Carta para Eglê Santos Machado
Itabuna, 24.05.2011.
Querida Amiga Eglê:
Obrigado por ter lido o meu ensaio: “O homem nasce para ser feliz?...” É a primeira intelectual que tece alguns comentários sobre esse ensaio. Sua avaliação me encheu de orgulho, pois, considero-lhe uma poetisa de grandes recursos literários e intelectuais.
Porém, quero a priori, lhe dizer que não tenho nada contra a Igreja Católica, considero uma instituição de importância única na história da humanidade, todavia, não se pode negar historicamente, os seus percalços, não basta pedir “perdão”, ou reconhecer “mea culpa”, faz-se necessário mudança de atitude exegética, filosófica, política, administrativa – a igreja é a maior detentora de imóveis do planeta -, uma igreja menos dogmática, menos conservadora, mais evoluída, mais atual, uma igreja que corresponda às necessidades espirituais e temporais do homem do Século XXI.
Não li o livro: “Em nome de Deus” de David Yallop, mas li sua entrevista em que ele coloca em cheque a morte por infarto do miocárdio de Albino Luciani, o “papa sorriso” João Paulo I e desenvolve a tese de morte por envenenamento, após o papa João Paulo I descobrir integrantes da máfia e escândalos de corrupção financeira no seio de sua igreja escudado pelo Banco Ambrosiano, mais tarde, Ambrosiano Veneto.
Não se pode negar, agora, que a igreja católica dos Estados Unidos, irá pagar por perversões sexuais de padres e bispos, milhões de dólares em indenizações de pedofilia. É sabido, também, que o papa João Paulo II foi leniente, menos contundente e mais diplomático nesse processo de apuração, hoje, essas vítimas tiveram com o papa Bento XVI a força da reparação moral e material.
Como cristão não posso negar a Ressurreição de Jesus Cristo, seria um contrassenso, mas como livre pensador, questiono alguns pontos da Bíblia, inclusive, a Ressurreição de matéria corruptível: “E, não o crendo eles ainda por causa da alegria, e estando maravilhados, disse-lhes: Tendes aqui alguma coisa que comer? Então, eles apresentaram-lhe parte de um peixe assado, e um favo de mel; o que ele tomou, e comeu diante deles”. (Lucas: 24: 41-43). Ora, o espírito não é matéria corruptível, não come nem bebe...
Minha amiga Eglê, nós concordamos quando achamos que Deus não irá resolver os meus e os seus problemas, as nossas desditas ou um Deus que pune, vingativo, um Deus personalizado, mas discordamos quanto à natureza de Deus, por isto, eu sugeri a teoria: “O mundo das possibilidades”, em três estágios de possibilidade: a) Necessárias, b) Contingenciais e c) Reais. Não são possibilidades de oportunidades pessoais, mas possibilidades lógicas, metafísicas e existenciais. Por isto, Eglê, sugiro-lhe um estudo isento, mais aprofundado, mesmo que o texto seja longo, afinal, não se deve desprezar as premissas e considerar somente a conclusão.
A nossa igreja nunca bateu palmas para Darwin, Galileu, Copérnico e outros gênios da humanidade que contrariaram os seus princípios, é sabido por todos, se patrocinou recente um estudo sobre a Evolução, acredito que foi por desencargo de consciência ou outros interesses, mas esses textos jamais serão inseridos na sua exegese porque contrariam o princípio da criação de Adão e Eva.
Não tenho formação teológica, não coloco em dúvida a minha fé, sou partidário do dito que diz: “Religião, política e mulher não se discute se abraça”, porém, não tenho fé ingênua nem romântica, por isto, eu sugeri o ensaio: “O homem nasce para ser feliz?...”, onde discuto a felicidade do homem, seus problemas existenciais, a religião, o valor da simbologia, Jesus Cristo e Deus.
Fiquei feliz querida amiga, quando li: “... essa é a frase final do texto e reflete o meu pensamento sobre o assunto símbolo”, pelo menos concordou comigo quando digo no final do Capítulo II: “Faz-se necessário dizer que essa simbologia contribui para materializar o que é transcendente”, porém, Eglê, tu não me surpreendeste como boa católica, que vai à missa todos os dias e participa da eucaristia, o uso da imagem é uma segunda natureza!...
Eu partilho do princípio do livre arbítrio, não acredito em destino nem determinismo, quando nascemos, somos “uma tabula rasa”, à medida que crescemos e amadurecemos, somos as nossas circunstâncias.
Enfim, demonstrei no ensaio “O homem nasce para ser feliz?...” – Leia-o em link nos meus textos, na coluna à direita deste blog - , argumentos e fatos que o homem, por natureza limitada, ele não nasce para ser feliz, mas para usufruir momentos de felicidade, com sua devida vênia, permita-me discordar do desfecho de sua avaliação do texto quando a poetisa diz: “E volto a afirmar: O HOMEM NASCE PARA SER FELIZ, SIM! Você pode até não perceber, mas você, Rilvan, um homem feliz. Muito feliz!”, porém, digo-lhe: ele e ela não são felizes, mas têm momentos de felicidade!...
Do seu amigo com admiração e respeito,
Rilvan Batista de Santana