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Diário de um homem

Diário de um homem
R. Santana


02 de janeiro, Ano Cristão de 2007– Hoje, sinto-me angustiado. Pela manhã, diante do espelho, percebo que o tempo tinha passado e eu estava envelhecido. As mechas brancas de cabelo e os vincos no rosto e no pescoço, confirmavam o que eu não queria admitir: o tempo estava imprimindo suas marcas. Não fui ao escritório, eu decidi que iria à cidade a pé, xeretar aqui e acolá, conversar com letrados e ignorantes para tentar descobrir os meus medos e as minhas angústias.
Sento no banco do jardim. Começo analisar como as pessoas passam apressadas, olhando para o relógio, numa luta contra o tempo para não chegarem atrasadas ao trabalho. Pela primeira vez, observo que cada pessoa é peça de uma grande engrenagem que funciona harmônica e sincronizada. Todos nós, ricos e pobres, brancos e pretos, letrados e ignorantes, cada um vive em função do outro. Se não houvesse o padeiro, não teríamos pão na mesa. Porém, foi preciso que alguém a quilômetros de distância, plantasse o trigo, ceifasse e vendesse para o dono do moinho que o industrializou. Depois, vendeu para a cooperativa. E a cooperativa repassasse para o dono da padaria e o padeiro fizesse o pão e que alguém comprasse para comê-lo. Isto é, operações e interações subjacentes do dia-a-dia, movem essa grande máquina que é a sociedade humana.
Comecei acreditar que Theilard Chardin tinha razão quando afirmou que no homem cruzam três infinitos: “o infinitamente pequeno, o infinitamente grande e o infinitamente complexo”. Pascal, filósofo francês, definiu o homem: “um nada diante do infinito e um tudo diante do nada, um elo entre o nada e o tudo, mas incapaz de ver o nada de onde é tirado e o infinito para onde é engolido”. Embora tivesse na cabeça esses princípios que definem a pequenez do homem e seu destino, neste dia 02 de janeiro, queria tirar as minhas próprias conclusões da essência do homem. Melhor seria não absorver conceitos conhecidos desses sábios, porém, ouvir o homem em seu estado de ignorância ou o homem da rua.
- Doutor, não trouxe o carro para lavar? – Perguntou-me um jovem “flanelinha”, assim que cheguei. Ele sempre lavava o meu automóvel – Não, não é preciso. Quando eu voltar da fazenda, você fará uma limpeza geral, no momento, é como pegar água em um samburá, dinheiro jogado fora. O rapaz concordou. Fiz-lhe uma pergunta inesperada: - rapaz quanto você ganha por dia? - Doutor, não há um tanto certo, tem dia que ganho pra farinha; outro, para carne. Se tivesse um emprego, teria salário fixo, chovesse ou fizesse sol. Aqui, doutor, sou igual a Tarzan, vivo de aventura nesta selva de pedra e cimento. – Gostei da desenvoltura do rapaz. Ele apesar de simples, era articulado e pragmático, fiz-lhe uma proposta: - Saulo (tinha me dado o nome), hoje, não pense em disputar seu sustento, vamos ficar papeando, quando terminarmos, dar-lhe-ei a melhor féria que poderia obter trabalhando o dia todo. – Doutor, o tempo está chuvoso, não ganharia tanto neste dia, por isto, não aceitarei nenhum dispêndio, papear com o senhor é um aprendizado. Se quiser dar-me algo é por conta do seu coração e não do meu trabalho. – Falaremos nisto depois. Diga-me, qual o seu grau de escolaridade? – Não posso medir o meu conhecimento. A minha professora foi minha mãe. A minha escola, foi o bairro que nasci e fiquei homem, agora, estou estudando na faculdade do mundo. Não tive escola doutor, sou um autodidata da vida. – Ele era a pessoa que procurava...


03 de janeiro, Ano Cristão de 2007 – A conversa com Saulo tinha me deixado impressionado. Falamos sobre amenidades: futebol, música, mulher, cotação do dólar, enfim, jogamos conversa fora. Fui trabalhar. Passei mais um dia no escritório. Fiz e peticionei alguns recursos jurídicos. Pelo fato dos juízes estarem em recesso, em férias, combinei com minha secretária que agendasse os meus compromissos, doravante, a partir das 14:00h.

04 de janeiro, Ano Cristão de 2007 – Novamente, fiz o mesmo trajeto do primeiro dia. Fui conversando com conhecidos e colegas pela cidade. Parei na mesma praça e sentei-me no mesmo banco. Tive a impressão que Saulo não estava trabalhando.

- E aí Saulo, de folga outra vez? – É doutor, o mar não está pra peixe... O tempo esses dias, não está ajudando. Quando chove é essa pasmaceira. – Então, façamos o seguinte: eu também, estou de folga do escritório esses dias de férias forenses, que tal sentarmos ali naquele bar (apontei-lhe o bar), e enquanto conversamos, tomaremos um vinho ou whisky para animar os ânimos? – Doutor, não lhe prometo acompanhar na bebida, mas, enquanto o senhor bebe seu whisky, eu tomo um refrigerante, combinado? – Tudo bem, não tenho nada contra o abstêmio e a sobriedade – encaminhamos para o bar.
Pedi um whisky com gelo e um refrigerante. Depois de um gole, voltei à carga sobre a nossa conversa de dois dias antes: - Saulo, com tantas coisas ocorrendo neste mundo de meu Deus, fico me perguntando: “o quê é o homem? De onde vem e para onde vai?” São perguntas que todos fazem, são conceitos primitivos que redundam num mesmo ponto. As respostas, às vezes, têm conotações religiosas. As respostas racionais, se apreendem mas também, não se comprovam. – Saulo era todo ouvido. Observei pelo canto do olho, que ele queria falar, deixei-o que tomasse iniciativa:
- É doutor, como todo mundo, tenho me questionado sobre a origem, a missão e o desfecho do homem. Melhor seria que aceitássemos a brincadeira de Diógenes, que depenou um frango e disse: “eis aí o homem de Platão!... “ - Confesso que não entendi, porém, não quis dar bandeira, ele completou: - Platão dizia que o homem ´”é um animal bípede sem pena”, Diógenes o satirizou.- Saulo, você tem uma definição das características físicas e por extensão biológica. Falo do homem em sua essência. Do homem metafísico do ser em si. – É um assunto inesgotável. Tenho umas idéias malucas. São idéias de uma autodidata. Não sei se vale a pena externá-las... – Insisti que ele deveria, que seu depoimento não iria passar daquela mesa de bar. Afinal, quem éramos nós para criar um novo modelo teórico de um assunto que varava séculos e tinha tido à atenção de filósofos e cientistas? Ele terminou se convencendo:
-Doutor, vou usar o termo limbo que é um espaço, um lugar onde ficavam as crianças, que sem culpa, tinham morrido sem batismo e ficavam lá enquanto expiavam o seu pecado original, segundo a tradição católica do Século XIII. Acho que o homem fica em forma de energia (alma para alguns), numa espécie de limbo, aguardando seu processo de transição, que é a passagem do estado de energia para o humano e retornando (na morte), em forma de energia.
O homem sob o aspecto da Ética, da Psicologia, da Gnosiologia, o homem é moral, é sentimento, é conhecimento e razão. Para mim a essência do homem está no bem e no mal. Para Rousseau “o homem nasce naturalmente bom e a sociedade o corrompe”. Com todo respeito que tenho ao pensamento francês, acho que o homem nasce naturalmente mau e a sociedade, através da educação, o torna necessariamente bom. Quando o processo educacional é falho, os instintos primitivos prevalecem e o indivíduo torna-se nocivo à sociedade. Não estou defendendo o maniqueísmo, Deus e o Diabo, forças antagônicas do bem e do mal. Estou querendo lhe provar doutor, que o homem é naturalmente mau e a sociedade imprime-lhe ao longo do tempo, sentimentos de solidariedade, de amizade, de gratidão, de fraternidade e de amor. Quando o indivíduo é egoísta, não tem consciência moral, tem desvio de personalidade, é “frio”, como diz o vulgo, é que o seu processo educacional foi falho, exceto, quando ele é portador de um doença mental patológica genética, suas atitudes são aleatórias e seu comportamento alienado. Com o progresso da ciência, essas áreas afetadas do cérebro não demorarão ser substituídas por “schips”. Eles irão substituir essas funções comportamentais incorretas. – Eu fiquei boquiaberto, não esperava que um simples trabalhador informal, tivesse idéias e conceitos filosóficos tão inteligíveis e um pensamento tão estruturado. Fiz-lhe uma provocação: - rapaz, você estudou em que universidade? – Doutor, hoje, com tanto livro espalhado pelo mundo e tantos meios de comunicação, basta ter gosto pela leitura, que não ficará desinformado. – Saulo, outro dia continuaremos nosso papo, irei lhe explorar!...

05 Janeiro, Ano Cristão de 2007 - Sexta-feira, último dia útil da semana para quem lida em repartições públicas. Pela manhã recebi alguns clientes, mais papo do que trabalho. À tarde dei uma passada nos cartórios para conversas com agentes da justiça. Na saída do escritório passei num barzinho conhecido e entre cervejas e Whiskys, fui para casa às 20:00 h.

06 de janeiro, Ano Cristão de 2007 – Passei o dia na biblioteca de casa, procurando respostas para as minhas inquietudes da vida.

07 de janeiro, Ano Cristão de 2007 – Fui à praia com a mulher e os filhos. Comemos, bebemos, jogamos bola, tomamos banho de mar, à noite, estava um caco.

08 de janeiro, Ano Cristão de 2007 – Deixei todos compromissos por conta da secretária e fui à fazenda. Instruir-lhe que se algum cliente procurasse por mim, que o agendasse para terça-feira, à tarde.


09 de janeiro, Ano Cristão de 2007 – Tive necessidade de lavar o carro. A estrada da fazenda tinha muitas poças de lama, por mais que tentasse desviar a camionete delas, a lama sujava os pára-lamas. Dei uma ducha no carro e fui procurar Saulo para que ele o secasse, lavasse os tapetes de borracha, e fizesse o resto da limpeza. Fui com a intenção de provocá-lo:

- Tudo ok, meu caro Saulo? – Doutor o senhor sumiu, nunca mais proseamos...
- Fui à fazenda. Vou fechar o cacau no armazém e precisava ver a quantidade na barcaça e quantas arrobas de cacau o pessoal já tinha ensacado.
- Doutor, com a vassoura-de-bruxa, cacau não é mais um bom negócio. Se tivesse dinheiro, seria pecuarista. Para o boi de corte não falta comprador. Além do leite, produz vários derivados.
- Saulo, não se iluda. Diz a sabedoria popular que “rapadura é doce mas, não é mole”. Bom negócio sempre é o do vizinho... Particularmente, não gosto de gado (crio umas duas cabecinhas para o leite da criançada). Para você ter lucro em gado, é preciso que você tenha muita terra, muito capim, muito gado, vacinas, manejo de pasto, é um inferno!...
- Então Doutor, prefiro não ter tanta dor de cabeça. Vou seguir o ensinamento de Cristo: “Não junteis para vós tesouro na terra, onde a traça e a ferrugem os consomem”. – Lá vem você com sua filosofia de vida. Por falar em Cristo, qual sua opinião sobre religião?
- Doutor, sou um autodidata. O meu pensamento é falho, não tenho um embasamento teórico. Fico vermelho externando essas baboseiras, acredito que o senhor irá rir delas depois...
- Rapaz, não posso rir daquilo que estou sendo beneficiado. Não sei se concordo com tudo que você me expôs da última vez, entretanto, gosto de lhe ouvir. Se não gosta de religião, falaremos doutra coisa.
- Doutor, Karl Marx disse que religião “é o ópio do povo”. Ele era muito materialista, pensava somente na relação do capital e trabalho e nos meios produtivos. Não acho que a religião entorpece o povo, deixa o povo parvo. Claro que fazemos restrições às certas denominações religiosas. Tem gente usando a ingenuidade e o desespero dos incautos, ladrões com roupa de bispo.
Falei naquele dia que o homem é naturalmente mau, não foi? Acho que o senhor não se esqueceu. Também lhe falei que é através da educação que o homem se torna necessariamente bom. A religião está intrínseca nesse processo educacional de formação moral e intelectual do homem.
A religião está centrada no dogma, na doutrina da fé. Ela não torna o homem estúpido e entorpecido como pensava Marx. A religião dá ao homem expectativas transcendentais pela fé e pela razão. Alguém me disse que: “religião, política e mulher, não se escolhe se abraça”, se for escolher uma dessas sem defeito, não irá encontrar.
As históricas religiões asseguraram o limite do homem e do estado. Se não houvesse princípios religiosos rígidos, não teriam contido a sanha de muitos megalômanos, déspotas e criminosos travestidos de estadistas. As religiões estabeleceram os princípios da justiça, os “Dez Mandamentos” contribuíram para formação de sociedades antigas estribadas na lei e no direito.
Os líderes religiosos iluminaram a humanidade. Não se pode assegurar se foram seres divinos. Cristo, Maomé, Moisés, Buda, Confúcio e tantos outros foram marcos incontestes da História Universal. Não se pode negar que Cristo e Maomé dividiram o mundo.
Maomé foi um grande profeta, um iluminado, não obstante ter sido um homem comum, com mulheres, filhos e homem de negócio.
Cristo é o único que teve uma vida santa e sem mácula. Viveu e pregou o amor. Seus ensinamentos mudaram a face do mundo. Ele é a maior figura histórica. Não se sabe, porém, se ele era o Filho primogênito de Deus como proclamava-se. Em momento nenhum instigou a violência. As guerras religiosas feitas em seu nome, decorreram da sede de poder do homem.
Isso, doutor, é o que penso sobre a religião e sua função histórica e social – Saulo, mais uma vez gostei do seu discurso, obrigado.

10 de janeiro de 2007- Passei o dia no escritório, saindo somente, no intervalo de almoço. Profissionalmente, foi um dia bom, fomos contratados por novos clientes.

11 de janeiro de 2007- Tive que deslocar-me para uma cidade do interior para prestar assistência jurídica a uma cliente.

12 de janeiro de 2007 – Último dia útil da semana. Fui ao escritório à tarde. Na saída combinamos com uns colegas para uma pescaria na minha fazenda no domingo.

13 de janeiro de 2007 – Fui cedo convidar o meu amigo Saulo para pescaria de domingo.

14 de janeiro de 2007 – Eu e a esposa, dois filhos e mais três colegas e Saulo fomos em dois carros para minha fazenda. Observei que Saulo estava igual um peixe fora d´água. Procuramos ambientá-lo para que ele se sentisse bem. Tive ajuda dos filhos e da mulher nesta tarefa, procurei incuti-los que o meu amigo era uma pessoa simples, mas especial. E que só tínhamos a ganhar com sua amizade. Tivemos um dia excelente. Tomamos banho e pescamos pela manhã. À tarde, jogamos xadrez e dominó. No crepúsculo vespertino, nós, os homens, voltamos ao ribeirão para tomar banho. Agora, Saulo já brincava com os meus filhos e com os colegas de maneira natural, tinha havido uma interação espontânea, entre ele e os demais. Depois da janta, alguns foram jogar. Eu e Saulo sentamos no alpendre da casa e começamos conversar. Depois de fazermos um balanço daquele dia, quanto lúdico foi, provoquei o meu amigo para que pudéssemos fechar o assunto do homem, da religião e de Deus:

- Saulo, falamos do homem e sua ligação com Deus através da religião. Você falou de alguns líderes religiosos, porém, está em voga, algumas religiões monoteístas no momento, a exemplo do Zoroastrismo, Sikhismo e Bahaismo que não foram citadas. Elas não têm importância histórica? E, não falamos de Deus:
- Claro, elas estão inseridas em algumas culturas. Não as citei pelo fato delas representarem em sua maioria uma filosofia de vida do que propriamente uma doutrina religiosa, uma exegese bíblica, em que a palavra divina é exaustivamente analisada. Os fundadores dessas religiões as personalizaram. A exemplo do confucionismo, elas formam um corpo de preceitos morais e não de dogmas e princípios religiosos como o cristianismo, o judaísmo e o islamismo.
Não sou deísta, nem agnóstico ou ateu. Também, não sou adepto do panteísmo que encontra Deus em todo lugar. É um tema que requer uma discussão ou uma “descrição” pormenorizada. Poderei tecer alguns comentários despretensiosos sem comprovação matemática. São idéias assim como as que expus entre nós. Elas não poderão transpor o limiar de sua fazenda, senão, vão nos taxar de loucos ou ridículos.

- É um compromisso que vou levar para o túmulo. Sei que é um assunto delicado e inesgotável. Jamais o homem vai explicar Deus sem passar pelo crivo da fé.
- Doutor, o seu raciocínio é lógico e demonstra que aceita Deus com suas características religiosas conhecidas: onisciência, onipresença, onipotência... não é?
- Foram esses os conceitos que aprendi na escola. Por isto, gostaria de ouvi-lo, quais foram os resultados de suas pesquisas? Se você tem um pensamento tradicional, encerremos o assunto. Tem-se algo diferente e quer dar-me a honra de tecer comentários, serei todo ouvido.

- A honra é minha. Quem na condição de autodidata não gostaria de conhecer o pensamento estratificado do conhecimento convencional? Acho que qualquer ser humano que tem um pouquinho de miolo na cabeça sentir-se-ia feliz ouvi-lo. Mas pelo que entendi, grassa no senhor o pensamento comum dos homens de ciência.
- Então, se é diferente, desembuche!...

- Comecei observar historicamente, que todos os povos, os mais primitivos, criam em um deus. Os pagãos representaram deuses, semi-deuses, em ferro, em bronze em ouro e nas mais diversificadas figuras animais ou humanas. Nos poemas, Ilíada e Odisséia, de Homero, encontramos uma lista enorme de deuses: Apolo, Hera, Tétis, Afrodite, Poséidon, Ares, Dionísio, Eros, Zeus, etc. Todos eles tinham suas atividades voltadas para alguma coisa. Um era deus do amor, outro do vinho, da beleza, da sabedoria... isto é, cada deus tinha uma função específica. Até os nossos indígenas tinham os seus deuses com base no Sol, na Lua, na Terra... Nos seus rituais, eram invocados os deuses para os protegerem da doença, dos inimigos, ajudarem na colheita das plantações e na expulsão dos espíritos malignos e forças nocivas à natureza. O pajé e o xamã, substituíam o bruxo e o padre.
Com base nessas observações, entendi que o homem tinha criado deuses que eram de certa forma cópias daquilo que Platão defendeu na sua alegoria: o “Mito da Caverna”. O nosso mundo é uma cópia de um mundo real em si. Não é a cópia de um objeto particular, porém, a cópia do mundo das idéias como expressão maior do pensamento.
Deus não existe fora de nós, mas dentro de nós. Não é um Deus personalizado. Não é um Pai ou um Filho. Ele é energia inteligente, metafísica, transcendental. Emana dele tudo que existe. Não é um ser ontológico, que se possa explicar a priori, seus efeitos, é que são a posteriori. Poder-se-á dizer que é uma energia causal.
O homem é uma infinitésima potência dessa energia. Poderíamos afirmar que o homem é cópia de Deus como ser criador. Ele é capaz de produzir e gerar idéias de uma realidade a priori. Ele é diferente de Deus porque é potência e não ato.

- Então, meu caro Saulo, então seu Deus é energia, não existe amor, sentimento, que não somos seus filhos? Sinceramente, não gostei de seu discurso para provar a existência de Deus. Então, as promessas de vida eterna não são verdadeiras? O homem não tem espírito? Não existirá uma vida além morte? – Meu caro doutor, não fui explícito e não é fácil passar para o papel e para as pessoas essas idéias, já tentei escrever e não passei de duas linhas. Talvez, tenhamos que deixar para um momento mais inspirado!... – Por favor, Saulo, é somente o final de sua exposição que não ficou clara. Vou mandar trazer-lhe um café, para mim uma bebida, espaireçamos, depois retornemos somente no finalzinho. Prometo-lhe de hoje em diante não mais importunar-lhe, nem que eu tenha um milhão de dúvidas.
- O senhor tem razão, não podemos fazer um corte neste momento por conta da comodidade. Vou tentar responder suas últimas perguntas.
Não diria filho na acepção do dia-a-dia. Diria que somos suas criaturas, somos semelhantes a Ele, como único ser capaz de criar. É apanágio do homem e não doutro animal, a criação e a invenção.
Falei energia, para expressar algo que emana. Ele é amor, é bondade, mas não como entendemos e aprendemos. É como se fosse à essência da essência, algo sublime e de perfeição absoluta.
Acho que teremos outra vida ou outra forma de vida. Não essa vida de sofrimento e limitações. Não existirá reencarnação e a ressurreição será um retorno a essa emanação transcendental e eterna.
Tudo que dissertamos nos parágrafos anteriores, não seria possível se o homem fosse desprovido de espírito, que é uma energia vital que quando deixa a matéria retorna às emanações infinitas.

- Saulo, não posso lhe pedir mais do que eu lhe pedi. Porém, obrigado por tudo. Não é fácil apreender princípios novos, prometo-lhe que farei uma reflexão sobre os seus ensinamentos.

Autor: Rilvan Batista de Santana
Gênero: Ensaio























 
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 05/06/2012
Alterado em 03/08/2012


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr