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A morte é o fim - R. Santana
 

     A alma é o princípio vital da vida, principiu vitalis, organização imaterial de uma pessoa que finda com a morte, a alma não tem individualidade quando se separa do corpo, sua energia vital se desprende quando cessa a vida. O famoso médium Chico Xavier, num dos seus livros, Nosso Lar, uma paródia do espírito de André Luiz, um romance burlesco que conta as várias fases do espírito após a morte, digressões fúteis, sem comprovação científica e significado de verdade, o livro subsiste aos milhares pela fé dos adeptos de Chico Xavier e a crença de incautos de vida espiritual depois da morte.
     O cristianismo é a única religião que nega a evolução espiritual após a morte. A Bíblia no Novo Testamento (João 3: 6), Jesus Cristo em resposta a Nicodemos, Ele deixa claro que o homem (carne) não é espírito nem capaz de gerar espírito: “O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito”, noutra passagem, Ele subestima a morte e seus mortos: “Deixa aos mortos sepultarem os seus mortos” (Lc 9, 57-60). O cristianismo se embasa no tripé religioso: Deus-Jesus Cristo, vida eterna e ressurreição, nenhum preceito cristão diz que existe vida depois da morte.
     O homem não tem a natureza divina de Deus, sua natureza humana é limitada e a matéria corruptível, por mais que tenha vontade, ele nunca se livrará da morte mesmo com todo o avanço da ciência. A ciência poderá clonar o material genético humano e produzir “homem em série”, porém, não se livrará do cutelo da morte. Duas verdades existem por si mesma: Deus e a morte. Por isto, entende-se que Deus e a morte se impõem por si, são verdades absolutas. Deus é uma possibilidade essencial, existe por si, mesmo que alguém O negue, O reconhece como ideia lógica que subsiste por si. A morte, também, é uma “possibilidade necessária”, ela está na categoria kantiana dos “conceitos puros e fundamentais à unidade dos juízos”.
     Karl Marx deixou escrito que “a religião é o ópio do povo”, isto é, deixa o indivíduo em estado de narcose, ou seja, um pouco alienado, insensível, a vontade mais forte que a razão. Porém, a religião dá esperança ao homem de vida eterna e remissão dos pecados, se não houvesse religião, o homem não teria atingido o estágio de desenvolvimento social e o significado atual de vida, não haveria consciência moral, as leis da sociedade não conteriam a falta de escrúpulos dos mais fortes e de mentes psicopatas. O mundo seria darwiniano de seleção natural se não houvesse religião: o indivíduo mais fraco não sobreviveria. O homem é alimentado pela fé.
     Há milhares de ano, o homem busca o autoconhecimento: “Quem sou? De onde vim? Para onde vou?”, porém, as respostas são evasivas, subterfúgios, o homem não sabe pra que veio nem seu significado existencial, cada indivíduo faz seu destino conforme as circunstâncias e seu livre arbítrio. Conta-se que um jovem homem tinha fixação por riqueza e morava numa pequena república com outros colegas, então, escreveu nas paredes do seu quarto: “Eu sou o dinheiro!!!”, daí em diante, ele perseguiu o dinheiro com tanta sofreguidão e perseverança que o dinheiro lhe buscou na mesma intensidade e o homem ficou muito rico.
     O homem está no mundo como se estivesse num grande deserto sem norte, sem futuro, inseguro e ansioso. A incerteza do amanhã lhe produz pânico e vontade de morrer. Quantas pessoas dizem que a morte é um descanso? Sim! A morte é um descanso, não pelo fato de alguém ter certeza de ir para o céu, paraíso ou inferno, mas é que a morte cessa todos os problemas existências. O filósofo Sócrates comparou a morte com uma noite profunda de sono que todos os problemas existenciais desaparecem nessa noite.
     O mercado de filmes de terror, romances que contam a história do outro mundo, e livros espíritas cresce mais do que qualquer mercado literário. Porém, são histórias de ficção sem nenhum fundo de verdade. A morte é o fim, não existe vida além-túmulo, não existe alma individual, mas, um sistema energético vital que se desprende do corpo nos estertores da morte. Existe uma seita religiosa que sustenta que na morte a alma passa por três passagens: “NEFESH”, “RUACH” e “NESHAMA”, forças metafísicas que se juntam após a morte e formam a alma, conjecturas religiosas...
     Ninguém nunca registou a aparição de uma alma, o registro duma visagem, um ato de assombração, alguém que morreu ainda não voltou para contar a história do lado de lá desde que o mundo é mundo.
     Certa feita um valentão foi desafiado dormir em um castelo mal-assombrado, um castelo de almas... Levou todos os apetrechos para um bom sono, inclusive, armas de fogo e arma branca, todavia, no meio da noite sua valentia deu lugar ao medo, porque do porão ouvia-se movimentos e grasnidos estranhos, o valentão com um lanterna vasculhava algum ser fantasma, em vão, já no alto da escada, a lanterna caiu-lhe das mãos e foi parar no porão, com medo, ele correu pelos corredores a esmo quando algo lhe prendeu e teve uma síncope e morreu. No outro dia, a polícia e o médico legista encontraram o valentão enganchado num prego pelo paletó. Os amigos e curiosos descobriram depois que não havia nenhum fantasma no castelo, mas, muito rato, morcego, lagartixa, etc.
     Alguns fenômenos extra-sensoriais, a exemplo de psicografar mensagens de algum morto, ouvir vozes do além, movimentar objetos à distância, etc., não são fenômenos espirituais, são fenômenos parapsicológicos, quem morreu não mais existe, findou-se, não é entidade espiritual, virou pó: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente” (Gênesis 2:7 – 25), ou seja, significa que do pó Deus lhe deu alma vivente, princípio vital, não espírito eterno.
     O saudoso Óscar González-Quevedo Bruzón, o conhecido padre Quevedo, desafiava alguém mostrar um sinal de alguém que já morreu. Os fenômenos praticados pelos médiuns, de acordo padre Quevedo, são fenômenos extrassensoriais, parapsicológicos, não fenômenos espirituais. Quevedo, padre e parapsicólogo estudioso, com metodologia científica, sustentava que na morte, cessam todas as propriedades vitais e o corpo apodrece logo. Por coerência religiosa, ele acreditava na promessa de Jesus Cristo de ressurreição.
     O fato de asseverar que a morte é o fim, eu não teci comentário sobre a existência de Deus-Jesus Cristo, pois Deus é uma ideia que subsiste por si, o final do parágrafo 3º., esclarece de maneira sucinta a existência de Deus: “ Deus é uma possibilidade essencial, existe por si, mesmo que alguém O negue, O reconhece como ideia lógica que subsiste por si”. Talvez, não seja um Deus personalizado, um velho de barbas brancas, sentado em um trono no firmamento. A crença de Deus-Jesus é substanciada pela fé e evidência lógica e razão.
     As crenças espirituais de reencarnação de Allan Kardec e a metempsicose (reencarnação de pessoas, reencarnação em animais e até em plantas) de Pitágoras, subsistem mais por tradição e fé dos seus seguidores que por significado teórico. Nenhuma pessoa de bom senso irá acreditar que terá uma vida espiritual além-túmulo ou voltará reencarnado noutra pessoa para completar sua evolução espiritual.
     Enfim, a morte é o fim do homem e a pedra sepulcral é seu lugar eterno.


Autoria: Rilvan Batista de Santana

Membro da ALITA
Licença: Creative Commons

Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 11/02/2021
Alterado em 23/08/2023


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr