Textos


João Victor

João Victor
R. Santana



Branco, cabelinhos castanhos, enrolados atrás da cabeça, bracinhos rechonchudos, perninhas quase cambotas, três dentinhos rompendo a gengiva superior, dois dentinhos rompendo a gengiva inferior e 10 meses de nascido. Para os desconhecidos, João Victor de Santana Barbosa, para os mais íntimos, Vitinho, para mim, avô coruja: meu Príncipe, meu Pituquinha.
Pituquinha está na fase de descobertas, descobriu que andar é melhor do que ficar no colo, descobriu a liberdade, se estica todo pra descer até que o coloquemos no chão. Ainda não se aguenta nas pernas, não possui o equilíbrio das crianças maiores, sai cambaleando, igual ao bêbado de Chaplin, agarra-se no sofá, no freezer, na geladeira, no pé da mesa e quando lhe ofereço ajuda, ele rejeita, com linguagem que aprendi a entender:
-Nhan... nhan... nhan... – já sei que é “não”, “me deixe”, “quero andar sozinho...”
Gozo de prazer, falo para os meus botões: “o pimpolho tem personalidade”, “é independente”, “não será um banana”, “é nordestino”, “é cabra da peste”, “Macho com eme maiúsculo”, “não é machochô, tchê!” Porém, quando lhe ofereço algo que lhe agrada: uma maçã ou um pedaço de pão ou um pão-de-ló, ou um pedaço de bolo ou um iogurte, ele abre sua linda boquinha e pede imitando a música de Thaeme e Thiago:
- Thá... thá... thá... – mais compreensível fica quando lhe mostro a fotografia do seu pai:
- Pa... pa... pa... papá... papá! – ou de sua mãe:
- Ma...ma...ma...ma... mamã... mamã! – o moleque só fala certinho, quando fala de si mesmo:
- Nenê... nenê... nenê!
Mostro-lhe o banner do avô e da avó e repito uma dezena de vezes:
- Vovô... vovô... vovô... vovô! – então:
- Vovó... vovó....vovó... vovó! – mas quem disse que o safadinho atende ao vovô? Olha para o pôster do pai e da mãe mais acima:
-Pa... pa... pa... ma... ma... ma... papá... mamã!!! - não me incomodo com a rebeldia do meu Pituquinha, fico feliz.
Não sei se fosse rico, faria com João de Santana Barbosa, o que Joseph Patrick Kennedy fez com os filhos John Kennedy e Robert Kennedy: - desde cedo os preparou para ser presidente dos Estados Unidos e ainda teve a ventura de vê-los no Senado e na Casa Branca. Não que eu tenha ojeriza à política e aos políticos. Atualmente, é politicamente correto quem malha os políticos, não se separa o político ruim do bom político, todos têm o mesmo estigma de improbidade, cada vez mais se diminui o prestígio político dos políticos, mas que seria do povo se não houvesse ninguém para administrar as coisas do estado? Os interesses do povo? Seria um estado de anarquia! Ruim com eles, pior sem eles...
Aristóteles foi sábio quando disse que “o homem é um animal político” no sentido mais expressivo da palavra, portanto, não existe restrição de meu Príncipe vir a ser político, o importante, é que em qualquer lugar que a vida lhe reserve, ele esteja feliz e faça os outros estarem felizes.
Leitor amigo, deixemos os prolegômenos, de conversa mole, e, partamos para os finalmentes como diria Odorico Paraguaçu, prefeito de Sucupira e voltemos falar de meu Pituquinha que neste momento encontra-se de sono solto... E, de vigília, eu observo cada riso que ele faz e recordo-me da velha Maria portuguesa que noutra situação parecida, dizia: “Patrãozinho, ele está a sonhar com os anjos”.
No dia 29 de agosto de 2012, o meu Príncipe fez 10 meses que veio ao mundo, e, justamente neste dia, começou andar de verdade, antes, ele puxava-me pelo dedo e saíamos a caminhar ou fazíamos da andadeira suas pernas. Não anda mais como o bêbado de Chaplin, que cai aqui e cai acolá, mas firme percorre todos os cantos da casa com muita alegria – apenas, temos que ter cuidado com os batentes.
Filho é um pedacinho da gente, um presente de Deus, mas o neto é o amor maior, a sublimação da existência, o prazer da vida e a doçura da velhice. Não trocaria o prazer de brincar com João Victor, sentados no piso da minha sala ou lhe escanchando no ombro, trotando como um cavalinho, por um prêmio da sorte grande porque o dinheiro ao invés de prazer e momentos de felicidade, o dinheiro me traria preocupação e tormento, portanto, é melhor o prazer de ouvi-lo choramingando dizer:
- Nhan... nhan... nhan... nhan!... – ou pedir cantando:
- Thá... thá... thá... thá!... – então, clamar por seus pais:
- Pa... pa... pa... ma... ma... ma... papá... mamã!!!

Autor: Rilvan Batista de Santana

Academia - Academia de Letras de Itabuna-ALITA
 
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 16/08/2012


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr