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O assalto

O assalto
R. Santana


Um dito do povo diz que “pimenta no olho do outro é refresco”, não me tinha dado conta disto até um mês atrás, quando na saída do banco, fui assaltado por um gajo alto, franzino, vestido de jaqueta, que me deixou traumatizado, estressado, com síndrome do pânico e medo de andar na rua. Hoje, não saio mais de casa sozinho, sobretudo, ir ao banco sacar alguns trocados pra feira, jogar conversa fora com os amigos ou tomar um shop na praça de alimentação do Shopping Jequitibá, estou pouco e pouco, tornando-me antissocial, um misantropo a pulso.
Porém, amigo leitor, eu atribuo os maus bocados que passei aos meus saudosos professores da língua portuguesa que preocupados com as filigranas da língua, ensinaram-me o culto e desprezaram o vulgo, aí, nem aprendi a língua culta, muito menos, a linguagem do malandro, portanto, faz-se necessário dizer aos estudiosos atuais do português que aprendam a sabedoria do bandido e não façam pouco das lições do ENEM!...
Bem, leitor, como diria o prefeito de Sucupira, Odorico Paraguaçu, deixemos de lado os “considerandos” e partamos para os finalmente:
- Mano, passe o bobo! – O revólver cutucando as minhas costas...
- O quê?
- O redondo!
- Mas, eu nunca dei... – Desapertando o cinto...
- Véi, não é isso não! – Acrescentou:
- O relógio, véi! - Ufa!... Dei-lhe o relógio e ameacei sair...
- Fica na manha, véi, senão, pipoco!
- Eu já lhe dei o relógio! – Tomei fôlego.
- Passe dindin! – Dei-lhe os últimos trocados.
- Fuleiragem, véi!
- Hein!?
- Quero dindin, não couro de rato!
- Foi o que sobrou da luz e da água!
- Papo de elefante, véi!
- Depois que paguei as contas... – Quase chorando.
- Tá tirando onda comigo, véi! Quer comer capim pela raiz!? – Cutucou o revólver ainda mais, e, acrescentou:
- Isto aqui (com o dinheiro na mão) não paga uma pedra, to na seca, como vou curtir um barato, véi!?
- Juro por Jesus Cristo! Não tenho mais um níquel!...
- Fica na moral véi... – E, como se estivesse falando pra si:
- L`oruló babá ómó, ati ómo mimó. Amim!... – Não entendi bulhufas, mas sei que foi providencial:
- Pintou os canas véi!!! – Deu-me um trompaço...
O bandido correu doidamente. A polícia não lhe deu trégua, pega aqui, pega acolá, enfim pegou-o, enquanto isto, os populares me ajudavam levantar do chão e me crivavam de perguntas que eu não sabia responder, eu não queria responder, aliás, eu não tinha voz nem cabeça para respondê-las...

Gênero: Conto.
Autor: Rilvan Batista de Santana
Academia de Letras de Itabuna - ALITA
 
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 03/08/2012
Alterado em 03/08/2012


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr