Textos


Humildade - R. Santana

 

     Dentre muitas virtudes do ser humano, a humildade é que mais me toca. O sujeito arrogante, prepotente ninguém suporta e ninguém o perdoa no erro. O arrogante, ego inflado, dono da verdade, seu saber não tem a mesma grandeza de uma pessoa com a mesma atividade, porém, humilde e cônscio de que até os gênios não têm o domínio de todo conhecimento.

     Nunca me esqueci de uma história de humildade que testemunhei há anos. Quando surgiu a lâmpada fluorescente comprida, eu morava e trabalhava com meu tio Pedro Batista de Santana. Ele tinha um serviço de bar com sinucas, dominós, baralho e balcão de sorveteria, hoje, é a casa lotérica do Bairro São Caetano. Tio Pedro comprou várias calhas com adaptadores, “Starts’ e transformadores para que a iluminação do bar fosse modernizada e chamou Luciano pra executar a instalação.

     Luciano era um sujeito gabola, exagerado, gabava-se ter feito o curso de eletricidade numa escola americana. Luciano, a galinha dele botava 2 ovos por dia. No dia que foi fazer a instalação, chegou depois de meio dia. Fez um desenho de rascunho, subia escada, descia escada, puxava fio pra aqui e acolá, instalou as calhas, mas no momento que acionou os interruptores nada de luz e o tempo ia passando...

     A instalação teria que ser feita pra que um interruptor ligasse todo o sistema, isto é, que todas as lâmpadas acendessem simultaneamente, aí estava o nó do problema. Já eram 16:30 horas, o tempo ameaçava escurecer e Luciano estava mais perdido do que cego em tiroteio. Se anoitecesse sem luz elétrica seria um caos para o serviço de bar e tio Pedro já estava desesperado.

     No canto do balcão um sujeito conhecido pelo nome de “Benzinho” olhava os movimentos de Luciano com a humildade e paciência de Jó, porém, leu no rosto de tio Pedro o desespero devido ao horário e se manifestou:

     - Seu Pedro, se seu eletricista não se incomodar, eu ligo tudo aí em menos de 30 minutos, estou vendo seu vexame... – foi o suficiente para mexer com os brios de Luciano:

     - Você liga essa rede elétrica em 30 minutos?

     - Sim! - Luciano exasperou-se e chamou o desconhecido pra apostar uma caixa de cerveja e mais CR$ 100,00 (cem cruzeiros), Pedro foi o fiador. “Benzinho” :

     - Seu Pedro, eu irei ligar nesse tempo, contudo, o acabamento ficará pra amanhã, pelo tardar da hora – Pedro concordou.

     “Benzinho” pegou a escada, puxa fio aqui e acolá, em alguns lugares passava a fita isolante, colocou as lâmpadas nas calhas, ajustou os “Starts”. Subia e descia a escada com a performance de um artista circense, caminhava pelas peças de madeira pra puxar os fios com a destreza de quem era acostumado fazer aquilo, antes das 17 horas, gritou lá de cima da cumeeira:

     - Seu Pedro ligue o interruptor. O interruptor foi ligado e todas as lâmpadas acesas e o ambiente iluminado, foi uma festa! Luciano ficou com cara de paspalho, ainda tentou justificar-se, mas, não havia explicação para sua incompetência, ignorância e arrogância.

     Na minha atividade de escritor amador há 17 anos que publico nas redes sociais e plataformas, encontro muitos egos inflados que se acham imortais das letras. Sempre lhes digo que escrevo por necessidade da alma, porém, com os pés no chão e quando fechar os olhos tudo vai pra o lixo eletrônico. Tenho consciência que Deus não me deu os talentos de Mário Quintana, Manuel Bandeira, Olavo Bilac, Morris West, Machado de Assis, Drummond, Guimarães Rosa, Mário de Andrade, etc.

     O Sul da Bahia é um celeiro de artistas plásticos (pintura, desenho, gravura, escultura, etc.), juristas, jornalistas, cientistas, pesquisadores, historiadores, geógrafos,  escritores de ficção e poetas, porém, com exceção de Adonias Filho e Jorge Amado, conhecidos no país e no estrangeiro, a maioria absoluta exerce sua atividade a nível local e regional, aqui,  ainda não se produziu um “bestseller’, não é referência no ENEM, não existe obra literária adaptada pra novela da REDE GLOBO, não é matéria da “Veja”, etc. Todos são modestos “imortais”. É insensatez ou puxa-saquismo dizer que a obra de alguém daqui representa uma academia.

     Hoje, é comum a palavra “empatia”, que significa colocar-se no lugar do outro, sentir seus problemas, contudo, pra colocar-se no lugar do outro, é necessário desprendimento, ego desinflado e humildade, sem humildade jamais haverá empatia. O arrogante, o prepotente e o ditador jamais irão sentir a dor do outro.

     Ser humilde não é ser subserviente, lacaio de alguém, incompetente, sem caráter, pau-mandado, personalidade fraca, ser humilde significa cônscio de suas limitações, generoso, compreensivo, consciente que o outro precisa de ajuda e, Deus lhe deu muitos atributos físicos, intelectuais e morais para que compartilhe com seu irmão menos aquinhoado.

     Jesus Cristo deixou-nos um exemplo de humildade há 2000 anos, na ceia da Festa da Páscoa (João 13). O significado de humildade que é emblemático: lavou os pés e os beijou de todos os 13 discípulos, inclusive, o de Judas Iscariotes.

 

Autor: Rilvan Batista de Santana

Licença: Creative Commons

Membro da Academia de Letras de Itabuna - ALITA

Imagem: Google

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 17/02/2024
Alterado em 23/02/2024


Comentários


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr