores quando forem reprovados e alijados pelo voto nas urnas.
O voto é a expressão máxima da vontade do povo. Se mandarmos esses oportunistas às favas, lhes demonstrar que adquirimos ao longo do tempo, senso crítico, discernindo o joio do trigo, eles deixarão de explorar a simplicidade do povo humilde e a boa fé dos incautos.
Autor: Rilvan Batista de Santana
Licença: Creative Commons
Imagem: Google
(*) NOTA: Este artigo combate o processo espúrio que os políticos profissionais usam. Tornou-se praxe em nosso país, pai passar pra filho, neto, irmão e esposa, o seu cabedal de votos. Pai governador, filho deputado federal, esposa senadora...
.
.
.
.