A eterna juventude - R. Santana
Adolescente, eu li uma parábola intitulada: “Reformador do mundo”. Não me lembro se de Viriato Correia, Emílio de Menezes, Gregório de Matos, La Fontaine, Aristófanes, Esopo... não me lembro o nome, sei que foi um desses pensadores satíricos, humoristas, dramaturgos ou coisa que o valha, sei que não me lembro quem colocou no papel essa história do homem insatisfeito com a criação e a natureza: - Reformador do mundo.
Hoje, pensando também em reformar o mundo, recorri ao Google, enciclopédia virtual, para escrevinhar esta crônica e não ser taxado de plagiador do pensamento alheio e declinar aqui, o prenome, o nome e o sobrenome do homem que teve a coragem de dizer ao Criador que sua obra teve alguns senões ou que por sua natureza infinita, o homem não conhece os seus desígnios e, acha que as coisas poderiam ser diferentes (impossível à sabedoria finita entender a sabedoria infinita), mas para surpresa minha, o Google também o ignora, deita, somente, Paulo Barbosa, que enviou o texto “Reformador do mundo”, mas como todo veículo de comunicação que se preza, ressalva: “autor não mencionado”.
Deixemos de conversa mole, de blá-blá e vamos ao que interessa: reformar o mundo! Leitor, já pensastes como a velhice é cruel? Se tu fores jovem, no frescor da vida, ainda verdinho, queimando óleo 20, tu não darás conta do fardo que Deus deixou para o seu filho nos seus últimos dias de vida. Porém, se tu olhardes para os seus avós ou para o seu vizinho idoso ou da “melhor idade”, ou da “juventude acumulada” (quaisquer que sejam os eufemismos), da direita ou da esquerda, verás que a idade da experiência, da sabedoria, da juventude acumulada (diz o otimista), é a idade da dor aqui, dor acolá, insuficiência cardíaca, insuficiência renal, mal de Alzheimer, mal de Parkinson, diabetes, é a idade do “junta”, junta tudo que não presta num pobre mortal!...
Por isso, resolvi deitar umas idéias no papel e enviar para o nosso Criador. Quem sabe se no próximo dilúvio ou quando essa geração arder na fogueira eterna, na fogueira do inferno e outra geração criada Ele atenderá o meu pleito!... Leitor, não seria interessante se nascêssemos velhos e morrêssemos novos? E a vida não fosse essa bagatela! Que significam vinte, trinta, cinquenta, sessenta, setenta, cem anos de vida diante da eternidade do tempo? Nada!...
Se tu, filho de Adão e Eva, achardes que estou amalucado, adoidado, pinel do juízo, digno de uma camisa-de-força, dir-lhe-ei em cima da bucha que não somos piores que Matusalém, Noé, Adão, Abrão, Sara, que viveram novecentos, oitocentos e não menos do que duzentos anos de vida!...
Se tu, jovem leitor, cheio de ciência na cabeça, tu argumentares que o ano daquela época não tinha trezentos e sessenta cinco dias e algumas horas, que não havia relógio, dia era uma coisa, noite outra, que não havia ano solar, deveria haver ano lunar para plantar e colher, que não havia calendário de doze meses, trezentos e sessenta e cinco dias e seis horas, que Deus não fez o mundo em sete dias de vinte e quatro horas; direi que tens razão em parte, mas contra-argumentarei que os egípcios, os gregos, os israelenses, os fenícios, os medos e outros povos antigos tiveram os seus calendários e muito que se escreveu na Bíblia não é diferente dos tempos de hoje, que o tempo de Deus é infinito, que o tempo do homem é finito, portanto, Matusalém, Noé, Adão, Sete, Caim, Enos, Mahalalel os primeiros homens de Gênesis e que Adão foi pai aos cento e trinta anos e Matusalém aos cento e oitenta e sete anos, chego à conclusão que tudo é um grande mistério e mistério não se discute se aceita, mas continuarei achando que a nossa vida é uma merreca e Deus poderia ter sido mais complacente e ter invertido o tempo biológico do homem.
Que gostosura caro leitor se:
- Compadre, quantos anos têm esse menino?
- Ele está beirando 150 anos, compadre!
-Ele já tirou os dentiqueiros, compadre?
-Ainda não!
-E Francisco, o seu mais novo?
-O Chico tem 350 anos e sua mulher 320 anos, é um casal jovem, tem muito pela frente!...
-Compadre, daqui a 500 anos, eles estarão bem mais moços!
-Se puxar ao avô, vai viver mais de 1000 anos!...
Tu entendeste agora, a minha reivindicação ao Criador? Se nasceria biologicamente velho, com as enfermidades de velho e se morreria novo, bonito por fora, bonito por dentro e alma rejuvenescida, uma evolução às avessas de Darwin...
Se Ele me ouvir, se me deixar reformar o mundo, daqui a um milhão de anos, eu quero voltar pra Terra. Se Deus não me ouvir, que Ele me perdoe em sua bondade infinita, não é ingratidão de criatura, mas dispenso-Lhe essa merreca de vida, preferirei ser barro, ser matéria, ser pó, do que morrer pelancudo, buchudo, brocha, esclerosado, caquético, abestalhado, desfigurado, fazendo xixi nas calças e cagando na cueca!...
Autor: Rilvan Batista de Santana Gênero: Crônica
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Membro da Academia de Letras de Itabuna
Imagem: Google