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Pedagogia do limite

Pedagogia do limite

R. Santana




São animais em extinção, não, minto, são animais extintos. O leitor poderá estranhar chamá-los de animais, mas somos o quê? Somos animais inteligentes. O único animal que raciocina e o único que rir!...
Quis propositadamente chocar o leitor, chamá-los de “animais extintos”, num primeiro momento, mas vou esforçar-me para escrevinhar um texto em homenagem aos mestres, aos professores do passado.
Claro que não é um texto parecido com o filme produzido e dirigido por James Clavell e estrelado pelo talento do negro Sidney Poitier. O filme ao “Mestre com Carinho” é um ensaio pedagógico e uma lição de postura, de autoridade, de vocação, de desprendimento e compromisso de um jovem professor negro que troca uma carreira promissora de engenheiro para cuidar e ensinar numa escola de jovens adolescentes indisciplinados e desajustados no bairro pobre de East End em Londres.
Não sei se eles conheciam Vygotsky, Henri Wallon, Piaget, Alfred Binet, se tinham lido Lauro de Oliveira Lima, Paulo Freire e Anísio Teixeira, acho que não, porque sua didática e sua pedagogia eram: o caroço de milho, a régua quilométrica, a palmatória e o castigo de joelho.
Aqueles métodos de aprendizagem, hoje, são considerados antipedagógicos, não didáticos, bárbaros, brutais e que causavam danos psicológicos e intelectuais nos pimpolhos para sempre. Porém, o tempo, senhor da razão, veio comprovar que essas práticas, parecidas barbáries, contribuíram e foram decisivas na formação moral e intelectual desses educandos, mais, muito mais, do que a escola e a família sem limites atuais.
Içami Tiba, professor, médico, psiquiatra e a coqueluche do momento - uma versão atualizada dos professores do passado -, em seus best-sellers: “Disciplina: limite na medida certe” e “Quem ama educa!”, mostra que essa nova pedagogia, essa metodologia sem disciplina e essa família sovina no “não” e perdulária no “sim”, que não impõe limite aos seus diabinhos, ao invés de educá-los, transforma-os, plagiando Rousseau: - naturalmente bons em adolescentes “aborrecentes”, desajustados e adultos delinquentes e criminosos.
Hoje, o professor em sua maioria, é despreparado, desatualizado, descompromissado, sem autoridade, mercenário, refugo doutras profissões - não teve competência pra ser médico ou coisa que valha, se homizia na pedagogia e assemelhados -, não faz jus ao título de magister.
Agora, depois da Internet, a coisa degringolou, a quantidade de informação que circula em tempo recorde é impressionante. O professor não é mais detentor do conhecimento, pois o que ele sabe, qualquer criança que manipula um mouse obtém nos sites de pesquisa em exigüidade de tempo.
Professores do naipe de Nair Assis Menezes, Challup, Lindaura Brandão, Antônio Pazos Garrido, Manuel Garrido, João Arbages, Osni Capistrano, La Borda, Flávio Simões, Anália São Mateus, Alzair Martins, Josué Brandão, Helena dos Anjos, Lítza Câmara e tantos outros que me falha a memória, são profissionais que escreveram uma nova página na história da educação de Itabuna, substituí-los, é desígnio do tempo e da vida, mas sucedê-los jamais!...
Caro leitor, dentre os educadores citados, Ewerton Alves Challup, professor Challup, foi um dos mais ilustres precursores da pedagogia do limite em Itabuna. Homem austero no cumprimento do dever, tido pela meninada daquela época como “durão”, “carrasco”, estigmas que se perderam no passado, hoje, sua memória é preservada, suas ações educativas reconhecidas pelos os seus ex-alunos, pelo denodo e dedicação que imprimia em sua prática do dia-a-dia, pelo seu compromisso, pela sua inteligência, por ter contribuído durante longo tempo, na formação moral e intelectual dos seus alunos, por ter sido exemplo de educador e por ter sido eleito pela família daquela época, a educação dos seus filhos.
O desprendimento por dinheiro do mestre Challup, que dispensava qualquer aluno do seu colégio que não comparecesse às sabatinas ou não fizesse suas tarefas, suas lições, com a conivência e negligência dos pais, lembra Euclides, o pai da Geometria Plana, que certa feita, um dos seus discípulos o questionou se “aquilo” servia para ganhar dinheiro, foi o bastante para que o gênio da matemática lhe desse umas moedas e o mandasse embora...
Mesmo quando a asma lhe botava na cama, ele não descuidava dos alunos, D. Mariazinha, sua esposa e professora da escola, o substituía. A meninada não tinha folga e os estudantes do “Admissão ao Ginásio”, menos ainda. O “Admissão ao Ginásio” era um vestibularzinho que se fazia de todas as disciplinas para admissão ao ginásio. O estudante que não soubesse Gramática, História do Brasil, Geografia e Matemática na ponta da língua (exames escritos e orais), não entrava no ginásio. Extinto o curso de “Admissão ao Ginásio”, democratizaram-se os analfabetos funcionais.
A chamada para Ewerton Challup era imprescindível, principalmente aos sábados, se o projeto de gente faltasse, ele, pessoalmente, ia a casa do aluno cobrar a motivo da ausência, se a ausência tivesse motivo fútil, o preço da falta seria dobrado.
O exemplo Challup justifica a pedagogia do limite. Os tempos são outros, mas psicólogos, pedagogos e orientadores que compartilham do pensamento do professor Içami Tiba, contribuirão, decerto, para resgatar valores há algum tempo esquecidos e a escola continuar como de outrora, a casa do saber e do conhecimento, influindo na formação moral e intelectual, formando bons cidadãos para sociedade.

Autor: Rilvan Batista de Santana
Gênero: Crônica (registrada).



 
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 10/07/2012
Alterado em 03/08/2012


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr