Compromisso
Compromisso
R. Santana
Do alto dos seus 83 anos de vida bem vivida, tio Pedro, diz que o homem não é obrigado assumir nenhum compromisso, porém, uma vez assumido, tem o dever de cumpri-lo, pois se ele for useiro e vezeiro em negligenciá-lo, chegará um momento, que sua palavra não valerá um tostão de mel coado.
A tradição popular diz que longe é o tempo que o homem não assinava nota promissória, nem cheque, nem duplicata, nem escritura, mas um fio de bigode e a palavra selavam qualquer compromisso moral, financeiro e material. Hoje, se a assinatura não é cumprida, a palavra menos ainda, por isto, foram criados instrumentos de proteção ao crédito e identificação do indivíduo e empresa (CERASA, SPC, CPF, CNPJ, SNPC), além doutros registros que permeiam as relações do grupo, da comunidade e da sociedade, mesmo assim, os velhacos se multiplicam...
O baiano Rui Barbosa foi profeta e feliz no seu pensamento quando disse: “De tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos maus, o homem chega a rir-se da honra, desanimar-se de justiça e ter vergonha de ser honesto”. É engraçado quando os políticos jactam-se de sua honestidade, de honrar sempre os seus compromissos, como se a honestidade deixasse de ser uma obrigação, mas uma qualidade extraordinária, uma virtude de poucos.
A falta de compromisso de certas profissões é nociva, às vezes, fatal. Quantas pessoas morrem nos hospitais por negligência profissional de médicos e enfermeiros? Quantos sinistros naturais poderiam ser evitados se os responsáveis pela atividade pública fossem comprometidos? Quantas mortes no trânsito seriam evitadas se os motoristas fossem comprometidos com as regras de trânsito? Quantos desvios de comportamento de crianças, jovens e adolescentes seriam evitados se os profissionais da educação fossem mais comprometidos? Eis alguns exemplos, dentre muitos, que a falta de compromisso pode acarretar.
O compromisso deixou de ser imediato para ser mediato. Hoje, qualquer jovem ou adulto, desde cedo, tem consciência que se não tiver compromisso com sua qualificação profissional, será rejeitado no mercado de trabalho. Atualmente, não basta a qualquer profissional ter formação intelectual ou prática, é necessário que ele tenha em mente a necessidade (compromisso) de se recapacitar, sempre, enquanto estiver na ativa.
Os compromissos afetivos e sociais são de somenos importância, uma boa justificativa recompõe a confiança entre as partes. Quem ainda não deixou a namorada ou o namorado na praça a ver navio? Qual o convidado que não faltou a uma festa de um amigo, feito o compromisso? Qual o estudante que não foi vítima de professor irresponsável? Qual a entidade filantrópica que não tem problema de frequência com seus membros?... Todavia, se o sujeito acostuma-se tratar e não cumprir, pouco a pouco, sua credibilidade irá para o beleleu porque quem não é honesto no pouco não é honesto no muito, é o que diz a sabedoria popular.
Os princípios éticos, morais, bom senso, todos se jactam de tê-los, no entanto, alguns preferem negligenciá-los, quase sempre, a falta de caráter acontece com aqueles em que a vergonha é moeda rara. O homem de princípios morais arraigados, de conduta ilibada, não foge aos seus compromissos mesmo que surja um contratempo em sua vida, o homem de vergonha mesmo diante do imprevisto, de um infortúnio, ele esgota todas as possibilidades até cumprir o seu dever.
Hoje, alguém dá um “chapéu”, enganar, faltar ao compromisso, corromper e usar o “jeitinho brasileiro”, a “Lei de Gérson”, é não ser trouxa, é esperteza, é regra geral, é sabedoria, é maioria; porém, cumprir o compromisso, ser honesto e não querer levar vantagem, é ser bobão, é ser ultrapassado, é ser trouxa, é ser Mané, é minoria!...
Autor: Rilvan Batista de Santana - Academia de Letras de Itabuna - ALITA
Itabuna, 04 de julho de 2011.