Textos


Fernando Gomes Oliveira - R. Santana

(O poder corrompe o homem)


          Conheci Fernando Gomes nos anos 70, nas reuniões do antigo Movimento Democrático Brasileiro – MDB. Naquela época, ele se apresentava como “vaqueiro”, fazendeiro de gado e cacau. Quando havia desencontro de ideias dentro da diretoria do partido, presidida pelo saudoso Daniel Gomes, ele deixava o recinto esbravejando que sabia cuidar de suas vacas, não fazer política. Porém, o tempo iria se incumbir que, ele é mais político do que fazendeiro e cumpriu-se dessa vez, “ipsis litteres”, a sabedoria popular: “... a quem Deus prometeu vintém não dá dez réis”, ele seria nomeado secretário de administração algum tempo depois por José Oduque Teixeira, prefeito de (1973/1977).
          Esse ato de José Oduque Teixeira de nomeá-lo secretário de administração municipal, desagradou os intelectuais da época e a elite conservadora, mas Oduque é um homem de muita sensibilidade e seu feeling deu certo. Ninguém acreditava que um “vaqueiro” fosse desempenhar com desenvoltura e competência essa função de uma das maiores cidades do interior baiano. Além disto, Fernando de 3 palavras, ele falava 2 erradas. Conta-se que num salão de cabeleireiro na Avenida Cinquentenário, dois clientes fizeram uma aposta graúda que se Fernando falasse 3 palavras corretas em 10, um deles, ganharia a aposta, não demorou muito, ele chegou para fazer a barba, o cabeleireiro perguntou-lhe: “... álcool, talco ou quer que molhe?” e, Fernando: “Cuma?”, daí em diante, o apodo de “Cuma” não saiu mais da boca do povo, “Cuma” caiu no gosto do povo, hoje, é sua segunda identidade, “Cuma” é folclórico...
          A criatura tornou-se maior do que o criador, Oduque que foi um dos melhores prefeitos de Itabuna, ao longo do tempo se apagou politicamente, hoje, ele está no ostracismo, no desterro político definitivo. As novas gerações não conhecem Oduque, enquanto seu pupilo voou longe: prefeito 5 vezes, 3 vezes, deputado federal, e, corre à boca pequena que é pré-candidato para eleição de prefeito de 2020. Certamente, os tempos são outros, mas, ele é um homem de sorte e quem tem sorte, cria galinha no pé do monte e o ovo sai rolando até em cima.
          Porém, não seria de bom grado sua reeleição, o poder ao longo dos anos, satura, produz vícios e artifícios, corruptos e corruptores. Hoje, ele não possui mais o mesmo pulso, a mesma autoridade e determinação de antes, tempo em que seus secretários tremiam na base quando algo não dava certo e teria que enfrentá-lo. Naquela época, ele acompanhava in loco, diuturnamente, todas as obras públicas. Agora, ele delega tudo aos seus secretários, em particular, o secretário de administração, o secretário de governo e a secretária de assistência de social. Noutros tempos, os secretários não passavam de figuras burocráticas, ele centralizava todas as decisões administrativas e de governo, ou seja, o apego ao poder não morre, porém, a rotina do poder cansa, desgasta.
          Mas, se Fernando não tem mais fôlego para administrar como nos seus primeiros mandatos de prefeito, seus opositores não podem subestimar sua inteligência e habilidade políticas: não é do PT, no entanto, foi quem mais trouxe obras pra Itabuna com o governador Rui Costa (PT), no mês que findou (26.08.2019), ele inaugurou o Teatro Municipal Candinha Dória, velha aspiração de poetas, de artistas plásticos, de trovadores, de poetas de Haicai, de dramaturgos, isto é, todos os artistas da palavra e do som da nossa terra tupiniquim.
          Não obstante sua aparente desmotivação na ingerência dos problemas cotidianos do município, ainda lhe pesam processos de improbidade administrativa que, ele irá enfrentar no próximo ano, ano de eleição. Segundo as más línguas e a imprensa opositora, a Justiça Eleitoral não lhe concederá registro, portanto, potencialmente, não será candidato, logo, não haverá reeleição.
          Não é fácil para alguém que está há 40 anos gozando das benesses do poder, mamando nas tetas da vaca prefeitura, voluntariamente, ele se desapegue dessas mordomias, seja generoso, seja menos egoísta, seja menos vaidoso e tenha menos apego ao poder, tenha grandeza para contribuir na inserção de novos métodos de trabalho e novas ideias administrativas, compreender que não é mais imprescindível ao desenvolvimento da cidade.
          Urge a mudança do executivo itabunense e que o povo saiba escolher em 2020, que escolha gente diferente, escolha candidato a prefeito que não roube e não deixe roubar, um prefeito que não pratique o nepotismo sob forma disfarçada, que não permita a sinecura, que pense no bem comum, não nos seus interesses inconfessáveis.
          Itabuna de mais de 100 anos de existência não precisa de “jardineiro”, nem pintor de meio-fio. Claro, que a parte estética é fundamental, uma cidade bonita chama a atenção dos visitantes, as pessoas sentem-se bem com sua beleza. No entanto, a cidade itabunense tem outras necessidades prementes, a exemplo de incrementar o comércio, de estimular o pequeno empreendedor, de estimular os prestadores de serviço, de isenções tributárias e condições físicas para novas empresas e indústrias de fora, no linguajar economês: gestor que gere riquezas com políticas públicas de emprego e renda.

 

Dois anos depois:

          Existe um ditado popular que diz: “...quem quer ser bom morra”, infelizmente, só enxergamos as qualidades do outro depois de morto, em vida, não sei se por inveja ou despeito, temos dificuldade de aceitar o sucesso do outro, não é regra, mas geralmente, é essa a conduta humana.

          Em 24 de julho de 2022, no Hospital Aliança em Salvador, morreu Fernando Gomes Oliveira de uma bactéria que provocou uma crise hepática. Não teve um sepultamento igual seu antecessor, José de Almeida Alcântara, porém, teve todas as honras de um chefe executivo municipal: hasteamento da bandeira no paço municipal e luto decretado pelo prefeito Augusto Castro, presença do governador Rui Costa, velório no Teatro Candinha Dória, uma de suas últimas obras.  

           Fernando sempre será lembrado pelas inúmeras obras que fez em Itabuna: Hospital de Base Luis Eduardo Magalhães, Maternidade da Mãe Pobre Ester Gomes, viadutos, escolas na periferia, ginásio IMEAM, “Vila Olímpica”, municipalização da EMASA, usina asfáltica, infraestrutura de água e esgoto em toda cidade, etc., etc.

          Que a terra lhe seja leve e sua morada eterna seja sob à sombra do Onipotente Deus.

Autor: Rilvan Batista de Santana
Licença: Creative Commons 

Att.:

Fiz uma reedição deste texto 03.12.2022

Rilvan Santana
Enviado por Rilvan Santana em 04/09/2019
Alterado em 04/12/2022


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr