A VOZ QUE NÃO QUER CALAR
A VOZ QUE NÃO QUER CALAR
R. Santana
Às vezes, fico pensando que sou um dos mais ignóbeis brasileiros, principalmente, quando leio e ouço depoimentos de pessoas inteligentes, letradas, defendendo com unhas e dentes os abomináveis partidos políticos, os maus políticos, os maus gestores públicos, os “caixa dois”, os valeriodutos, a compra de deputados, de dólares na cueca, de sanguessugas. Eles justificam que essas práxis políticas sempre ocorreram e são aceitas naturalmente.
Fico estarrecido ainda, quando o presidente Luis Inácio Lula da Silva, depositário das esperanças do povo desde 2002, reconhece publicamente que essas práticas políticas desonestas são herdadas e o seu governo tem o mérito de levá-las ao conhecimento popular, que o Ministério da Justiça e a Polícia Federal nunca trabalharam tanto para denunciar e incriminar os seus infratores, que “não viu”, “não sabe”, “não autorizou”, “só acredita depois da conclusão dos inquéritos”...
Particularmente, acho um grande sofisma. A Polícia Federal e o Ministério da Justiça têm cumprido o seu papel, sua obrigação, como órgãos de inteligência e atuação do governo, porém, os louros dessas performances devem ser creditados à nova safra de destemidos jovens procuradores do Ministério Público, da imprensa investigativa e independente deste país. Sem a enxurrada de denúncias, de flagrantes da mídia televisiva, esses órgãos do estado e do governo não teriam trabalhado tanto.
Parece-me (pelos altos índices de aprovação do candidato Lula à reeleição) que o povo discrimina o candidato à Presidência do presidente. Este, responsável pela indicação de assessores e ex-assessores que estão indiciados por crimes de corrupção e malversação do dinheiro público, é vítima de companheiros que traíram sua confiança. O candidato à Presidência é fanfarrão, cheio de si, ”light”, vaidoso, com pensamento e práticas burguesas, vai de vento-em-popa nas pesquisas, alçando alturas estratosféricas na intenção de votos, com uma eleição praticamente definida no primeiro turno.
Com um programa de governo pífio (vai fazer muito mais...), com promessas não cumpridas, o candidato Luis Inácio Lula da Silva apresenta somente dois cartões postais de sua administração de quatro anos: o ProUni e a Bolsa Família. Programas assemelhados e ampliados dos seus antecessores.
Em saneamento básico, rodovias, segurança pública, assentamentos agrícolas, moradia, educação e saúde o governo atual deixa a desejar, só se doravante esses programas serão executados.
Na Amazônia (pulmão do mundo), continua a derrubada irracional das florestas. O comércio clandestino e predatório de plantas medicinais e animais em extinção ocorre numa desenfreada agressão à natureza. Fazendeiros de outros estados estão transformando as florestas em fazendas de pecuária, não obstante os esforços e a ingerência da ministra Marina Silva e o trabalho diuturno do IBAMA. É uma situação que vem se arrastando ao longo de décadas, todavia, não se pode formar uma mentalidade civilizada, não predatória com base nos erros do passado, é preciso que os mecanismos de governo sejam acionados e haja implementação de campanhas educativas ambientais e a punição judicial e policial dos infratores. Porém, a solução definitiva só será possível se o governo tiver políticas de investimentos e programas bem definido de proteção à natureza. Investimentos maciços a exemplo do Sistema de Vigilância da Amazônia - SIVAM.
Por isso, não entendo porque a maioria dos eleitores brasileiros tende avalizar novamente um governo que representa, neste momento, tudo que combateu num passado recente, da ganância dos banqueiros ao desestímulo do mercado produtivo com uma política fiscal escorchante e juros elevados.
Alguém pode contra-argumentar que este artigo é tendencioso, que tudo que foi dito sempre ocorreu, que a corrupção é tão velha quanto a humanidade, que as promessas políticas são tão falsas quanto uma nota de três reais, que o Brasil foi construído por degredados expulsos de Portugal e aventureiros que dizimaram os nossos índios, levaram o nosso ouro e a nossa madeira e o governo português continuou enforcando os nossos compatriotas que se sublevavam às espoliações lusitanas. Tem razão os que pensam assim, todavia, vivemos numa democracia e o voto é o instrumento decisivo no aperfeiçoamento das instituições públicas. Quando votamos, além do exercício de cidadania que exercemos, estamos delegando poder público e endossando um ideário. Se somos traídos na nossa boa fé, é ser obtuso na repetição do erro. É o velho ditado: “errar é humano permanecer no erro é burrice”.
Diante da incompreensão das massas, do comodismo de alguns, do oportunismo deles, esta voz e a de milhões de brasileiros não querem calar.
Postscriptum: estava fechando esta matéria, quando surgiu mais um novo escândalo no governo e no seu PT. Envolvendo um churrasqueiro das festas do Presidente. Um diretor do Banco do Brasil, um segurança e um dos coordenadores da campanha à reeleição.
Alea jacta est!!!
Autor: Rilvan Batista de Santana
Nota: este artigo tem, apenas, valor histórico. Hoje, com o julgamento do mensalão pelo STF, talvez, tenha alguma valia pra pesquisa.