A simplicidade da vida
A simplicidade da vida
R. Santana
Eu não bebo nem fumo não para esnobar saúde, mas me falta saúde para beber e fumar. Acho bonito quem bebe e fuma sobriamente... Claro, que o objetivo desta crônica não é fazer apologia do tabaco e da bebida, porém, quero invocar o ato de pitar um cigarrinho ou tomar uma pinga pra almoçar como exemplos de simplicidade de vida. Não se pode elogiar o excesso, a dependência de álcool e de fumo, pois o excesso de álcool e de fumo, mina a saúde do homem e ao invés de prazer lhe traz sofrimento.
A vida não é riqueza, a vida não é poder, a vida não é beleza, a vida não é glamour, a vida é simplicidade... O filósofo Albert Camus foi feliz quando disse: “Antes, a questão era descobrir se a vida precisava ter algum significado para ser vivida. Agora, ao contrário, ficou evidente que ela será vivida melhor se não tiver significado”. Os significados sociais não fazem a vida do homem melhor, mas engessa o homem em emaranhado de compromissos e obrigações que lhe roubam a naturalidade de viver. O homem é feliz quando não quebra o cordão umbilical, o retorno à sua origem, é que lhe dar significado de vida.
Quem já não teve a experiência depois de dias ou meses de trabalho, se espichar na areia da praia, o sol a pino, quase despido, e sentir-se o homem mais feliz do mundo?... Então, numa fazenda, gozar de felicidade com o cheiro da terra invadindo as narinas depois de uma chuva rápida de verão?... Ou, numa noite de lua cheia, deitado no alpendre da casa escarafunchando o céu?... E, ainda, acordar com o canto dos pássaros e um roseiral, cheio de orvalho, lhe invadindo a janela, incendiando o quarto de perfume?... Quem de peito aberto, não percorreu o campo sorvendo o ar e gozando da natureza sem objetivo?... Quem ainda não enterneceu em seu braço, um recém-nascido?... Isto é a simplicidade da vida, o encontro do homem consigo mesmo, com a natureza e com Deus!...
A ciência e a religião não se sustentam se os seus ensinamentos têm a complexidade dos eruditos. Se os ensinamentos de Jesus Cristo não fossem para sábios e ignorantes, não seriam tão atuais ao longo do tempo. Aliás, a Bíblia é o livro que explica a criação do mundo, a origem do homem, a dor, o sofrimento, a Aliança de Deus com sua criatura numa linguagem natural, compreensível à mente mais simples à mente complexa de um sábio.
A teoria da Relatividade tornou-se popular, não pelo seu objeto abstrato e metafísico, mas pela tradução menos complexa de Einstein. Se Sócrates não fosse, no seu tempo, o filosofo da rua, da praça, do povo ou se os seus conceitos de conhecimento, de ciência e de moral fossem complexos e eruditos, ele não teria sido marco da História da Filosofia.
Deus criou o homem numa lógica infinita, mas não faz muito tempo que a ciência obteve do homem o seu mapa genético, e algum tempo antes descobriu que a vida é sistêmica, embora a vida comece na célula e no interior do átomo, é lá que a menor partícula energética dá origem à vida, portanto, a vida é singela no seu início.
A felicidade absoluta não existe, o homem é suas circunstâncias, porém, o homem terá felicidade mais duradoura quando se desvencilhar de todos os produtos artificiais e priorizar os naturais e eleger o estilo de vida primitivo, todavia, não é aquela vida do homem primitivo, do homo sapiens ou do homo erectus, mas usar a tecnologia e a ciência como meio e não como fim.
Talvez, o homem moderno não acredite que isso é possível, mas lhe dou como exemplo o investidor Warren Buffett, um dos homens mais ricos do mundo, que não trocou a casa modesta que mora há 60 anos por um palácio suntuoso, além de não ter criado os filhos nababescamente e vida de bilionário, mas lhes deu uma educação e vida espartanas, elegendo para os filhos valores morais e intelectuais duradouros, não uma vida de glamour, bonita, mas falsa e efêmera...
O bilionário Warren Buffett é tão simples que segundo a imprensa falada e escrita, não usa celular, não tem computador pessoal e dirige o seu próprio Cadillac DTS, além de ter deixado como herança, 83% de sua fortuna para uma instituição de caráter social.
Porém, a simplicidade da vida não será obtida enquanto o homem não se desvencilhar da usura, da ganância, se desvencilhar do ter e não do ser, e, souber compartilhar os meios produtivos, a tecnologia e a ciência, de maneira social e racional.
Não se faz aqui, propaganda da miséria, tudo que foi conquistado é bem do homem, mas ele terá momentos duradouros de felicidade se atingir um grau de educação comunitária, de partilha, aí, a felicidade será um estado de espírito absoluto, enquanto esse estágio não for adquirido, a simplicidade da vida não será adquirida e a maior parte da humanidade viverá para sempre infeliz.
Autor: Rilvan Batista de Santana – Academia de Letras de Itabuna - ALITA