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O prazer - R. Santana

O prazer

R. Santana

 

          O homem não nasceu para o sofrimento. Deus não ia criar o homem imagem e semelhança para viver atormentado a vida toda pelo mal. Não se entende o princípio que o homem tenha que padecer do nascimento até morrer para resgatar um pecado que não praticou, Eva e Adão que pecaram. O sofrimento da humanidade é grande desde que o mundo é mundo. Além das causas naturais (terremotos, maremotos, ciclones, relâmpagos, enchentes, deslizamentos de morros, etc.), também, o mal de natureza humana existe. O dualismo entre o bem e o mal é uma verdade, o bem é a ausência do mal, ambos são xifópagos, coexistem no mesmo tronco, quando um deles se esconde o outro aparece. Deus é o bem absoluto, não existe espaço para o mal.

          Portanto, se o homem não foi criado para sofrer, mas, ser feliz, a fonte da felicidade é o prazer, por isto, quem mais goza do prazer terreno é o rico. O rico tem tudo que o dinheiro pode comprar, a pobreza não se harmoniza com o prazer, a pobreza se harmoniza com a miséria e o infortúnio. O pobre vive da fé e da esperança da vida eterna, de ser recompensado do outro lado com as bênçãos da Providência. Para o pobre falta tudo menos a vontade de viver. O desejo de viver é que lhe dar energia para lutar e continuar.

          O rico goza de todos os prazeres da vida, mesmo no infortúnio a vida lhe sorri mais. Se o pobre adoece, ele vive o inferno na terra. Claro, o rico não pode comprar a saúde, a vida eterna, não evita a morte, não prolonga seus dias de vida, todavia, eufemiza a desventura e a desgraça enferma. O rico nasce com tantas benesses e privilégios que Jesus Cristo não o condenou, mas deixou a incerteza dele ir para o céu: “É mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus”. Faz-se necessário esclarecer que não é a “agulha” que usamos para coser, sim, o posto alfandegário “Fundo da Agulha” da Judéia, mesmo assim, justifica a palavra do Mestre, era difícil o proprietário do camelo passar pelo buraco da agulha pelos altos valores alfandegários. Os ricos preferiam “cortar” estradas íngremes e sonegar os impostos.

          O cerne do hedonismo é a busca do prazer e evitar o sofrimento. Freud explorou o desejo sexual como forma de prazer e quando o homem não consegue realizar esses desejos sexuais, aí surge o conflito entre as forças do inconsciente e as forças do consciente. A base da psicanálise é a análise dos desejos sexuais e outros traumas reprimidos. Antes da psicanálise, Freud usava a hipnose para suas pacientes de histeria durante o tratamento, era uma forma de suas pacientes livrarem-se do sofrimento psicológico e mental e encontrarem o prazer de viver.

          A busca do prazer é ilimitada, o homem passa a vida procurando o que lhe dá prazer. Ledo engano quem pensa que o prazer está no sexo, na libertinagem, no vício, na promiscuidade, etc. A busca do prazer hedonista é duradora e uma forma de vida moral e intelectual saudáveis. Portanto, são várias as formas de prazer: o prazer mental, o prazer moral, o prazer religioso, o prazer intelectual, o prazer artístico, o prazer esportivo, o prazer do trabalho, o prazer da caridade, o prazer filantrópico, o prazer  criativo,  enfim, tudo que faz o homem feliz.

          A busca do prazer é a busca da felicidade, quem não vive e não faz as coisas com prazer não é feliz. O homem que trabalha por prazer e o homem que trabalha por obrigação, os resultados são diferentes. Quando alguém faz algo com prazer, o tempo passa rápido, quem faz por obrigação, o tempo é “eterno”.

          O que faz o homem deixar a vida social, a posição funcional, o cargo político, o reconhecimento intelectual, o reconhecimento científco e refugiar-se num sítio de plantações ou viver no meio do gado e outros animais, senão, o prazer da individualidade e o desejo de ficar só, em paz. O desejo e o prazer realizam-se independente do espaço e do tempo.

          Quando o homem não tem prazer é vazio de mente e alma. A falta de desejo contribui para uma vida sem sentido. A vida tem sentido quando é prazerosa. O homem com prazer estabelece objetivos, dribla dificuldades e vence. O homem que não tem desejo é um fracassado.

          O hedonismo vem lá da Grécia, em nosso Século esse princípio filosófico continua atual, claro que novos entendimentos surgiram, porém, a essência do hedonismo permanece.

          Um médico amigo, profissional comprometido com a saúde, dono de clínica,  confessou-me em “off” que um dos seus filhos, passou em vários vestibulares (ENEM):  medicina, direito, arquitetura, engenharia civil, etc., chegou cursar alguns semestres em algumas faculdades, mas largou tudo e foi tomar conta de suas fazendas. Hoje, seu filho diz que gosta do que faz e, é feliz, não troca a vida da fazenda por nenhuma profissão liberal.

          A vida sem gosto, sem satisfação, é um fardo insuportável, muitos desejam morrer...

 

Autoria: Rilvan Batista de Santana

Licença: Creative Commons

 

Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 10/03/2023
Alterado em 12/03/2023


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr