Textos



O empreendedor
R. Santana
 
Itabuna nasceu sob o signo do trabalho, do cacau e do sangue. Os grileiros tomaram conta das terras através da bala e dos caxixes nos tribunais e expulsaram os pequenos posseiros e tornaram-se grandes fazendeiros. Nessa época de Tabocas, Itabuna não passava de um pequeno arraial nascido de um amontoado de casebres num lugar chamado Burundanga. Naquela época, o Sul da Bahia estava infestado de sergipanos, alagoanos, pernambucanos, mineiros, até gente do Sul do país, porém, quem fincou o progresso e o desenvolvimento nesta terra que já foi do cacau, foi sem dúvida, os sergipanos que tangidos pela miséria de sua terra, com mala e cuia vieram aventurar a vida na lavoura do fruto dos deuses o "Theobroma cacao", na Região Sul da Bahia. Cacau produzido pelas mãos calosas e determinação de trabalhadores de todos os rincões do país. Naquele tempo, Deus presenteou esta terra com o primeiro empreendedor, Firmino Alves, que com a morte do seu pai José Alves, aumentou a produtividade de suas fazendas, adquiriu outras tantas, construiu residência em Tabocas, fez pousada e enviou convites significativos para os profissionais liberais de Salvador, como advogados, médicos, professores, “dentistas”, pedreiros, alfaiates, etc. Alguns anos depois, rico e líder carismático, conseguiu desmembrar Tabocas de Ilhéus e em 1910, ele batizou este chão promissor com o nome de Itabuna. Os parágrafos anteriores foram pra justificar que esta cidade foi construída graças aos visionários empreendedores sergipanos, a exemplo de Henrique Alves, Paulo Nunes, José Oduque Teixeira, Júlio Sergipano, José Carlos Peixoto... Este contador de história descobriu recente um desses empreendedores sergipanos e que me permitam os leitores apresentá-lo com sua história de vida, exemplo de vida, uma grande promessa empreendedora no setor empresarial da gastronomia itabunense: Geraldo dos Santos Lima. Geraldo Lima nasceu em Itabaianinha, cidade sergipana, de apelidos: "INN" "Princesa das Montanhas". Itabaianinha encontra-se na Região do Vale do Rio Real. Geraldo Lima é de uma geração bem distante à geração de Firmino Alves, não foi atraído pelo fruto dos deuses “Theobroma cacao”, mas foi atraído pelo oásis do progresso da civilização do maior estado do país: São Paulo. Lá, trabalhou limpando chão de um restaurante, fez um curso de garçom no SENAC e foi promovido à gerência, mas, atraído pelos fumos da moderna Itabuna, deixou a contragosto seus patrões paulistanos e desembarcou em Itabuna. Naquela época, a terra dos frutos de ouro, a terra do cacau, já era um dos principias pólos de desenvolvimento da Bahia. Aqui, inicialmente, trabalhou de garçom no “Baby Beef”, pela presteza e educação com o público cliente, ele chamou a atenção do saudoso jornalista Manoel Leal, uma das lideranças políticas mais polêmica daquela época. Daí em diante, as portas dos empresariados da comida se abriram e Geraldo Lima foi trabalhar na “Churrascaria de Nego Veio” e ficou lá 8 anos como gerente. Nego Veio vendeu sua churrascaria e um posto de gasolina e foi embora para o estado de Espírito Santo, lá, ele abriu uma nova churrascaria, fez de tudo para que Geraldo Lima o acompanhasse, porém, ele já estava preso à cidade de Itabuna por afeição e amizade. José Carlos Peixoto Há um provérbio popular: “a quem Deus prometeu vintém, não dá dez réis”, desempregado, sem dinheiro para um negócio no ramo de comida que lhe valesse a pena, contudo, esperançoso e de pensamento positivo, a Providência lhe enviou um Mecenas, não, Caio Cílnio Mecenas, que foi o protetor das artes e das letras do Século I a.C., o conselheiro de Augusto o imperador romano, mas um Mecenas sergipano e itabunense de coração, o empresário José Carlos Peixoto, de codinome "Peixoto". Peixoto lhe ligou, que frente à fábrica Nestlé, junto de um dos seus postos de gasolina, havia um galpão pronto para uma churrascaria. Geraldo foi lá e gostou e comunicou a Peixoto que lhe disse:
- Se gostou, monta lá uma churrascaria!
- Como, Peixoto? - acrescentou:
- Sem dinheiro pra comprar os materiais, instalação...
- Quanto custa pra montar a churrascaria?
- Cem mil reais! - Peste! Tudo isso? - Geraldo pensou consigo: "vai dar chabu...", todavia, foi surpreendido com o que veio depois:
- Você tem uma lista dos equipamentos? - A churrascaria foi instalada e ficou funcional e bonita, quando Peixoto lhe deu posse:
- Agora, é com você...
- Geraldo lhe perguntou:
- Vou ser o quê?
- Dono!
- Dono!?
- Dono! Pelo seu profissionalismo e liderança à frente da "Churrascaria Nego Veio." - atordoado e tremendo, Geraldo lhe perguntou:
- E o aluguel?
- Quanto você pode pagar?
- Dois mil reais!
- Negócio fechado. Ah, vou lhe dar 5 meses de carência, estar bom!? - responder o quê?
Isso ocorreu há 12 anos, negócio de pai pra filho, o empresário não aplicou somente R$ 100.000,000 (cem mil reais), sim, R$ 10.000.00 (dez mil reais) mais. Os frutos desse empreendimento, produziram as churrascarias "Boi Gordo" e uma "Central dos Pescados". Hoje, suas empresas geram 48 empregos diretos e mais ou menos 150 empregos indiretos. Uma empresa média para os padrões atuais, porém, bem dirigida por Geraldo Lima e seus auxiliares com sucesso. Ele diz que gosta do que faz, que é um privilégio atender bem todos os seus clientes, independente da cor, gênero, religião e ideologia política. Além de empresário de sucesso, ele é um "gentleman", socialmente diferenciado, vai de mesa em mesa perguntando se o cliente está bem servido, quando oportuno, puxa a cadeira para que a dama ou cavalheiro sente-se comodamente. Se um garfo ou uma faca cai, não chama com afetação um funcionário para trocá-lo, com presteza, ele soluciona o problema. Sua gentileza atrai cada vez mais clientes para suas churrascarias, a condição sine qua non para o segredo de seu sucesso comercial: atendimento, qualidade da comida e preço. Este trinômio fez da "Boi Gordo" uma das principais churrascarias de Itabuna. Enfim, não foi à toa que escolhi esses 2 personagens para tese da minha matéria sobre empreendedorismo: Firmino Alves, não o que consolidou a fundação de Itabuna, mas o Firmino Alves empreendedor do Século XX, que poucos o conhecem historicamente como empreendedor e Geraldo dos Santos Lima, empreendedor moderno, carismático, nosso conterrâneo sergipano, que aqui chegou tangido pelas más circunstâncias de Itabaianinha, aqui, constituiu família, aqui, tornou-se empresário, aqui, fez amigos e nenhum inimigo, aqui, foi acolhido pela sociedade itabunense, daqui, pra o gozo de férias em Itabaianinha, cidade sergipana, a "Princesa das Montanhas", situada na Região do Vale do Rio Real, daqui, só sairá pra eternidade e roga a Deus que esse dia esteja longe, muito longe.



Autoria: Rilvan Batista de Santana
Licença: Creative Commons
Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 24/12/2019
Alterado em 25/12/2019


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr